Friday, August 31, 2007
Tuesday, August 28, 2007
Quem queriam que filmasse isto?
I dont know, he said. I aint got all that many regrets. I could imagine lots of things that you might think would make a man happier. I reckon bein able to walk around might be one. You can make up your own list. You might even have one. I think by the time you're grown you're as happy as you're goin to be. You'll have good times and bad times, but in the end you'll be about as happy as you was before. Or as unhappy. I've knowed people that just never did get the hang of it.
No Country For Old Men, Cormac McCarthy
Acabei o livro e acho que o Cormac McCarthy já é o meu escritor preferido (mesmo que isto pareça entusiasmo de menina adolescente). Parece que o filme dos Coen é o melhor deles em muitos anos (não é difícil, ok) e chega a Portugal em Outubro, se a distribuidora quiser. Pensando no livro e num filme como o "Fargo", pensando no Tommy Lee Jones e no Javier Bardem, acho que os Coen podem sacar um filme bem bom. No entanto, lido o livro, acho que haveria um homem perfeito para filmar isto.
Para tornar este blogue ligeiramente menos novocaine for the soul convido a meia dúzia de leitores a ler o excerto (se não leram já tudo, o que ajudaria...) e escolher o seu realizador (vivo). Daqui a uns dias, dependendo da participação, deixo a minha escolha. Escolha que a mim me parece óbvia, mas gostaria de vos "ouvir".
No Country For Old Men, Cormac McCarthy
Acabei o livro e acho que o Cormac McCarthy já é o meu escritor preferido (mesmo que isto pareça entusiasmo de menina adolescente). Parece que o filme dos Coen é o melhor deles em muitos anos (não é difícil, ok) e chega a Portugal em Outubro, se a distribuidora quiser. Pensando no livro e num filme como o "Fargo", pensando no Tommy Lee Jones e no Javier Bardem, acho que os Coen podem sacar um filme bem bom. No entanto, lido o livro, acho que haveria um homem perfeito para filmar isto.
Para tornar este blogue ligeiramente menos novocaine for the soul convido a meia dúzia de leitores a ler o excerto (se não leram já tudo, o que ajudaria...) e escolher o seu realizador (vivo). Daqui a uns dias, dependendo da participação, deixo a minha escolha. Escolha que a mim me parece óbvia, mas gostaria de vos "ouvir".
Filmer
What is the difference between a ‘filmer’ and a filmmaker? Me, I just film my life. I have no plan, no script. I have no idea what I will do with the footage. But filmmakers usually have a script, have an idea, want to make a film. They know, more or less, what that film will be and what they want it to be. They collect material to make that film. I consider they are filmmakers; they make films. They have a program, they have a plan, an idea. I don’t have. I just film.
Jonas Mekas, “Me, I Just Film My Life”: An Interview with Jonas Mekas, Senses of Cinema
Jonas Mekas, “Me, I Just Film My Life”: An Interview with Jonas Mekas, Senses of Cinema
Monday, August 27, 2007
Ainda é cedo
Um senhor nos seus sessentas aborda-me no metro.
- Então, você já se está a pôr à tabela?
- Hã?
- Já se está a pôr à tabela. No Country For Old Men.
Sorrio. Ele continua.
- Já está a ler isso? Ainda é cedo pá.
Continuo a sorrir. Quero dizer-lhe alguma coisa. Mas não consigo dizer absolutamente nada.
- Então, você já se está a pôr à tabela?
- Hã?
- Já se está a pôr à tabela. No Country For Old Men.
Sorrio. Ele continua.
- Já está a ler isso? Ainda é cedo pá.
Continuo a sorrir. Quero dizer-lhe alguma coisa. Mas não consigo dizer absolutamente nada.
Sunday, August 26, 2007
Saturday, August 25, 2007
Eduardo Prado Coelho (1944-2007)
É deste sorriso que me vou lembrar quando pensar no Eduardo Prado Coelho. Tive a sorte de ser seu aluno por um semestre, no meu terceiro ano na faculdade. Sorte porque escolhi fazer Cultura Contemporânea no único ano em que ele deu a cadeira. O tema: o amor. Foi o primeiro professor que tive e que entrava na aula, sentava-se e perguntava "então, que filmes é que têm visto?", "que tipo de música é que gostam?" ou simplesmente lia um poema. A "matéria" da cadeira estava em segundo plano, mas quando se entrava nela, surgiam discussões interessantes e nunca me esqueço de ele ter dito alguma coisa (do quê é que não me lembro) e de uma qualquer colega lhe dizer "mas isso é machista". Ele ficou calado um instante e depois disse "sim" e desatou-se a rir. Tenho pena de termos sido imensos os alunos inscritos; ainda assim, havia uma tentativa da parte de Prado Coelho em tornar tudo mais pessoal. Não me esqueço também de ele dizer "tem toda a razão, Daniel" (porque raio é que ele sabia o meu nome?) quando o corrigi, dizendo que o realizador de "Dangerous Liaisons" era o Stephen Fears e não o Milos Forman. Sempre fui vaidoso com este episódio. Sei que ele gostou do trabalho que fiz sobre o "Intimacy" do Chéreau (granda filme) e isso também me deixa vaidoso. Mas importante mesmo foi o facto de ele mostrar um tipo de docente que não habita nos meios carrancudos e superiores do mundo académico, falando com os alunos de igual para igual, sempre bem disposto, com aquele sorriso que vou lembrar quando pensar no Eduardo Prado Coelho.
No lodo
Este post deu-me vontade de pesquisar por umas relíquias. Lembrei-me deste filme de Stallone, talvez não tão visto como outros, mas em que o seu rosto e suas caretas tão gozadas mais se evidenciam. É também por causa de uma sequência como esta, numa palavra horrível, que "Rocky Balboa" merece todo o respeito do mundo. Foi daqui que Stallone se levantou; poucos o conseguiriam fazer.
Friday, August 24, 2007
Por falar em Dixon Steele
I was born when she kissed me. I died when she left me. I lived a few weeks while she loved me.
Tuesday, August 21, 2007
Setembro na Cinemateca, duas notas
i) Em vez de ver Mizoguchis, Kurosawas e afins vou estar enfiado num trabalho de merda.
ii) Mas quem é que é esta malta e o que é que é preciso para ter uma sugestão para ciclo de cinema aceite pela Cinemateca Portuguesa? É que isto não é, nem de perto nem de longe, algo muito original.
ii) Mas quem é que é esta malta e o que é que é preciso para ter uma sugestão para ciclo de cinema aceite pela Cinemateca Portuguesa? É que isto não é, nem de perto nem de longe, algo muito original.
Douglas Coupland aos vintes
Ler Douglas Coupland aos 24 anos será sinónimo de identificação. Isso incomoda-me num certo sentido porque não tenho a mínima capacidade de distanciação ao lê-lo. O que será ler Coupland daqui a 20 anos? Não. É melhor dizer daqui a 40, nunca se sabe o que virá da meia-idade. O certo é que poderia citar o Coupland todos os dias, mas citar tudo seria citar nada. E se daqui a 40 anos não gostar? É perfeitamente normal. No entanto, não gosto nada deste sentimento.
Monday, August 20, 2007
The day Lisbon sank to the bottom of the sea
Here's all that I have to give
I'll admit it's not a lot,
but it's all that I've got
to hang myself with
in hopes that you'll take notice of me
I've been waiting
so long
up in these trees
trying to hang myselfs with
thoughts of you
thoughts of me
I've been wishing so long
why can't you see?
I'll admit it's not a lot,
but it's all that I've got
to hang myself with
in hopes that you'll take notice of me
I've been waiting
so long
up in these trees
trying to hang myselfs with
thoughts of you
thoughts of me
I've been wishing so long
why can't you see?
Sunday, August 19, 2007
Lo Chiamavano Bulldozer
Aqui há tempos, em conversa com o Miguel dizia-lhe que estava a sacar o "Lo Chiamavano Bulldozer" e ele disse-me qualquer coisa como "deves estar a brincar", ou coisa parecida, já não me lembro bem. Perguntei-lhe se ele via Welles desde puto, ao que ele muito bem respondeu que não, mas quando chegou a Welles não voltou ao Bud Spencer. Na altura pensei "o gajo tem uma certa razão."
Mas lá saquei o filme e revi-o após muitos anos; a última tinha sido na Sic, aí em meados da década de 90. "Lo Chiamavano Bulldozer" foi um filme que vi muitas vezes na Alemanha, quando era puto, na década de 80 - o meu pai gostava muito do Bud Spencer e este era um dos que ele tinha gravado, como todos da televisão alemão, dobrado. Daí que rever agora o filme dobrado em italiano seja estranho. "Lo Chiamavano Bulldozer" para mim sempre foi "Sie nahnten ihn Mücke", como nas imagens abaixo.
É um filme pouco importante se o virmos racionalmente. Suponho eu, porque nem agora o consegui fazer. Isto é cinema bem popular e acho que deste cinema popular já não se faz. Se se fizesse os putos seriam menos estúpidos e os velhos ainda ligariam alguma coisa ao cinema. Desde alguns diálogos bem conseguidos (o que eu me ria com 5 ou 6 anos com o empregado da taverna a perguntar ao Spencer se queria a omoleta com um ou dois ovos, e ele a responder com 12), até às sequências de porrada sempre encenadas em registo absurdo (os uppercuts de Spencer que tiram as vítimas dos sapatos, por exemplo) até à criação de um personagem principal carismático. Mücke/Bulldozer é um ex-jogador de futebol americano que deixou de jogar por acreditar no desporto como algo puro, coisa que ele já não veria acontecer. Alheou-se do mundo, comprou um barco e foi para o mar. O seu rosto é daqueles que não mudam de expressão: os olhos muito fechados, sorriso muito fino, aquele ar de cansado que traz o passado para o presente (o próprio título do filme conjuga o verbo no passado). A banda sonora bem canta:
But for a man he's just a good boy
just a good boy with a heart of gold
who likes to go his own way
stay far away from the world.
Por isso é com ar cansado que ele treina a equipa de permanent vacationers italianos (gajos que passam a vida na taverna, no jogo, a roubar, etc.) contra a do exército norte-americano. É também um filme contra a corporação, o exército mantém sempre o seu estatuto de poder, mas neste filme nunca vence. A equipa dos pequenos precisa apenas de fazer um ponto contra a dos grandes. O filme acaba assim:
Mas lá saquei o filme e revi-o após muitos anos; a última tinha sido na Sic, aí em meados da década de 90. "Lo Chiamavano Bulldozer" foi um filme que vi muitas vezes na Alemanha, quando era puto, na década de 80 - o meu pai gostava muito do Bud Spencer e este era um dos que ele tinha gravado, como todos da televisão alemão, dobrado. Daí que rever agora o filme dobrado em italiano seja estranho. "Lo Chiamavano Bulldozer" para mim sempre foi "Sie nahnten ihn Mücke", como nas imagens abaixo.
É um filme pouco importante se o virmos racionalmente. Suponho eu, porque nem agora o consegui fazer. Isto é cinema bem popular e acho que deste cinema popular já não se faz. Se se fizesse os putos seriam menos estúpidos e os velhos ainda ligariam alguma coisa ao cinema. Desde alguns diálogos bem conseguidos (o que eu me ria com 5 ou 6 anos com o empregado da taverna a perguntar ao Spencer se queria a omoleta com um ou dois ovos, e ele a responder com 12), até às sequências de porrada sempre encenadas em registo absurdo (os uppercuts de Spencer que tiram as vítimas dos sapatos, por exemplo) até à criação de um personagem principal carismático. Mücke/Bulldozer é um ex-jogador de futebol americano que deixou de jogar por acreditar no desporto como algo puro, coisa que ele já não veria acontecer. Alheou-se do mundo, comprou um barco e foi para o mar. O seu rosto é daqueles que não mudam de expressão: os olhos muito fechados, sorriso muito fino, aquele ar de cansado que traz o passado para o presente (o próprio título do filme conjuga o verbo no passado). A banda sonora bem canta:
But for a man he's just a good boy
just a good boy with a heart of gold
who likes to go his own way
stay far away from the world.
Por isso é com ar cansado que ele treina a equipa de permanent vacationers italianos (gajos que passam a vida na taverna, no jogo, a roubar, etc.) contra a do exército norte-americano. É também um filme contra a corporação, o exército mantém sempre o seu estatuto de poder, mas neste filme nunca vence. A equipa dos pequenos precisa apenas de fazer um ponto contra a dos grandes. O filme acaba assim:
Saturday, August 18, 2007
This is not all I see...
And in his heart, I think, he's now learned what I came to believe, which is, as I've said all along, that the sun may burn brightly, and the faces of children may be plump and achingly sweet, but in the air we breathe, in the water we drink and in the food we share, there will always be darkness in this world.
in Hey Nostradamus!, Douglas Coupland
in Hey Nostradamus!, Douglas Coupland
Cormac McCarthy
Estreio-me a ler Cormac McCarthy com o seu último romance, The Road. Fico conquistado pelo seu génio literário, o tom seco sem ponta de gordura, o despojamento de qualquer excesso, tudo é cinzento, tudo são cinzas. O que aconteceu ao mundo não sabemos, mas parece ter ardido, o apocalipse aconteceu, pai e filho limitam-se a sobreviver. Os diálogos entre os dois são tão curtos e directos quanto possuidores de enorme sentimento por tudo o que não é preciso ser dito e é apreendido pelo leitor (não consigo parar de pensar em cinema, neste aspecto). A narrativa quase não existe, há uma linha muito ténue, permitindo a dois personagens existir durante 300 páginas. Terei que comprar o No Country For Old Men muito em breve e espero pelo filme dos Coen com outra disposição. Isto é muito a quente, mas The Road talvez seja o melhor romance que já li, se não contar com essa coisa inacreditável que se chama Wuthering Heights.
Us kids know
Um vício chamado The National já me tinha iludido na medida em que já estava a pensar no "Boxer" como disco do ano. É mesmo uma questão de vício. Volto ao "Neon Bible", ouve-se uma canção como "No Cars Go" e não há ninguém a fazer música assim. Se não foi o "Boxer", não acredito que vá haver melhor disco do que a segunda obra-prima dos Arcade Fire.
Wednesday, August 15, 2007
Robert De Niro
Tenho um fraco por listas e por isso gostei muito desta. Não consigo fazer um top 5, mas sei que o Robert De Niro do "Taxi Driver" de Scorsese teria que estar presente se fizesse uma, muito provavelmente em primeiro lugar. "Taxi Driver" deve ser o filme que vi mais vezes (umas 10?) e acho que o De Niro é mais do que impressionante. Este é o poster que me guarda todas as noites:
Saturday, August 11, 2007
Desculpas
Aproveitar o ligeiro desenquadramento da projecção de "Saraband" para sair dali para fora, evitando o masoquismo.
Cinemas King - Jardim Fernando Pessoa
Sexta-feira, dez e tal: fazer o percurso do Indielisboa. Sem Indielisboa.
The Big Shave
Se pensarmos bem, no que diz respeito à procura de redenção das personagens de Scorsese, o seu cinema já está todo neste pequeno exercício abaixo.
Thursday, August 09, 2007
Sunday, August 05, 2007
Praia
Uma ida solitária à praia faz-me lembrar o melhor filme de François Ozon e, particularmente, a melhor sequência do seu cinema. Falo do final de "Le Temps Qui Reste" em que Melvil Poupaud se encontra numa zona balnear e se vai despojando dos seus pertences e se vai dirigindo para a praia, onde estende a toalha, sobre a qual se estende também. O scope envolve-o, mas há também planos gerais, onde o vemos, primeiro, fundido com as pessoas e, depois, com o fim de tarde a chegar, cada vez mais sozinho, o sol na linha do horizonte até ao vazio final.
É uma belíssima encenação de morte e não é por acaso que acontece na praia, possuidora de um poder melancólico excepcional para quem não é um habitué, possibilidade de fundição e anonimato, características que não são fáceis de encontrar juntas.
É uma belíssima encenação de morte e não é por acaso que acontece na praia, possuidora de um poder melancólico excepcional para quem não é um habitué, possibilidade de fundição e anonimato, características que não são fáceis de encontrar juntas.
Membro que falta
"Um criador cria-nos, e quando morre uma parte nossa é dele. Sentimo-la como um membro que falta."
Alexandra Lucas Coelho, esta semana
Alexandra Lucas Coelho, esta semana
Saturday, August 04, 2007
Radiohead em três actos
Acto I
True Love Waits
I'll drown my beliefs
To have your babies
I'll dress like your niece
To wash your swollen feet
Just don't leave...don't leave
I'm not living
I'm just killing time
Your tiny hands
Your crazy kitten smile
Just don't leave...don't leave
And true love waits
In haunted attics
And true love lives
On lollipops and crisps
Just don't leave...don't leave
Just don't leave...don't leave
Acto II
Motion Picture Soundtrack
Red wine and sleeping pills
Help me get back to your arms
Cheap sex and sad films
Help me get where I belong
I think you're crazy, maybe
I think you're crazy, maybe
Stop sending letters
Letters always get burned
It's not like the movies
They fed us on little white lies
I think you're crazy, maybe
I think you're crazy, maybe
I will see you in the next life
Acto III
How To Disappear Completely
That there
That's not me
I go
Where I please
I walk through walls
I float down the Liffey
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
In a little while
I'll be gone
The moment's already passed
Yeah it's gone
And I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
Strobe lights and blown speakers
Fireworks and hurricanes
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
True Love Waits
I'll drown my beliefs
To have your babies
I'll dress like your niece
To wash your swollen feet
Just don't leave...don't leave
I'm not living
I'm just killing time
Your tiny hands
Your crazy kitten smile
Just don't leave...don't leave
And true love waits
In haunted attics
And true love lives
On lollipops and crisps
Just don't leave...don't leave
Just don't leave...don't leave
Acto II
Motion Picture Soundtrack
Red wine and sleeping pills
Help me get back to your arms
Cheap sex and sad films
Help me get where I belong
I think you're crazy, maybe
I think you're crazy, maybe
Stop sending letters
Letters always get burned
It's not like the movies
They fed us on little white lies
I think you're crazy, maybe
I think you're crazy, maybe
I will see you in the next life
Acto III
How To Disappear Completely
That there
That's not me
I go
Where I please
I walk through walls
I float down the Liffey
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
In a little while
I'll be gone
The moment's already passed
Yeah it's gone
And I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
Strobe lights and blown speakers
Fireworks and hurricanes
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
Thursday, August 02, 2007
Tempo abafado
A distribuição cinematográfica portuguesa volta a fazer das suas. Agosto, que outro mês para a reposição (alguma vez estreou?) de "Torre Bela", de Thomas Harlan? Isto é uma reposição oficial, isto é, alguém vai falar nela? Existe uma cópia disto que não em dvd? Aquela edição dvd existe? Também eu já quebrei e não sei nada disto, nem me apetece esforçar muito por saber.
Mas esforcei-me para ir ver o filme, também porque precisei de redescobrir a sala de cinema como refúgio. O filme é superior, ainda mais visto hoje, porque quando se volta ao imediato pós-25 de Abril não há cinema para ninguém, sempre as mesmas pessoas a dizerem a mesma merda que está no livro ali à mão. Poder ver exibido no King um documento como "Torre Bela" em 2007 não deixa de ser uma brecha numa agenda cultural (a todos os níveis) fechada.
Dizer que o filme é político, por si só, é redundante, daí que talvez seja mais interessante ver o filme pelo lado humano e só depois a sua influência fatal em qualquer pensamento político. Apesar de ser muito relevante para a nossa história de Portugal, é um filme de uma universalidade assustadora. Ainda comecei a ver o filme como um filme comunista, mas depois chega-se ao fim e concluímos que a sua forma, um documentário neutro e seco, remete para o tal pensamento universal. Se o filme não é neutro nalgum momento, é neste, que o André Dias em tempos analisou. E se isso chega a ser uma opinião, de Harlan, eu estou com ele!
Mas esforcei-me para ir ver o filme, também porque precisei de redescobrir a sala de cinema como refúgio. O filme é superior, ainda mais visto hoje, porque quando se volta ao imediato pós-25 de Abril não há cinema para ninguém, sempre as mesmas pessoas a dizerem a mesma merda que está no livro ali à mão. Poder ver exibido no King um documento como "Torre Bela" em 2007 não deixa de ser uma brecha numa agenda cultural (a todos os níveis) fechada.
Dizer que o filme é político, por si só, é redundante, daí que talvez seja mais interessante ver o filme pelo lado humano e só depois a sua influência fatal em qualquer pensamento político. Apesar de ser muito relevante para a nossa história de Portugal, é um filme de uma universalidade assustadora. Ainda comecei a ver o filme como um filme comunista, mas depois chega-se ao fim e concluímos que a sua forma, um documentário neutro e seco, remete para o tal pensamento universal. Se o filme não é neutro nalgum momento, é neste, que o André Dias em tempos analisou. E se isso chega a ser uma opinião, de Harlan, eu estou com ele!
Wednesday, August 01, 2007
We have no future
Sonny is the desire of an elsewhere, the perpetual will to disconnect from the world, mentally as well as physically
(...)
Sonny, on the other hand is unpredictable and instinctive; he carries in him a desire for rupture, deviation, and unbalance.
(...)
Like Sonny a few minutes earlier, Isabella remains aloof, on the edge of the frame, and provokes the displacement of the shot towards its margins.
(...)
The couple then becomes scarce in relation to a narrative that the film, for twelve minutes, leaves in suspense. Mann then stresses at length their trip, from the coast of Florida to that of Havana: time relaxes, the distances hollow out space again. Their breakaway functions like a gasp of air, an attempt to recover a space against the flux
(...)
Without the woman, the man is nothing. If he loses this ballast, he falls (Alonzo’s suicide, return to the flux and darkness for Sonny at the end of the film); if he finds her again, he remains on the surface (Trudy comes out of a coma and Ricardo wakes up). But Isabella isn’t the only one to hold this power of aspiration and de-framing. In Miami Vice, women are the only ones to possess the power to divert the narrative (Yero’s jealousy, secretly in love with Isabella), to calm it (amorous sequence between Ricardo and Trudy) or to speed it up (Trudy taken hostage; Lonetta’s death). From the first sequence, Mann expressly makes women the pivot of all the swerves
(...)
Sonny gives up, sucked up by this woman who looks like an icon. When she moves away in the car, Sonny’s gaze remains fixed on her and finds at last the axis of its desire: the only bright trace at the heart of this indecipherable night, point of sublime anchoring and dazzling gap, Isabella appears like the image of a possible elsewhere. But it’s only an image
(...)
“It was too good to last,” he says. Isabella takes off, alone, glancing one last time at Sonny. But no reverse shot is forthcoming: Sonny, already into his car, moves away and the optical axis that they formed together suddenly breaks. It is the moment to return to the flux. To give in. The world rediscovers its balance but loses a little more of its humanity. One of Sonny’s replies to Isabella comes to mind: “We can do nothing against gravity.” In other words, there is nothing to be done against the flux, except to extricate oneself for a short while. We end up always by going back to it and dissolving therein (the last shot of the film). Sonny: “We have no future.”
(...)
And melancholy is the only way of living on a long-term basis in the world.
Jean-Baptiste Thoret, Gravity of the Flux:Michael Mann’s Miami Vice, Senses of Cinema
(...)
Sonny, on the other hand is unpredictable and instinctive; he carries in him a desire for rupture, deviation, and unbalance.
(...)
Like Sonny a few minutes earlier, Isabella remains aloof, on the edge of the frame, and provokes the displacement of the shot towards its margins.
(...)
The couple then becomes scarce in relation to a narrative that the film, for twelve minutes, leaves in suspense. Mann then stresses at length their trip, from the coast of Florida to that of Havana: time relaxes, the distances hollow out space again. Their breakaway functions like a gasp of air, an attempt to recover a space against the flux
(...)
Without the woman, the man is nothing. If he loses this ballast, he falls (Alonzo’s suicide, return to the flux and darkness for Sonny at the end of the film); if he finds her again, he remains on the surface (Trudy comes out of a coma and Ricardo wakes up). But Isabella isn’t the only one to hold this power of aspiration and de-framing. In Miami Vice, women are the only ones to possess the power to divert the narrative (Yero’s jealousy, secretly in love with Isabella), to calm it (amorous sequence between Ricardo and Trudy) or to speed it up (Trudy taken hostage; Lonetta’s death). From the first sequence, Mann expressly makes women the pivot of all the swerves
(...)
Sonny gives up, sucked up by this woman who looks like an icon. When she moves away in the car, Sonny’s gaze remains fixed on her and finds at last the axis of its desire: the only bright trace at the heart of this indecipherable night, point of sublime anchoring and dazzling gap, Isabella appears like the image of a possible elsewhere. But it’s only an image
(...)
“It was too good to last,” he says. Isabella takes off, alone, glancing one last time at Sonny. But no reverse shot is forthcoming: Sonny, already into his car, moves away and the optical axis that they formed together suddenly breaks. It is the moment to return to the flux. To give in. The world rediscovers its balance but loses a little more of its humanity. One of Sonny’s replies to Isabella comes to mind: “We can do nothing against gravity.” In other words, there is nothing to be done against the flux, except to extricate oneself for a short while. We end up always by going back to it and dissolving therein (the last shot of the film). Sonny: “We have no future.”
(...)
And melancholy is the only way of living on a long-term basis in the world.
Jean-Baptiste Thoret, Gravity of the Flux:Michael Mann’s Miami Vice, Senses of Cinema