Friday, March 30, 2007

Cinemateca, Março

- Journal d'un Curé de Campagne, Bresson
- Stromboli, Rossellini
- Sol Svaneti, Kalatozov + Vesnoi, Kaufman
- Full Frontal, Soderbergh
- Stranitsi Izhizni, Barnet
- India - Matri Bhumi, Rossellini
- Tri Pesni o Lenine, Vertov
- Journal d'une Femme de Chambre, Buñuel
- Passion, Godard
- La Prise du Pouvoir Par Louis XIV, Rossellini
- La Décade Prodigieuse, Chabrol

30.03.07

O meu irmão faz 30 anos e o Simão renova até 2011.

Wednesday, March 28, 2007

Acontecimento do ano?

A Culturgest programa 9 filmes de Hou Hsiao-Hsien, mais 1 de Oliver Assayas sobre o primeiro (inserido na série "Cinema, de notre temps"), de 16 a 20 de Maio. Todas as informações aqui.

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Obrigado, Augusto M. Seabra.

25 de Abril

Tuesday, March 27, 2007

5/7 minutos

"Fur" (Steven Shainberg, 2006) é um filme fraquinho e mesmo chato de se ver. Mas há algo que o salva da mediocridade. Lá para o final há alguns minutos onde se instala um desmesurado romantismo (quem não quer saber, não leia a seguir): a "depilação", o preliminar fantástico da sequência de sexo seguinte (banal e irritante pelo enquadramento geométrico a evitar a exposição da nudez de Nicole Kidman) é bastante erótico e funciona como a última e final junção dos corpos; junção física que imediatamente será desfeita pela morte de Robert Downey Jr., no mar (água, elemento romântico), acompanhado por Nicole Kidman, que assiste à sua morte.

Já cantavam os Smiths:

"To die by your side
Is such a heavenly way to die"

O cineasta

Muitas coisas se podem dizer sobre "Les Anges Exterminateurs" (Jean-Claude Brisseau, 2006): sobre a quastão autobiográfica do realizador, sobre o possível espelho da história do filme reflectindo o próprio filme, sobre o seu machismo, sobre o seu feminismo, sobre o sexo que está no filme. Nada disto foi o que me disse mais.

Aquilo que achei sublime no filme de Brisseau foi o olhar que se deu ao cineasta, personagem principal do filme. Por ele passa a solidão do artista. Não é a questão do artista incompreendido, mas o necessário abandono a que ele se sujeita ou que mesmo procura. O seu percurso é o de uma espiral descendente. É a melhor imagem que arranjo para o onirísmo com que é filmada a solidão deste cineasta.


Não me chamem maluco, mas, ao ver o filme, lembrei-me da melancolia que passava pelo realizador interpretado por Truffaut no seu "La Nuit Américaine".

Não deixa de ser curioso...

É já hoje que a Cinemateca Portuguesa exibe "O Crime do Padre Amaro", de Carlos Coelho da Silva. É na Luís de Pina, daí ser melhor comprar o bilhete o quanto antes.

Friday, March 23, 2007

Robert Dessaix, resistente

Não passem ao lado da belíssima entrevista que Robert Deassix concede a Alexandra Lucas Coelho no ípsilon de hoje.

Thursday, March 22, 2007

Which cut is the film?

"A mutabilidade de objectos que se consideravam fixados na sua existência material tornou-se entretanto facto corrente com a edição em dvd. “Director’s cut” tornou-se mesmo também num chamamento promocional. Com frequência os complementos de um dvd incluem não só o “making of” que já se tornou corrente, ou os comentários, como também a possibilidade de percepção de diferentes montagens de um mesmo filme. Já se torna mesmo recorrente que versões mais longas de um filme são destinadas logo directamente à edição em dvd, enquanto montagens mais aproximadas de durações standard são destinadas à apresentação no circuito de salas. Dito de outro modo, podemos mesmo interrogarmo-nos se no próprio processo de feitura de uma obra, na sua poiesis, não vai cada vez mais ocorrendo o cálculo das diferentes estesis, dos modos diferenciados de disponibilização e percepção também."*

in A obra de arte na era da sua mutabilidade técnica, Augusto M. Seabra (Texto completo aqui)

Já o João Mário Grilo dizia assim num artigo do Y, onde se fazia um balanço de cinema do ano de 2005:

"Acho que isso é marginal e ponho mesmo em dúvida se estamos a falar exactamente do tipo de espectador clássico do cinema. O cinema é um espectáculo de sala com as pessoas sentadas num sítio quietas e onde estão submetidas à própria regra daquele espectáculo. A partir do momento em que se sai da sala deixa de haver cinema. Uma pessoa pode ver filmes, mas não pode ver cinema na televisão. Isso não existe! O cinema necessita de do ecrã, da magem projectada e não da imagem reduzida, portanto, isso é um outro tipo de espectáculo, um outro tipo de relação das pessoas com a imagem e com os sons."

O cinema não vai morrer, mas é bem possível que se venha a mutabilizar, dando ou não origem a uma nova forma de arte, independente do cinema. Com a internet e as edições em dvd houve uma democratização que, por sua vez, alterou hábitos, como vemos, quer de consumo quer de criação. Em relação ao consumo, mesmo em decrescendo, haverá sempre os fiéis à sala, que, em maior ou menor quantidade, manterão a chama viva. Em relação à criação, o caso é mais complexo. Se haverá também sempre quem se insira no cinema como o conhecemos, começam a existir híbridos estranhos com que é preciso lidar. Isto para estarmos preparados quando a geração internet nos enfiar num lar e começar a tomar conta desta merda.

*Carregado meu.

Wednesday, March 21, 2007

Dia Mundial da Poesia

ALL THINGS CAN TEMPT ME

All things can tempt me from this craft of verse:
One time it was a woman's face, or worse -
The seaming needs of my fool-driven land;
Now nothing but comes readier to the hand
Than this accustomed toil. When I was young,
I had not given a penny for a song
Did not the poet sing it with such airs
That one believed he had a sword upstairs;
Yet would be now, could I but have my wish,
Colder and doumber and deafer than a fish.

W. B. Yeats

Só pode

No seguimento deste e deste post, a Cinemateca passa, em Abril, no ciclo O Que Quero Ver o filme "Os Amantes Crucificados" (Kenji Mizoguchi, 1954), exibido recentemente no ciclo da Gulbenkian.

Está tudo explicado agora: o João Bénard da Costa lê o meu blogue e já só quer fazer pirraça.


Não vou perder o filme de forma nenhuma.

Tuesday, March 20, 2007

Stuart Rosenberg (1927-2007)

Monday, March 19, 2007

Dia do Pai

Já agora...

Isto não era para ser uma trilogia de textos sobre o "War of the Worlds". Começou porque o primeiro é um dos textos de que mais gosto escritos pela Kathleen Gomes. Com o magnífico texto do Augusto M. Seabra ao lado, não resisti a postá-lo. E, então, com o texto do Vasco Câmara também disponível na página do Público, cá vai.

Porque o Spielberg, muitas vezes, é só visto por aquilo que significa no cinema comercial sem se olhar a fundo o seu cinema. E porque este filme é um dos melhores casos para o confirmar.

"Se as manobras da chamada Nova Hollywood - nos anos 70 - tiveram como estratégia de ataque o vasculhar do sótão da Velha Hollywood, recuperando géneros e reciclando-os à medida das (novas) apetências do público, poucos deles (desses "movie brats" e de outros autores dessa década que ainda sobrevivem: Coppola, Scorsese, Bogdanovich, DePalma...) mantiveram essa pulsão de ir direito à jugular do espectador com a revitalização dos códigos do que estava moribundo falando, com o espectáculo, das tensões do seu tempo.

Alguns a essa matriz regressam, como se necessitassem de encontrar uma parte perdida de si próprios (se quisermos andar para trás, chega-se à infância destes "fedelhos do cinema"...). Isto para dizer que não é de admirar se, nas primeiras sequências de "Guerra dos Mundos" - o mundo operário de New Jersey, onde conhecemos Ray (Tom Cruise), personagem que, dizia o argumentista David Koepp numa entrevista, "é como um daqueles tipos das canções de Springsteen: casou-se demasiado jovem, tem um emprego que odeia e ficou enterrado nesse limbo que o faz infeliz" -, formos assaltados pela estranheza: os "blockbusters" não têm esta rugosidade, pelo menos os "blockbusters" de hoje, os planos não se sucedem com esta implacabilidade que respira a tensão de uma personagem (e os "blockbusters" também não costumam interessar-se pelo meio operário).

Essa estranheza pode ser, afinal, a estranheza de um reconhecimento: isto era assim há décadas atrás e era assim nos inícios de Spielberg, por exemplo "Duel- Um Assassino pelas Costas", por exemplo "Tubarão". "Guerra dos Mundos" é, se não um regresso, pelo menos um contacto mais próximo de um realizador com o que foi decisivo para a sua formação - é um percurso evolutivo que o separa, por exemplo, de um contemporâneo seu, Martin Scorsese, que, pelo contrário, tem andado afastado (mas vamos ver o que ainda aí vem...) dessa espécie de pacto de fidelidade com as suas raízes e métodos.

Antes de fazer filmes, tudo para Spielberg terá começado na TV, no subúrbio, a ver Capra, DeMille e Ford, é claro, mas também ficção científica, filmes de Jack Arnold ("The Incredible Shrinking Man", "It Came from Outer Space", "The Creature from the Black Lagoon") ou Hawks ("The Thing"). Ou, mais decisivo, a série "Twilight Zone". O seu primeiro filme, registo amador de um adolescente, chamava-se "Starlight" e já olhava espantado para o que vinha do céu.

Para quem cresceu nos anos 50/60, o espectáculo da paranóia era o prato do dia, e talvez seja por isso que, mais do que "A Guerra dos Mundos", livro de H. G. Wells (que só leu em 1967), Spielberg tenha sido sensível às ressonâncias que lhe chegaram de "A Guerra dos Mundos", "espectáculo" que Orson Welles montou na rádio em 1938, com o seu Mercury Theater (com sede em New Jersey, aliás...), adaptando a novela de Wells e pondo a América a fugir por causa de uma invasão extraterrestre (há uma década, Steven comprou o guião original desse programa, escrito por Howard Koch, que escapara à rusga policial que se seguiu à emissão, e pô-lo orgulhoso em exposição no escritório).

Mais uma: não é por acaso que Spielberg se deixou seduzir por um projecto como "1941-Ano Louco em Hollywood" (1979), um dos seus filmes mais iconoclastas e mal amados, projecto inicialmente chamado "The Night the Japs Attacked" e onde ele encontrou ressonâncias com a "Guerra dos Mundos" de Orson.

Talvez seja por isso, finalmente, que em "A Guerra dos Mundos" Spielberg surja como alguns dos artesãos do passado - podemos não ir tão longe e parar no seu próprio passado, nos anos 70 -, capazes de ler os sinais do tempo e articulá-los a um "mood" contemporâneo, não recuando perante o "exploitation", investindo na concisão, que é um programa de economia de meios mas também programa estético e de olhar sobre o mundo (72 dias de rodagem, pouco para um filme desta dimensão e mesmo para um realizador rápido como Spielberg). E mostrando que o "cliché" do "filme à Spielberg" é, também por culpa dele, redutor, esquecendo coisas violentas, sobre a frustração do "american dream" ou a paranóia urbana, que já filmou.

É assim: Ray/Tom Cruise um daqueles homens em perda no cinema de Spielberg (versão socialmente delapidada do homem-criança interpretado por Richard Dreyfuss em "Encontros Imediatos do Terceiro Grau"), divorciado, vê-se a braços com uma tarefa de que sempre se alheou: proteger os filhos (Dakota Fanning e Justin Chatwin). É só isto, viagem de fuga, com invasão extraterrestre por trás. Sempre por trás, o que chega a ser anacrónico, apesar dos efeitos especiais - não é "O Dia da Independência", nem "O Dia Depois de Amanhã".

A descrição do deprimido mundo de Ray, com os laços familiares inertes, é tão agreste como o olhar sobre a cidade balnear de "Tubarão". E Ray é um exemplo de masculinidade derrotada, socialmente vencida, como a personagem do alegórico "Duel", filme que, juraríamos, Spielberg cita num dos "travellings" iniciais em que o ecrã é atravessado por camiões.

Nunca, quase nunca (porque há uma nódoa: a sequência com a personagem de Tim Robbins, na cabana, onde Spielberg aí sim, surge retórico e mole), se abandona este grupo em fuga e em construção, estas personagens que não encontraram, ou já perderam, os seus papéis: a relação entre pai e filha (Cruise e Dakota Fanning) é uma relação entre um homem e uma mulher - Dakota, actriz-criança-adulta, variação da Drew Barrymore de "E.T.", é espantosa -, com tons de aventura burlesca, como num filme de "Indiana Jones"; não deve ter sido por acaso que Spielberg deu a Dakota cenas com gritos de sustos como as que deu a Kate Capshaw, hoje a senhora Spielberg, em "Indiana Jones e o Tempo Perdido"...

E nunca, nem no final, só aparentemente "happy end" conciliador, Spielberg trai a crispação afectiva que aqui circula. Ray/Cruise continua sozinho, como uma personagem de "western" amargurado.

O terror vem do céu, numa espécie de negativo, como tem sido referido, de "ET" e de "Encontros Imediatos...", filme onde estava a "imagem central", assim Spielberg a definiu, do seu cinema, aquele plano do miúdo inundado pela luz do maravilhoso e do terrífico antes de ser raptado pelos "aliens" - juraríamos que Spielberg também o cita, e distorce, naquele plano de Dakota Fanning inundada pela luz, antes de ser raptada. Mas o que mete medo é a explícita, e já polémica, fantasmagoria convocada: roupa a cair do alto (os corpos das vítimas desaparecerem, fulminados pelos "aliens), a paisagem coberta com um manto de sangue (os "aliens" sugam e depois espalham...), a poeira branca, dos destroços, no rosto dos sobrevivente... está-se a ver onde é que estamos, no 11 de Setembro. É assim, reformulando imagens de marca, variando o seu potencial metafórico, que Steven Spielberg põe de fora as garras que afiou durante a sua educação no solitário subúrbio como espectador televisivo de "exploitation movies" e outras bizarrias."

in Público (05-07-12)

Sunday, March 18, 2007

Ainda "War of the Worlds"

Isto para não falar deste texto do Augusto M. Seabra:

"Uma das singularidades do que designamos como "América", os EUA, é a capacidade de integração nos imaginários, indústrias culturais incluídas, dos factos marcantes da sua história colectiva. Por isso cabe perguntar como é que só quase quatro anos volvidos surge um filme apreendido, mesmo que erroneamente, como uma primeira metáfora "pós-11 de Setembro".

A natureza do trauma, a extensão da ferida simbólica, foi de tal ordem que obrigou a uma difícil recomposição. Exactamente um ano depois, a produção independente The Guys, baseada numa peça entretanto estreada (informação importante para se atender a que a capacidade de inscrição imaginária foi quase imediata noutros campos), e ainda que centrada nos trabalhos de socorro por parte dos bombeiros, foi de restrita difusão e um insucesso. O mesmo ocorreu, mais previsivelmente, com o filme colectivo 11"09""01.

O que todavia torna interessante o clamor em torno do suposto estatuto pioneiro de Guerra dos Mundos como filme "pós-11 de Setembro" são duas ordens de factos: 1) desde A 25ª Hora de Spike Lee, passando por Sinais e (sobretudo) The Village de M. Night Shyamalan e inclusive Terminal do próprio Spielberg, as reflexões ou alegorias vinham de facto existindo já; 2) foi o sucesso de Fahrenheit 9/11 que veio mostrar à indústria que já era possível fazer face ao bloqueio simbólico, tanto assim que o próprio Spielberg se voltou subitamente para este projecto, interrompendo outro (o docudrama do rapto e assassinato dos atletas israelistas por um comando palestiniano nos Jogos Olímpicos de 1972, que entretanto já começou a filmar), ou que foi dado luz verde a alguns projectos congelados ou novos, que em breve começarão a estrear.

Os factos indiciam não só uma lógica produtiva como sobretudo uma questão de reconhecimento público. O que distingue Guerra dos Mundos é a sua escala de produção e consequentemente de difusão, como também os níveis de "verosimilhança" e sobretudo a pergunta colocada pela pequena Raquel (Dakota Flanning) ao pai Ray (Tom Cruise): "Is it terrorists?". "Terroristas", eis a nomeação que faltava ouvir no cinema americano. Afinal, como em qualquer trabalho de análise, a verbalização do fantasma é parte da identificação do trauma.

Mas é ainda da ordem das questões que o filme de Spielberg faça tal inscrição numa reformulação da narrativa clássica de H.G. Wells. Antes deste filme, a evocação da Guerra dos Mundos remetia de imediato para a emissão radiofónica de Orson Welles, que em 1938 lançou o pânico na América, referência que também não é despicienda neste caso. Mas não se podem negligenciar a própria narrativa de Wells e a sua anterior adaptação cinematográfica.

Como bom fabiano e apóstolo do socialismo, Wells escreveu A Guerra dos Mundos também como reflexão sobre o colonialismo: perante os atacantes marcianos, de superiores capacidades, era também necessário compreender os "porquês", o que significava o ataque, e inclusive o que teríamos também feito para ser alvo - background que, notar-se-á, é aludido no filme por via do trabalho escolar que o problemático filho adolescente de Ray é suposto fazer, sobre "a ocupação colonial francesa da Argélia", além de que o conceito de "guerra dos mundos" foi reactualizado no Choque das Civilizações de Samuel Huntington, que tantos entenderem como profético do 11/09 e programático da linha dura. E já havia sido num quadro de difusa mas intensa luta com um "inimigo" e potencial "invasor", a "guerra fria", que ocorrera a 1º adaptação, em 1953, realizada por Byron Haskins.

A presente Guerra dos Mundos é um filme complexo e brilhante, pelo modo como num reconhecível corpo de referências vem nomear a novidade radical, e com isso torná-la também cinematograficamente reconhecível em larga escala nos imaginários públicos; é também "um filme de autor" em toda a sua singularidade, contudo também de um modo que, uma vez procedido a este outro reconhecimento, do autor, se torna mesmo demasiado óbvio.

Guerra dos Mundos estreou nos Estados Unidos antes do fim-de-semana do 4 de Julho, exactamente 30 anos depois de Tubarão, que lançou o moviebrat e também a vaga dos filmes-catástrofes. E este é o filme do ressuscitado autor da trilogia alienígena Encontros Imediatos do 3º Grau. E.T. e Poltergeist (que ele entregou a Tobe Hooper para realizar, mas que é um argumento seu, e foi por ele produzido). Dos seus filmes recentes, é até o mais caracteristicamente spielberguiano; o quadro dos subúrbios, das famílias divididas e do pai com dificuldades de comunicação, o óbvio parentesco do Ray de Tom Cruise no Roy de Richard Dreyfuss em Encontros Imediatos, a proximidade de Dakota Fanning à Drew Barrymore de E.T., a sequência dentro do Tripod dos invasores ecoando em negro o final de Encontros Imediatos, a única visão de um invasor, morto, no final, moldada no extraterrestre desenhado por Carlo Rambaldi, etc., para já não falar nos contra-picados ou nas gruas que lhe são tão reconhecíveis - ou não estamos a falar de cinema e de um autor?

A notoriedade de Spielberg afirmou-se na capacidade de inscrição singular num imaginário de massas. De algum modo, e ainda que não sem uma previsibilidade programática, talvez fosse preciso a reafirmação de um "grande realizador americano" para enfim haver o encontro cinematográfico que estava bloqueado - a admissão da possibilidade de terrorismo."

in Público (18-07-05)

Kathleen Gomes

Nunca percebi bem a utilização da Kathleen Gomes como bode expiatório para negativizar a crítica de cinema.

"Entre a claustrofobia familiar e a evocação do 11 de Setembro (literal: o pó que cobre o rosto de Tom Cruise, a multidão olhando para cima, presenciando o ataque, a própria nomeação da palavra "terroristas", as roupas das vítimas planando no ar), Spielberg fez um filme negro e angustiante - o seu melhor (e mais adulto) desde "Relatório Minoritário".

Dá-se ao luxo de pôr o filme de acção a correr atrás de uma família, interessa-lhe menos a invasão extraterrestre(é por isso que mal se vêem os ETs na sequência em que irrompem do interior da terra e atacam pela primeira vez) do que os homens (e os seus limites de humanidade). Nem a sua tendência para resoluções convencionais ou conclusões facilitistas que, por vezes, ameaçam arruinar o filme que está para trás, se verifica. Quando, no final, a família se reencontra, o episódio vem fornecer a chave que faltava - ou seja, a releitura de "Guerra dos Mundos" como a prova pela qual um pai tem de passar para ser aceite pelos filhos -, mas está longe de ser um desfecho feliz: o pai (Tom Cruise) fica à distância, a casa (de família) não lhe é admitida."

in Público (12-07-05)

Alguém que escreve isto sobre o magnífico "War of the Worlds" do Spielberg tem o meu imenso respeito.

Friday, March 16, 2007

INDIELISBOA 07

O melhor festival de cinema em Portugal está quase aí - de 19 a 29 de Abril - e a programação já pode ser vista aqui.

Boato

"Michael Herr has recorded Stanley Kubrick watching the film [The Godfather, Coppola, 1972] again and 'reluctantly suggesting for the tenth time that it was possibly the greatest movie ever made.'"


Encontrei isto numas fotocópias que tinha aqui perdidas. Só sei que é de um texto escrito pot Richard Combs, numa Film Comment de que não sei a data.

Novo poeta novo II

Tiago Tejo tem poema novo no seu Arrepio Cardíaco.

Wednesday, March 14, 2007

Por Rossellini

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Tuesday, March 13, 2007

Cinema alternativo

De 18 de Maio a 2 de Junho, a Gulbenkian oferece mais um ciclo de cinema. Olhando para os filmes que aí vão ser projectados, apetece-me dizer que será um ciclo de verdadeiro cinema alternativo. Consultar a programação aqui.


PS: Qualquer dia utilizam o meu blogue como agenda de cinema.

PS1: Obrigado, Gonçalo, pela dica.

Jorge P. Pires faz birra

E não é que um dos autores do "Brava Dança" deixou no blogue do filme um texto contra o João Lopes, isto porque o crítico não gostou do filme? Coitado do João Lopes: depois dos mais ou menos anónimos comentários contra ele depois do "Borat...", agora vê-se mesmo a braços com a birra de um dos realizadores do documentário português.

Tudo aqui.

Monday, March 12, 2007

Cinema gratuito no IFP

É favor ter em conta as sessões de cinema gratuitas no Instituto Franco-Português. Procurem a agenda de cinema aqui.

Cinemateca, Fevereiro

Número de idas: 10

M*A*S*H, Robert Altman
Paisà, Roberto Rossellini
Germania Anno Zero, Roberto Rossellini
Onna Ga Kaidan O Agaru Toki, Mikio Naruse
Tren de Sombras, José Luis Guerin
Os Verdes Anos, de Paulo Rocha
Nashville, de Robert Altman
David Copperfield, de George Cukor
Santa Brigida + Europa 51, de Roberto Rossellini
Ingrid Bergman+ Viaggio in Italia, de Roberto Rossellini

Estes posts são sempre um tanto ou quanto auto-jubilatórios, mas como não escrevo sobre tudo o que vejo ficam a saber o que ando a ver na Barata Salgueiro.

Sunday, March 11, 2007

Say again

"(...) mudou-se para Berlim em 1993, seis anos depois da queda do muro (...)"

Isto no artigo Primeiro conquistava-se Manhattan, agora conquista-se Berlim, escrito por Vanessa Rato no ípsilon de 2 de Março. Não quero fazer uma cruzada anti-ípsilon, mas não fazia mal reverem os textos para não se falhar datas históricas.

Brava Dança

Parece-me que "Brava Dança" (Jorge Pereirinha Pires e José Francisco Pinheiro, 2006) está condenado ao insucesso e não estou a falar da má recepção crítica. Exibir um documentário-português-sobre banda que não apelará a muitos nos cinemas Lusomundo Caiscaisshopping, Vasco da Gama e Almada Fórum (aqui ainda vá que a comunidade musical da margem sul o espreite) é condenar o filme a uma ou duas semanas de exibição (oxalá eu me engane). Ou os senhores da Filmes do Tejo jogaram tudo no encaixe ao vender o filme à Lusomundo ou o jogo dos dois é fazer dinheiro com o formato DVD. Qualquer que seja o caso, parece-me que o espectador da sala de cinema não foi tido em conta. É pena.

Recomendação

Hoje no Onda Curta (2:, 0h40) o último filme a ser exibido é "Detail" (2004), de Avi Mograbi. Só vi este filme dele, mas parece-me bem mais interessante do que o também único filme que vi de Amos Gitai. Faço a comparação porque são os dois israelitas e, essencialmente, documentaristas (quem conhecer melhor as obras e discordar da simplicidade da comparação, é favor dar-me na cabeça).

Mas o filme de Mograbi: 8 minutos que mostram o conflito israelo-palestiniano, digamos, no terreno. O conflito aqui não é físico (mas também), é humano (mas também desumano). Esta dicotomia é feita através de um "contracampo" entre os que se escondem num carro blindado (imagens fortíssimas) e os que sofrem com um ente em perigo. Um conflito, se quisermos, íntimo, que reflecte o grande conflito.

Um magnífico filme que aconselho e que vou tentar rever.

Intermission

A avaria do meu pc levou a que o estaminé se calasse durante demasiado tempo. Aos 4 fiéis as minhas desculpas - regresso dentro de momentos.