Sem hipótese
O pessimismo de Bresson ronda os jovens em "L'Argent", seu último filme, mas sempre como vítimas dos efeitos que a sociedade neles provoca: "estive na prisão toda a vida" diz um personagem a certa altura. Sociedade cada vez mais desumana e nesse sentido acho que a montagem do filme é superior. Nas imensas portas que Bresson faz questão de filmar enquanto são transpostas, como que a reforçar a divisão cada vez maior dos espaços, a segmentação do espaço e o consequente aprisionamento do humano. E também na forma como Bresson corta sempre para mudar o enquadramento aquando da passagem de dinheiro de uma pessoa para outra. Bresson faz questão de mostrar as mãos, negando sempre ao plano dessa passagem a presença de um rosto. Nesta sociedade que o francês filma, todas as relações afectivas são mais fracas que o dinheiro e o mal que ele provoca a todos os níveis. Aliás, este mal não dá a mínima hipótese, senão constatemos o percurso dos personagens até uma zona onde já não existe sequer qualquer hipótese de redenção.
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