Phantom Limb (Jay Rosenblatt, 2005)
No primeiro plano de “Phantom Limb”, um comboio a entrar num túnel, o realizador Jay Rosenblatt avisa o espectador da escuridão que perpassa pelo filme. É a primeira metáfora de um filme construído com muitas. Há quem não goste de metáforas, mas neste dispositivo de utilização de imagens de arquivo para se construir um ensaio reflexivo pessoal, o recurso a elas resulta de uma mestria de montagem, bem como de uma total entrega do autor.
“Phantom Limb”, como se diz no seu site oficial, parte da morte com sete anos do irmão de Rosenblatt (este tinha nove na altura) para uma reflexão sobre a perda e todos os estádios sentimentais que tal situação possa reflectir (colapso, negação, depressão, …). O documentário constrói-se formalmente, recorrendo a imagens de arquivo, imagens da família Rosenblatt antes da morte do irmão de Jay, bem como a certeiras e breves entrevistas a um responsável por um cemitério, um verdadeiro paciente do sintoma de phantom limb (sentir um membro que já não pertence a um corpo) e um autor de um livro sobre a vida para além da morte. A troca de voz off pela utilização de intertítulos está ganha desde o primeiro.
É certo que o aspecto formal deste documentário me fascina, mas é a entrega de Rosenblatt ao seu próprio filme, e o humanismo que daí transparece, que me desperta para a sua modernidade e me faz sentir estar a ver um filme novo (nem que seja por desconhecimento). Essa entrega faz com que o filme também seja um grande filme sobre a memória. Rosenblatt afirma que o acontecimento nunca foi ultrapassado entre a família e há intertítulos como “suffering was the last way my parents could love their child” ou “I spoke to no one of his death” ou o mais longo e melhor do plano do filme em que uma ovelha é tosquiada e uma voz enumera as etapas do post abaixo. O alívio catártico que se procura (conseguido? não conseguido?) demorou cerca de quarenta anos a ser tentado e isso sente-se no filme. Essa exposição pessoal, e não consigo deixar de pensar em intertítulos como “I was embarassed by him” que segue algumas explicações da doença do irmão, fazem com que se volte a atentar na estrutura deste filme, na sua montagem. É uma adequação brilhante da dor pessoal ao tema da perda em geral, humana ou física (esse título histórico, “Phantom Limb”). A sensibilidade do realizador é fundamental, já que é terreno para dramalhão gordurento. Nada disso há em “Phantom Limb”, nem na música utilizada – a escolha de Arvo Pärt é perfeita (em particular a genialidade minimalista de “Für Alina”) – nem em rigorosamente nada, verdade seja dita.
Haveria mais coisas a dizer sobre o filme, a homenagem ao título do meu blogue mereceria mais. Mas o que quero mesmo dizer é que “Phantom Limb” é o melhor filme que eu já vi sobre a dor da perda.
“Phantom Limb”, como se diz no seu site oficial, parte da morte com sete anos do irmão de Rosenblatt (este tinha nove na altura) para uma reflexão sobre a perda e todos os estádios sentimentais que tal situação possa reflectir (colapso, negação, depressão, …). O documentário constrói-se formalmente, recorrendo a imagens de arquivo, imagens da família Rosenblatt antes da morte do irmão de Jay, bem como a certeiras e breves entrevistas a um responsável por um cemitério, um verdadeiro paciente do sintoma de phantom limb (sentir um membro que já não pertence a um corpo) e um autor de um livro sobre a vida para além da morte. A troca de voz off pela utilização de intertítulos está ganha desde o primeiro.
É certo que o aspecto formal deste documentário me fascina, mas é a entrega de Rosenblatt ao seu próprio filme, e o humanismo que daí transparece, que me desperta para a sua modernidade e me faz sentir estar a ver um filme novo (nem que seja por desconhecimento). Essa entrega faz com que o filme também seja um grande filme sobre a memória. Rosenblatt afirma que o acontecimento nunca foi ultrapassado entre a família e há intertítulos como “suffering was the last way my parents could love their child” ou “I spoke to no one of his death” ou o mais longo e melhor do plano do filme em que uma ovelha é tosquiada e uma voz enumera as etapas do post abaixo. O alívio catártico que se procura (conseguido? não conseguido?) demorou cerca de quarenta anos a ser tentado e isso sente-se no filme. Essa exposição pessoal, e não consigo deixar de pensar em intertítulos como “I was embarassed by him” que segue algumas explicações da doença do irmão, fazem com que se volte a atentar na estrutura deste filme, na sua montagem. É uma adequação brilhante da dor pessoal ao tema da perda em geral, humana ou física (esse título histórico, “Phantom Limb”). A sensibilidade do realizador é fundamental, já que é terreno para dramalhão gordurento. Nada disso há em “Phantom Limb”, nem na música utilizada – a escolha de Arvo Pärt é perfeita (em particular a genialidade minimalista de “Für Alina”) – nem em rigorosamente nada, verdade seja dita.
Haveria mais coisas a dizer sobre o filme, a homenagem ao título do meu blogue mereceria mais. Mas o que quero mesmo dizer é que “Phantom Limb” é o melhor filme que eu já vi sobre a dor da perda.
2 Comments:
Como descobriste este filme? Passou nalgum festival por cá? Fui consultar o imdb e nem referência há a qualquer edição em dvd...
A primeira vez que ouvi falar no filme foi quando ele ganhou um prémio 2: Onda Curta no Indielisboa de 2005. Em 2006 o Rosenblatt foi um dos Heróis Independentes. Curiosamente, não vi o filme (infelizmente, o único que vi dele) em nenhuma dessas edições, tendo-o apenas visto uma vez que o gravei do Onda Curta, onde passa duas, três vezes por ano.
Para comprar: acho que a única hipótese é o site do realizador (vê o link do post abaixo), mas o preço é surreal. No emule só encontrei o "Human Remains", que já está a caminho.
De qualquer maneira, espero que tenhas ficado curioso.
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