Sunday, September 30, 2007
Em "In the Name of the Father", na cela de Daniel Day-Lewis e Pete Postlethwaite, há um emblema do Sport Lisboa e Benfica.
Saturday, September 29, 2007
O teu convite
O teu convite
ainda me sabe a incesto
ainda o sinto a furar-me as axilas
a fazer-me rir
e chorar
in Poemas Quotidianos, António Reis, edição de autor
ainda me sabe a incesto
ainda o sinto a furar-me as axilas
a fazer-me rir
e chorar
in Poemas Quotidianos, António Reis, edição de autor
Wednesday, September 26, 2007
Outono
Exactamente 24h depois de me ter levantado para tomar banho e me pôr a caminho, encontro-me num qualquer quarto em Odeceixe e recebo uma sms: "O tio morreu hoje às 8h." Escusam de comentar género "os meus sentimentos", os primeiros pensamentos que tive foram: "já me foderam as férias", "foda-se, a minha mãe". Nesta ordem. Por motivos exteriores a mim, na minha vida vi o meu tio umas quatro vezes (e acho que já estou a puxar a corda) e a imagem que dele me ficará é um senhor em plena caminhada descendente a agarrar-me o braço no casamento do meu irmão para me dar 50 euros (recusei duas vezes e peguei no papel à terceira). Antes esta imagem do que uma cama de hospital e tubos como me queriam fazer ver Domingo passado. Passadas 24h, estive "de férias" mais 9, já a contar com a viagem para cima. Isto para dizer que este Verão não poderá nunca ser algo parecido ao "pior Verão da minha vida", porque houve daquelas brechas que um dia contaremos com os dedos e que nos fazem momentaneamente Felizes, mas foi certamente o mais injusto dos Verões. Acabo o Verão sozinho, com férias no final de Setembro e quando penso que o sol está presente e posso fazer alguma coisa, e pego em mim para uma road trip solitária Costa Vicentina a baixo, pumbas, sms fodida, que me obriga a voltar para Lisboa (e amanhã ir para Coimbra) e interromper as férias. Deu tempo para conhecer Odeceixe, muito bonito (a vila e a praia) mesmo parecendo uma colónia alemã, aluguei um quarto porque o campismo era longe para quem esperava beber Super Bock e decifrar alemãs bonitas à noite, mas nesta altura já não se passa nada e depois de ser o único a jantar na esplanada do restaurante da praça principal (aliás, sou a única pessoa na praça principal) vou para o quarto, quase choro, começo a ler The Great Gatsby, que diz
And so with the sunshine and the great bursts of leaves growing on the trees, just as things grow in fast movies, I had that familiar conviction that life was beginning over again with the summer.
e me faz lembrar um post que escrevi em Julho, e apago a luz para dormir. De manhã ainda vou à Zambujeira, estaciono em frente à praia e preparo a bucha com as merdas que comprei no Alisuper, quando chega um carro com 2,5 alemãs giras, ao que eu pego na câmara e tripé e filmo a praia. Pouco sucesso. Horas mais tarde associo essa minha acção à frase do Woody Allen que li na Wasted Blues:
Faço cinema pelas razões mais superficiais que existem... para conhecer mulheres e ter pouco trabalho... Nunca fiz cinema por ter aspirações nobres mas por essas razões mais mundanas.
Continuo na praia mais um pouco, mas decido subir para Porto Covo porque é melhor ver o que não conheço antes de voltar a Lisboa. Porto Covo é mais uma bonita vila alentejana, mas também já não se passa nada e cheira muito a Sines. Porém, tem uma magnífica e deserta praia Ilha do Pessegueiro onde caminho um pouco e volto para trás para investigar uma espécie de forte. Reparo que numas rochas a uns cem metros de mim está um gajo com binóculos apontados aos dois bikinis que estão na praia. Por um segundo, sinto-me melhor. Esgotada esta vila, volto a descer porque é só 15 minutos até Milfontes, que conheço bem, na esperança que ali ainda haja gente. Não há. Vou para Lisboa. Eis as minhas 33 horas de férias. Já em casa, despachado de tarefas, decido entre ir ver o "Goya's Ghosts" que vai sair de sala ou ficar em casa a escrever este post, ouvir o relato do Benfica e ver cinema em casa. Ainda não sei se vou postar esta merda, o Benfica já perde e não parece que vá dar a volta, cinema em casa é daqui a pouco se me der para isso. Está um gajo 15 dias sem trabalhar para ter 33 horas de férias mais ou menos a sério e, depois de amanhã, passar os dias nos vários cinemas e beber cerveja no café do costume à noite. É também por isto que acho que este foi o Verão mais injusto de sempre. Cheira-se a felicidade, perdem-se amigos, Junho, Julho, Agosto e quase Setembro a trabalhar para ingleses burros, férias estragadas, a televisão é sempre a mesma merda (o filme que vai dar hoje na RTP é o "Blade", foda-se o "Blade", dois meses depois da última exibição, tenho a certeza disto por uma questão de memórias relacionadas) e vou ter que escolher algo da minha lista, talvez o "Bringing Up Baby" me faça bem (nunca vi, mas imagino que faça), mas não estou com grande cabeça para ver. Por outras palavras, em nenhum dos casos pude fazer algo para mudar, fiz tudo o que pude, não deixei de ser fodido.
Desculpem lá o misto entre um relato de férias e o meu estado de espírito, mas não há ninguém para me ouvir e isto tem que sair: que se foda toda a gente. Que se foda o Verão. Bemvindo Outono de 2007. De 2007 não. Bemvindo Outono. Como dizia o Benigni no "Down By Law": It is a sad and beautiful world.
Reitero o pedido de desculpas ao leitor. Vou fazer tudo para que isto, daqui para a frente, seja um blogue de cinema.
And so with the sunshine and the great bursts of leaves growing on the trees, just as things grow in fast movies, I had that familiar conviction that life was beginning over again with the summer.
e me faz lembrar um post que escrevi em Julho, e apago a luz para dormir. De manhã ainda vou à Zambujeira, estaciono em frente à praia e preparo a bucha com as merdas que comprei no Alisuper, quando chega um carro com 2,5 alemãs giras, ao que eu pego na câmara e tripé e filmo a praia. Pouco sucesso. Horas mais tarde associo essa minha acção à frase do Woody Allen que li na Wasted Blues:
Faço cinema pelas razões mais superficiais que existem... para conhecer mulheres e ter pouco trabalho... Nunca fiz cinema por ter aspirações nobres mas por essas razões mais mundanas.
Continuo na praia mais um pouco, mas decido subir para Porto Covo porque é melhor ver o que não conheço antes de voltar a Lisboa. Porto Covo é mais uma bonita vila alentejana, mas também já não se passa nada e cheira muito a Sines. Porém, tem uma magnífica e deserta praia Ilha do Pessegueiro onde caminho um pouco e volto para trás para investigar uma espécie de forte. Reparo que numas rochas a uns cem metros de mim está um gajo com binóculos apontados aos dois bikinis que estão na praia. Por um segundo, sinto-me melhor. Esgotada esta vila, volto a descer porque é só 15 minutos até Milfontes, que conheço bem, na esperança que ali ainda haja gente. Não há. Vou para Lisboa. Eis as minhas 33 horas de férias. Já em casa, despachado de tarefas, decido entre ir ver o "Goya's Ghosts" que vai sair de sala ou ficar em casa a escrever este post, ouvir o relato do Benfica e ver cinema em casa. Ainda não sei se vou postar esta merda, o Benfica já perde e não parece que vá dar a volta, cinema em casa é daqui a pouco se me der para isso. Está um gajo 15 dias sem trabalhar para ter 33 horas de férias mais ou menos a sério e, depois de amanhã, passar os dias nos vários cinemas e beber cerveja no café do costume à noite. É também por isto que acho que este foi o Verão mais injusto de sempre. Cheira-se a felicidade, perdem-se amigos, Junho, Julho, Agosto e quase Setembro a trabalhar para ingleses burros, férias estragadas, a televisão é sempre a mesma merda (o filme que vai dar hoje na RTP é o "Blade", foda-se o "Blade", dois meses depois da última exibição, tenho a certeza disto por uma questão de memórias relacionadas) e vou ter que escolher algo da minha lista, talvez o "Bringing Up Baby" me faça bem (nunca vi, mas imagino que faça), mas não estou com grande cabeça para ver. Por outras palavras, em nenhum dos casos pude fazer algo para mudar, fiz tudo o que pude, não deixei de ser fodido.
Desculpem lá o misto entre um relato de férias e o meu estado de espírito, mas não há ninguém para me ouvir e isto tem que sair: que se foda toda a gente. Que se foda o Verão. Bemvindo Outono de 2007. De 2007 não. Bemvindo Outono. Como dizia o Benigni no "Down By Law": It is a sad and beautiful world.
Reitero o pedido de desculpas ao leitor. Vou fazer tudo para que isto, daqui para a frente, seja um blogue de cinema.
Monday, September 24, 2007
Férias
Vou de férias. Conduzir, conhecer, observar, filmar, torrar ao sol, ler, mergulhar, acampar, beber cerveja, comer do bão. Vou com o Will, Matt, Thom, Micah, Regine... Ou seja, vou sozinho. O que me fará estudar o tempo. Quanto tempo vai ou não passar nestes dias fora?
Post parvo
No melhor filme que vi este ano, "Farväl Falkenberg", o Jorge Cramez e a Ana Moreira estavam imediatamente atrás de mim. O filme, sublime, nem me deixou pensar na Ana Moreira. Apeteceu-me dizer isto.
Irresistível
O hype que rodeou "O Capacete Dourado" antes da estreia aliado a palavras como "cinefilía" e "romantismo" não só me faziam prever o pior como já me estavam a dar azia e uma vontade tremenda de resistir, de não gostar (vá, vocês sabem que isso acontece).
Fui vê-lo hoje e é um grande filme. O romantismo e a cinefilía estão lá, mas nada em excesso e nunca enquanto fim em si próprio, ou por outras palavras, de forma evidente. É certo que o Cramez sabe o que está a fazer, definitivamente. Tudo tem o tom certo, não há nada a mais, o par é excelente (e a cada novo filme me apaixono pela Ana Moreira), não há psicologia, há apenas alguns acontecimentos e o cinema para os sustentar. Como dizia, o Cramez sabe o que está a fazer, mas é o cinema e o desejo de cinema que o filme mostra que me prende. A certa altura tenho a sensação que o gajo anda a planear o filme desde que viu o primeiro (estupidez, obviamente). Há qualquer coisa no filme, para além da sua excelente construção, que não sei bem o que é, mas sei que me conquista. Acho que o seu final, desde a festa e sua banda sonora, passando pela parte em que apenas caminham dali para fora, lado a lado sem palavras, até ao fogo de artifício, e a coragem que eu acho ser preciso para filmar um final assim, enorme, tem a ver com essa estranheza que me arrebata. Ah, granda Cramez.
Fui vê-lo hoje e é um grande filme. O romantismo e a cinefilía estão lá, mas nada em excesso e nunca enquanto fim em si próprio, ou por outras palavras, de forma evidente. É certo que o Cramez sabe o que está a fazer, definitivamente. Tudo tem o tom certo, não há nada a mais, o par é excelente (e a cada novo filme me apaixono pela Ana Moreira), não há psicologia, há apenas alguns acontecimentos e o cinema para os sustentar. Como dizia, o Cramez sabe o que está a fazer, mas é o cinema e o desejo de cinema que o filme mostra que me prende. A certa altura tenho a sensação que o gajo anda a planear o filme desde que viu o primeiro (estupidez, obviamente). Há qualquer coisa no filme, para além da sua excelente construção, que não sei bem o que é, mas sei que me conquista. Acho que o seu final, desde a festa e sua banda sonora, passando pela parte em que apenas caminham dali para fora, lado a lado sem palavras, até ao fogo de artifício, e a coragem que eu acho ser preciso para filmar um final assim, enorme, tem a ver com essa estranheza que me arrebata. Ah, granda Cramez.
Incoerência
Ou então sou eu que sou picuinhas. Mas num ciclo sobre "O Japão e o Cinema Histórico" apresentar "A Princesa Mononoke" na versão dobrada em inglês, parece-me uma tontice daquelas. A própria folha dizia que era a versão original. Mais um desagrado em relação a uma casa que muito me ajuda.
Saturday, September 22, 2007
Friday, September 21, 2007
Ilusão
Acerca de "O Sabor da Melancia", o Vasco Câmara, hoje no ípsilon, fala em ilusão. Acho que é a palavra chave para aquilo que eu achei interessante no filme de Tsai Ming-Liang. Àquilo que se quer real, opõe-se uma ilusão. À falta de água, opõe-se a abundância de melancia, que não é nenhuma ilusão, mas funciona enquanto ilusão na metáfora que se quer trabalhar, a ilusão do corpo face ao amor. É interessante ver como o malaio insere esta ilusão na própria estrutura formal: os números musicais na oposição à estória do rapaz e da rapariga, surgindo de imediato como falsos aos olhos do espectadores. Busby Berkeley está nas sequências musicais e se pensarmos que este aludia bastante ao caleidoscópio, penso que há uma ideia de pré-cinema na ilusão de Tsai Ming-Liang que me seduz. Até porque noutra sequência, aquela em que o rapaz e a rapariga devoram as sapateiras, há outra idéia de pré-cinema: o jogo de sombras. Se tudo isto é ilusão, aquilo que não é, o seu oposto, ganha uma dimensão de real extra. E com ela uma gravidade, esta em crescendo até àquela explosão de amor final - que não me repugna nem um bocado, desde aquele corte em que o rapaz larga o corpo morto para, através da grade, se unir ao corpo da rapariga, que estou conquistado.
Wednesday, September 19, 2007
They got game
Ainda não tinha visto esta lista e a mesma teve o condão de me lembrar esse filmaço que é o "He Got Game" do Spike Lee (o seu melhor filme a seguir ao "25th Hour") e que fiquei cheio de vontade de rever. Acho que é um filme um pouco esquecido, já que estreou directamente em vídeo, não passando pelas salas (também não acredito que a Cinemateca o tenha passado). Pensando nisso, o próprio Spike Lee é um pouco esquecido, por vezes, quando se fala nos maiores cineastas americanos da actualidade. Eu acho que é. Por isso cá vai este post (em que mais uma vez não digo nada que faça pensar) em jeito de homenagem ao Lee e ao Denzel - este é mesmo o seu melhor papel de sempre.
Inteligência
"Golden Door", de Emanuele Crialese, não é um grande filme porque não consegue dar o tom certo a uma espécie de realismo fantástico, onde o se quer instalar. Isso verifica-se rapidamente, o que abona a favor do filme, isto é, com as suas fragilidades expostas cedo pode ver-se o filme, reparando em pequenas coisas; e o filme até se vê.
Isto para dizer que uns segundos houve em que o filme me conquistou. Na aferição de inteligência por parte dos americanos aos emigrantes italianos, há uma prova em que o aferido tem que colocar peças de várias formas num tabuleiro de forma a que não sobre nenhum espaço no mesmo. Salvatore Mancuso, o pai da família que se acompanha de perto, pega nas peças e constrói uma casa; com as peças que sobram constrói algo "onde se podem secar coisas". Crialese, mais uma vez, não sabe filmar isto de forma a extrair qualquer hipótese de inferiorização de Mancuso. Eu, no entanto, sei quem é que é grande nesta situação.
Isto para dizer que uns segundos houve em que o filme me conquistou. Na aferição de inteligência por parte dos americanos aos emigrantes italianos, há uma prova em que o aferido tem que colocar peças de várias formas num tabuleiro de forma a que não sobre nenhum espaço no mesmo. Salvatore Mancuso, o pai da família que se acompanha de perto, pega nas peças e constrói uma casa; com as peças que sobram constrói algo "onde se podem secar coisas". Crialese, mais uma vez, não sabe filmar isto de forma a extrair qualquer hipótese de inferiorização de Mancuso. Eu, no entanto, sei quem é que é grande nesta situação.
Monday, September 17, 2007
Sunday, September 16, 2007
Drifter
I like songs about drifters - books about the same.
They both seem to make me feel a little less insane.
The World At Large, Modest Mouse
They both seem to make me feel a little less insane.
The World At Large, Modest Mouse
Stromboli
Ontem fui jantar a um restaurante chamado Stromboli. Umas pinturas da ilha, mas nem um vestígio da Ingrid Bergman.
Saturday, September 15, 2007
Sem hipótese
O pessimismo de Bresson ronda os jovens em "L'Argent", seu último filme, mas sempre como vítimas dos efeitos que a sociedade neles provoca: "estive na prisão toda a vida" diz um personagem a certa altura. Sociedade cada vez mais desumana e nesse sentido acho que a montagem do filme é superior. Nas imensas portas que Bresson faz questão de filmar enquanto são transpostas, como que a reforçar a divisão cada vez maior dos espaços, a segmentação do espaço e o consequente aprisionamento do humano. E também na forma como Bresson corta sempre para mudar o enquadramento aquando da passagem de dinheiro de uma pessoa para outra. Bresson faz questão de mostrar as mãos, negando sempre ao plano dessa passagem a presença de um rosto. Nesta sociedade que o francês filma, todas as relações afectivas são mais fracas que o dinheiro e o mal que ele provoca a todos os níveis. Aliás, este mal não dá a mínima hipótese, senão constatemos o percurso dos personagens até uma zona onde já não existe sequer qualquer hipótese de redenção.
Friday, September 14, 2007
Personagens da cinemateca
Personagens da cinemateca há muitas. Mas nos últimos tempos descobri uma nova, uma certa variante daquilo que costuma ser incomodar nas salas. Ora, este gajo - trintão, óculos, cabelo crespo de cor preta, atrasado mental - irrita-se com uma mudança de posição na cadeira em que um corpo produz o mínimo de atrito com a cadeira e faz ainda mais barulho ao manifestar o seu desgrado num sonoro "nch", que é a melhor onomatopeia que consigo arranjar. Isto para dizer que fosse eu do tamanho do Scolari, o gajo já tinha levado nos cornos. E ai de que não estivessem comigo.
Só para vos foder
E nesse sentido de que falas diria que a obra magna é "A Comédia de Deus", que não me parece ser outra coisa senão "vocês não querem que eu faça, mas eu faço, e faço assim só para vos foder".
Wednesday, September 12, 2007
Pack Eisenstein
Caros leitores deste blogue, alguém sabe se este Pack Eisenstein tem alguma ratoeira? É que 40 euros para tanto filme deixa-me desconfiado. Se alguém já o comprou, diga de sua justiça. A caixa de comentários e o endereço de e-mail estão ao vosso dispor. Obrigado.
Tuesday, September 11, 2007
Travis Bickle
The days go on and on... they don't end. All my life needed was a sense of someplace to go. I don't believe that one should devote his life to morbid self-attention, I believe that one should become a person like other people.
Segunda-feira vou ver isto em pela primeira vez numa sala de cinema.
Segunda-feira vou ver isto em pela primeira vez numa sala de cinema.
Bourne, 1 e 2
O Filipe Furtado ter dito que o "Bourne Ultimatum" era uma lição de montagem foi a gota de água para eu ver os primeiros dois tomos, pois já andava com vontade há algum tempo. Gosto muito de filmes de acção, mas é raro apanhar algum de jeito por estes dias. Estes Bourne pareciam-me prometedores, tendo em conta a pobreza reinante. Mas não.
"The Bourne Identity" parece-me melhor que o segundo por uma questão de introdução, isto é, o filme, por uma questão de estrutura narrativa, pega de imediato no personagem Bourne (Matt Damon bem à vontade) e coloca-o logo à deriva na sua procura de identidade. É fácil entrar nessa deriva e o filme ganha algum interesse. Porém, a lentidão do filme, que a certa altura não sai do mesmo sítio, traz-me logo à mente Hitchcock, o que ele faria com isto. Também chateia o Doug Liman ser cheio de truques e movimentos de câmara inócuos e quando chego ao fim do filme, passando por demasiadas personagens desinteressantes e por sequências de acção que, não sendo Michael Bay, não nos deixam ver muito, dou-me por feliz de o filme ser razoávelzinho.
The Bourne Supremacy traz um novo realizador, Paul Greengrass, e acreditar que ele possa dar uma lição de montagem no terceiro filme custa a acreditar. Não me entra na cabeça ter que utilizar três planos em jeito de falso raccord de Bourne a entrar num carro, só para mostrar que ele está com medo, nervoso, que há perigo. Entre as sequências de acção deste e do Liman, não sei quais terão mais planos, mas têm ambas planos a mais. Em vez de verem o Eisenstein e não saberem fazer igual, deveriam ver era musicais e tentar umas coreografias (sem ralenti, de preferência). O argumento deste também não traz nada de novo, isto é, quem sou eu? continua a questão recorrente, mas, como no primeiro filme, falha-se na densidade dramática que tal sentimento mereceria, muitas personagens, traições, etc. E, para acabar, são mesmo muito feios os flashbacks de Greengrass.
"The Bourne Identity" parece-me melhor que o segundo por uma questão de introdução, isto é, o filme, por uma questão de estrutura narrativa, pega de imediato no personagem Bourne (Matt Damon bem à vontade) e coloca-o logo à deriva na sua procura de identidade. É fácil entrar nessa deriva e o filme ganha algum interesse. Porém, a lentidão do filme, que a certa altura não sai do mesmo sítio, traz-me logo à mente Hitchcock, o que ele faria com isto. Também chateia o Doug Liman ser cheio de truques e movimentos de câmara inócuos e quando chego ao fim do filme, passando por demasiadas personagens desinteressantes e por sequências de acção que, não sendo Michael Bay, não nos deixam ver muito, dou-me por feliz de o filme ser razoávelzinho.
The Bourne Supremacy traz um novo realizador, Paul Greengrass, e acreditar que ele possa dar uma lição de montagem no terceiro filme custa a acreditar. Não me entra na cabeça ter que utilizar três planos em jeito de falso raccord de Bourne a entrar num carro, só para mostrar que ele está com medo, nervoso, que há perigo. Entre as sequências de acção deste e do Liman, não sei quais terão mais planos, mas têm ambas planos a mais. Em vez de verem o Eisenstein e não saberem fazer igual, deveriam ver era musicais e tentar umas coreografias (sem ralenti, de preferência). O argumento deste também não traz nada de novo, isto é, quem sou eu? continua a questão recorrente, mas, como no primeiro filme, falha-se na densidade dramática que tal sentimento mereceria, muitas personagens, traições, etc. E, para acabar, são mesmo muito feios os flashbacks de Greengrass.
Monday, September 10, 2007
Thursday, September 06, 2007
Phantom Limb (Jay Rosenblatt, 2005)
No primeiro plano de “Phantom Limb”, um comboio a entrar num túnel, o realizador Jay Rosenblatt avisa o espectador da escuridão que perpassa pelo filme. É a primeira metáfora de um filme construído com muitas. Há quem não goste de metáforas, mas neste dispositivo de utilização de imagens de arquivo para se construir um ensaio reflexivo pessoal, o recurso a elas resulta de uma mestria de montagem, bem como de uma total entrega do autor.
“Phantom Limb”, como se diz no seu site oficial, parte da morte com sete anos do irmão de Rosenblatt (este tinha nove na altura) para uma reflexão sobre a perda e todos os estádios sentimentais que tal situação possa reflectir (colapso, negação, depressão, …). O documentário constrói-se formalmente, recorrendo a imagens de arquivo, imagens da família Rosenblatt antes da morte do irmão de Jay, bem como a certeiras e breves entrevistas a um responsável por um cemitério, um verdadeiro paciente do sintoma de phantom limb (sentir um membro que já não pertence a um corpo) e um autor de um livro sobre a vida para além da morte. A troca de voz off pela utilização de intertítulos está ganha desde o primeiro.
É certo que o aspecto formal deste documentário me fascina, mas é a entrega de Rosenblatt ao seu próprio filme, e o humanismo que daí transparece, que me desperta para a sua modernidade e me faz sentir estar a ver um filme novo (nem que seja por desconhecimento). Essa entrega faz com que o filme também seja um grande filme sobre a memória. Rosenblatt afirma que o acontecimento nunca foi ultrapassado entre a família e há intertítulos como “suffering was the last way my parents could love their child” ou “I spoke to no one of his death” ou o mais longo e melhor do plano do filme em que uma ovelha é tosquiada e uma voz enumera as etapas do post abaixo. O alívio catártico que se procura (conseguido? não conseguido?) demorou cerca de quarenta anos a ser tentado e isso sente-se no filme. Essa exposição pessoal, e não consigo deixar de pensar em intertítulos como “I was embarassed by him” que segue algumas explicações da doença do irmão, fazem com que se volte a atentar na estrutura deste filme, na sua montagem. É uma adequação brilhante da dor pessoal ao tema da perda em geral, humana ou física (esse título histórico, “Phantom Limb”). A sensibilidade do realizador é fundamental, já que é terreno para dramalhão gordurento. Nada disso há em “Phantom Limb”, nem na música utilizada – a escolha de Arvo Pärt é perfeita (em particular a genialidade minimalista de “Für Alina”) – nem em rigorosamente nada, verdade seja dita.
Haveria mais coisas a dizer sobre o filme, a homenagem ao título do meu blogue mereceria mais. Mas o que quero mesmo dizer é que “Phantom Limb” é o melhor filme que eu já vi sobre a dor da perda.
“Phantom Limb”, como se diz no seu site oficial, parte da morte com sete anos do irmão de Rosenblatt (este tinha nove na altura) para uma reflexão sobre a perda e todos os estádios sentimentais que tal situação possa reflectir (colapso, negação, depressão, …). O documentário constrói-se formalmente, recorrendo a imagens de arquivo, imagens da família Rosenblatt antes da morte do irmão de Jay, bem como a certeiras e breves entrevistas a um responsável por um cemitério, um verdadeiro paciente do sintoma de phantom limb (sentir um membro que já não pertence a um corpo) e um autor de um livro sobre a vida para além da morte. A troca de voz off pela utilização de intertítulos está ganha desde o primeiro.
É certo que o aspecto formal deste documentário me fascina, mas é a entrega de Rosenblatt ao seu próprio filme, e o humanismo que daí transparece, que me desperta para a sua modernidade e me faz sentir estar a ver um filme novo (nem que seja por desconhecimento). Essa entrega faz com que o filme também seja um grande filme sobre a memória. Rosenblatt afirma que o acontecimento nunca foi ultrapassado entre a família e há intertítulos como “suffering was the last way my parents could love their child” ou “I spoke to no one of his death” ou o mais longo e melhor do plano do filme em que uma ovelha é tosquiada e uma voz enumera as etapas do post abaixo. O alívio catártico que se procura (conseguido? não conseguido?) demorou cerca de quarenta anos a ser tentado e isso sente-se no filme. Essa exposição pessoal, e não consigo deixar de pensar em intertítulos como “I was embarassed by him” que segue algumas explicações da doença do irmão, fazem com que se volte a atentar na estrutura deste filme, na sua montagem. É uma adequação brilhante da dor pessoal ao tema da perda em geral, humana ou física (esse título histórico, “Phantom Limb”). A sensibilidade do realizador é fundamental, já que é terreno para dramalhão gordurento. Nada disso há em “Phantom Limb”, nem na música utilizada – a escolha de Arvo Pärt é perfeita (em particular a genialidade minimalista de “Für Alina”) – nem em rigorosamente nada, verdade seja dita.
Haveria mais coisas a dizer sobre o filme, a homenagem ao título do meu blogue mereceria mais. Mas o que quero mesmo dizer é que “Phantom Limb” é o melhor filme que eu já vi sobre a dor da perda.
Advice for the grieving parents*
1- Know that somehow you will survive.
2- Know that you are not alone.
3- Allow for numbness.
4- Try not to forget that your spouse and your surviving children are also grieving.
5- Keep in mind that grief does not proceed in orderly, predictable stages.
6- Wear a symbol of mourning.
7- Use the name of your child.
8- Be prepared for the enormous effort it will take to have a normal, mundane conversation.
9- Cry.
10- It is common to feel the presence of your child.
11- Prepare to answer the question "how many children do you have?"
12- Plan ahead for what you are going to do in difficult days such as the birthday of your child and the aniversary of the death.
13- Let go of destructive myths about grief and mourning such as "I need to be strong and carry on", "I need to get a hold on myself", "I need to get over my grief", "my child wouldn't want me to be sad".
14- Go easy on people who stay stupid things such as "at least you had her as long as you did", "you can always have another child", "you'll grow so much stronger because of this", "I know how you feel", "it is God's will".
15- Don't ever expect the pain to ever fully go away.
*Em "Phantom Limb" (Jay Rosenblatt, 2005)
2- Know that you are not alone.
3- Allow for numbness.
4- Try not to forget that your spouse and your surviving children are also grieving.
5- Keep in mind that grief does not proceed in orderly, predictable stages.
6- Wear a symbol of mourning.
7- Use the name of your child.
8- Be prepared for the enormous effort it will take to have a normal, mundane conversation.
9- Cry.
10- It is common to feel the presence of your child.
11- Prepare to answer the question "how many children do you have?"
12- Plan ahead for what you are going to do in difficult days such as the birthday of your child and the aniversary of the death.
13- Let go of destructive myths about grief and mourning such as "I need to be strong and carry on", "I need to get a hold on myself", "I need to get over my grief", "my child wouldn't want me to be sad".
14- Go easy on people who stay stupid things such as "at least you had her as long as you did", "you can always have another child", "you'll grow so much stronger because of this", "I know how you feel", "it is God's will".
15- Don't ever expect the pain to ever fully go away.
*Em "Phantom Limb" (Jay Rosenblatt, 2005)
Tuesday, September 04, 2007
O trabalho não compensa
O personagem de Bruce Dern em "St. Valentine's Day Massacre", de Corman, fez-me lembrar o personagem de Dennis Haysbert em "Heat", de Mann. Ambos são pobres e têm trabalhos que não lhes garantem segurança. Isto faz com que aceitem participar em actividades criminosas (utilize-se aspas no caso de Haysbert porque é um banco que vão assaltar), actividades essas que lhes vão correr mal - é a morte que os espera. São dois personagens secundários, muito secundário no caso de Dern, que, sendo interessante a sua referência em dois filmes que se querem populares, me deixam com um sentimento ambíguo: afinal, são remetidos para a margem dentro do próprio filme. Parece-me que, não tendo visibilidade suficiente, os personagens podem ser apreendidos como imagens de um qualquer dogma como "o crime não compensa", algo muito fechado e limitador em relação ao que eles deveriam representar.