Thursday, July 31, 2008

Início da cinefilia?





O maior de todos:

Wednesday, July 30, 2008

Honestidade

Saio do "Le Dix-Septième Parallèle" (Joris Ivens, 1968) com uma ideia - que também já vem do "Triumph des Willens", por exemplo, e de umas conversas que "apanhei" em Serpa - reforçada: a de que filmes explicitamente engagé poderem ser dos filmes mais honestos. Honestidade, mais do que a integridade de que se fala na folha de sala.

Fica-me ainda a força de um plano: uma camponesa a sachar a terra com uma espingarda às costas.

Kiarostami meets Lekman

When Shirin cuts my hair
It's like a love affair

Tuesday, July 29, 2008

My point exactly

Besides, there is drugs now. You know, kids are playing on coke, speed. I dunno. In my time it was booze. Somehow, it is more human.

Eddie Felson em "The Color of Money".

Sunday, July 27, 2008

Let's not kid ourselves

Não aceitar

«Não é preciso», disse o ancião, «chorar por eles.»
«Não?», disse Berta.
«Não é preciso chorar por nada que acontece nos nossos dias.»
«Não é preciso chorar?»
«Não, minha filha. Nem pelo sangue que corre nos nossos dias.»
«Nem pela ofensa? Nem pela dor?»
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»

in Os Homens e os Outros, Elio Vittorini, Europa-América

Saturday, July 26, 2008

L'Albero degli zoccoli

Vejo mais cinema em que acredito profundamente: "L'Albero degli zoccoli" (Ermano Olmi, 1978). Lembro-me de Vittorio De Seta ao ver o filme de Olmi e não é só porque o primeiro está fresquinho na minha cabeça: "L'Albero degli zoccoli" está entre a tentativa épica de "Banditi a Orgosolo" e a justeza ímpar que as curtas-metragens anteriores de De Seta evidenciavam. Também Olmi encontra um espaço onde se vai situar e trabalhar. São camponeses da região de Lombardo, no norte de Itália, os protagonistas deste filme. A acção decorre no final do século XIX - o que, vendo o filme, e essencialmente a primeira meia hora em que Olmi filma aquelas cinco famílias como se fossem as únicas a habitar o mundo, nos faz abandonar a importância de nos situarmos num tempo histórico preciso em detrimento de noções mais abertas: o que foi, o que é, o que não será.

Abandonadas num mundo antigo, aquelas famílias sobrevivem a violência do trabalho e da paisagem com os afectos de uma comunidade unida. Sabe tão bem ver um ganso verdadeiro a ficar sem cabeça ou a matança de um porco e todo o seu guinchar. Hoje, viria a insuportável escumalha a criticar os maus tratos aos animais - essa escumalha não conseguiria nunca ver a camponesa a dizer aos homens para terem cuidado, que "estavam a matar o porco ainda antes de o matar". Quanto mais ver como Olmi mostra a sua indecisão face à situação ao alternar entre planos próximos e muito distantes. Sabe tão bem ver um avô a ensinar o segredo do cultivo do tomate à neta. Sabe tão bem ver um casamento em que o ritual, de facto, importa.

Acima de tudo, comovi-me com aquele que pode considerar o protagonista principal, Batisti, e a sua relação com o filho mais velho, o único que tem hipótese de estudar. A indecisão do pai, logo no princípio, de deixar o filho ir à escola, algo inédito, é seguida pelo apoio (muito por culpa dos conselhos do Padre - não esquecer que a religião é papel fundamental); pelo receber o filho em casa no regresso deste da escola (a forma como Olmi nunca dá duração à caminhada até à escola, mas consegue filmar a distância brutal desta através da distância de onde filma um plano, que tem um miudo de seis anos lá dentro, é absolutamente notável), o tirar dos sapatos e das meias e o aquecer dos pés na lareira; pelo esconder à mulher o facto do seu filho ter partido o tamanco; pela maneira como sabe que tem que arranjar outro tamanco ao filho mesmo que isso seja a sua perdição; pela maneira como o filho passa aos pais o que aprendeu na escola e no orgulho destes.

O que importa ver no trabalho de Olmi é a maneira como se evita a evidência de uma ideia que, claramente, está feita à partida, tentando, ao invés, justificá-la com o filme propriamente dito. Dessa forma, a estrutura do filme sem um princípio, meio e fim claros, é antes composta por sequências com grande força individual, antes encadeadas de forma lógica - a forma possível para a força daquela matéria. Justeza, numa palavra.

Cassie Berman

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Saturday, July 19, 2008

Photobucket

Tropas de elite



O vento

É certo que, aqui e ali, vamos tendo provas de que o cinema ainda nos pode dar algo novo ou algo de muito bem trabalhado dentro de formas por demais conhecidas. Mas é tentador desvalorizar isso depois de ver "The Wind", do Sjöström. Porque a pureza do mudo ainda é mais rara do que os extraordinários filmes que ainda se vão fazendo. Aqui e ali, como disse.

É um filme sensacional; de sensação, ou melhor, de sensações. Há uma relação perfeita entre os personagens e paisagem, sendo o cume disto a personagem de Lillian Gish. Ou seja, sente-se tanto o vento como as emoções de Gish. Espantoso também é a forma como a narrativa gere todas estas sensações, físicas e psicológicas, percebendo que a algo épico, devastador, inóspito, se contrapõe o apaziguamento, neste caso, o amor. Nesse sentido, os últimos dois planos do filme, o penúltimo de forma mais explícita, o último nem tanto, são os mais eróticos que já me foram dados a ver.

Friday, July 18, 2008

Ouvir música

suffering jukebox such a sad machine
you're filled up with what other people need

Berman

Hold ourselves together with our arms around the stereo for hours
While it sings to itself or whatever it does
when it sings to itself of its long lost loves

Beringer

Raccord (o que não está entre uma canção e outra)

Um Best Of ou um Greatest Hits só devia servir para tentar novas junções de músicas. E o Best Of de Radiohead ensaia uma das mais dolorosas passagens de que tenho memória: de "Creep" para "No Surprises". Quantos anos de contínua inadaptação há entre aquelas canções? Quem pensar em 4: queima os teus discos deles e nunca mais os voltes a ouvir - não mereces.

Óculos

Vou continuar a sentar-me na segunda fila. Não é uma questão de visão.

Friday, July 04, 2008

Cinema clássico (sequência do cemitério)

Ele

E por isso fazemos mal em subestimar os grandes clássicos.

Zizek, no ípsilon

Fazemos? Quem? Ele que diga o que quiser, mas na primeira pessoa.

Escola de cinema

Entro no Estádio, sento-me de frente para a portada, aberta, aí a uns cinco metros dela; peço uma Super Bock. Rapidamente, dou por mim de olhar fixo na portada, em forma de scope vertical, vendo as pessoas e carros a atravessar o enquadramento, da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, em primeiro plano e em profundidade de campo. Todo o tipo de carros, todo o tipo de pessoas, mas sobretudo turistas. Os momentos de que mais gosto nesse plano fixo são aqueles em que não há nem pessoas nem carros, apenas a rua, o passeio e a parede. Não duram muitos segundos, mas são sem dúvida os melhores, contracampo de um movimento absurdo dos restantes momentos. O som também é melhor, pois desaparece o barulho dos motores e do pneu na estrada, permitindo que melhor se ouça a discussão animada que acontece nas minhas costas. Na mesa do dono do tasco, um velhote, que julgo já o ter visto lá mais vezes, e a velhota de todos os dias, que sabe as respostas quase todas do Quem Quer Ser Milionário?, discutem os judeus, ela defendendo-os (e a si - afirma-se judaica), ele, pelo contrário, dizendo que "é raça que não dá um prato de sopa a ninguém" entre outras coisas, dando cabo, como ela diz, "da sua boa disposição". É este o som mais activo do plano, pois que os mais intressantes julgo serem os ligeiros grunhidos do senhor que à minha esquerda lê o jornal enquanto bebe água com gás e o som das mordidas do senhor à minha direita na bucha, que o próprio fez com pão e queijo que tinha nuns sacos de plástico que com ele traz e que despeja com várias Super Bocks. É um espantoso filme de mais ou menos trinta minutos e que é brutalmente interrompido às 20h00 com o ligar da televisão e o começo do Telejornal.