Friday, September 21, 2007

Ilusão

Acerca de "O Sabor da Melancia", o Vasco Câmara, hoje no ípsilon, fala em ilusão. Acho que é a palavra chave para aquilo que eu achei interessante no filme de Tsai Ming-Liang. Àquilo que se quer real, opõe-se uma ilusão. À falta de água, opõe-se a abundância de melancia, que não é nenhuma ilusão, mas funciona enquanto ilusão na metáfora que se quer trabalhar, a ilusão do corpo face ao amor. É interessante ver como o malaio insere esta ilusão na própria estrutura formal: os números musicais na oposição à estória do rapaz e da rapariga, surgindo de imediato como falsos aos olhos do espectadores. Busby Berkeley está nas sequências musicais e se pensarmos que este aludia bastante ao caleidoscópio, penso que há uma ideia de pré-cinema na ilusão de Tsai Ming-Liang que me seduz. Até porque noutra sequência, aquela em que o rapaz e a rapariga devoram as sapateiras, há outra idéia de pré-cinema: o jogo de sombras. Se tudo isto é ilusão, aquilo que não é, o seu oposto, ganha uma dimensão de real extra. E com ela uma gravidade, esta em crescendo até àquela explosão de amor final - que não me repugna nem um bocado, desde aquele corte em que o rapaz larga o corpo morto para, através da grade, se unir ao corpo da rapariga, que estou conquistado.

1 Comments:

Blogger Francisco Mendes said...

Pessoalmente, também considero o final sublime.

12:13 PM  

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