Friday, February 26, 2010

plim plim plim (lágrimas)

Se há coisa que me vem chateando cada vez mais no cinema, são as bandas sonoras coladas aos filmes. Isto a propósito da "obra-prima" "A Single Man", belo filme (mas e se formos ver o "Vertigo" outra vez? - o poster é de "Psycho", mas o que há ali é algo de "Vertigo"), em que a musiquinha não dá descanso a quem vê, sempre ali plim plim plim. Não chega a essa tortura que é ver "The Hours", em que Philip Glass (prestígio) tenta matar um espectador ou outro. E podem juntar o Eastwood a isto, sim senhores, mesmo nos seus filmes mais fortes, sei lá, "Million Dollar Baby", por exemplo, meia volta lá vem o plim plim plim. Sim, sim, os mudos já eram acompanhados ao piano, blá, blá, blá, mas um filme como "The Wind" não tem música suficiente? "Douro, Faina Fluvial"? Já disse isto uma vez e já era a repetição do que disseram outros: a música tem que estar na montagem. "Million Dollar Baby" não deixa de ser enorme, "A Single Man" é um belo filme, mas deixem lá o piano para o Arvo Pärt. Por falar em Arvo Pärt, apetece também relembrar Kubrick, que dizia qualquer coisa como serem desnecessárias as bandas sonoras originais, já que espólio de excelente música clássica é tão grande, mais vale ir lá pescar. Em relação a Pärt, ide ver Godard, Rosenblatt e Van Sant. Pelo menos o plim plim plim é de qualidade. Como o é em "Vale Abraão"*, visto no outro dia na Cinemateca, meia sala Luís de Pina, Debussy e Beethoven, entre outros, a darem um plim plim plim de qualidade. Triste é eu não reconhecer o "Clair de Lune" de Debussy de outro sítio a não ser de "Ocean's Eleven". Isto da clássica, no entanto, também tresanda a prestígio, por isso é deixar os filmes sem plim plim plim e deixar as bandas sonoras, sei lá, com o som de uma enxada a furar a terra. São ideias.


*Isto de escrever um post já dá trabalho, por isso escrevo a segunda coisa que queria escrever neste post também. Meia sala Luís de Pina para o "Vale Abraão", portanto. Está certo que é um filme muito mais visto já do que "Trás-os-Montes". Mas ter-me deparado com a mesma sala esgotada e com as escadas laterais de cheias de gente sentada para uma projecção deste último não deixa de me surpreender e contentar. Se fosse na Félix Ribeiro, sala esgotada e escadas ocupadas, seria desde logo uma sessão histórica. É claro que 50 pessoas para um filme não será nunca histórico. Mas no meu íntimo, não deixa de o ser um pouco. Claro que eu não sou de uma geração que possa assistir a sessões históricas e é por isso que há uma tristeza nisto tudo. Há trinta e tal anos uma sessão histórica era a de Rossellini na Gulbenkian. Hoje, tenho que me agarrar a 50 pessoas a ver o Reis para tal facto.

Até para o mês que vem.

Friday, February 05, 2010

Desabafo