Eduardo Prado Coelho (1944-2007)
É deste sorriso que me vou lembrar quando pensar no Eduardo Prado Coelho. Tive a sorte de ser seu aluno por um semestre, no meu terceiro ano na faculdade. Sorte porque escolhi fazer Cultura Contemporânea no único ano em que ele deu a cadeira. O tema: o amor. Foi o primeiro professor que tive e que entrava na aula, sentava-se e perguntava "então, que filmes é que têm visto?", "que tipo de música é que gostam?" ou simplesmente lia um poema. A "matéria" da cadeira estava em segundo plano, mas quando se entrava nela, surgiam discussões interessantes e nunca me esqueço de ele ter dito alguma coisa (do quê é que não me lembro) e de uma qualquer colega lhe dizer "mas isso é machista". Ele ficou calado um instante e depois disse "sim" e desatou-se a rir. Tenho pena de termos sido imensos os alunos inscritos; ainda assim, havia uma tentativa da parte de Prado Coelho em tornar tudo mais pessoal. Não me esqueço também de ele dizer "tem toda a razão, Daniel" (porque raio é que ele sabia o meu nome?) quando o corrigi, dizendo que o realizador de "Dangerous Liaisons" era o Stephen Fears e não o Milos Forman. Sempre fui vaidoso com este episódio. Sei que ele gostou do trabalho que fiz sobre o "Intimacy" do Chéreau (granda filme) e isso também me deixa vaidoso. Mas importante mesmo foi o facto de ele mostrar um tipo de docente que não habita nos meios carrancudos e superiores do mundo académico, falando com os alunos de igual para igual, sempre bem disposto, com aquele sorriso que vou lembrar quando pensar no Eduardo Prado Coelho.
4 Comments:
Uma dos meus maiores desgostos é nunca ter tido aulas com o Prado Coelho. RIP
Por mórbido que pareça, pensei em ti quando li a notícia. E em todas as vezes que discutimos as crónicas dele. Nunca me vou esquecer da crónica sobre pastéis de nata :)
Foi uma sorte, termos escolhido Cultura Contemporânea: pudemos ver o outro lado dele.
:)
Quando penso em Eduardo Prado Coelho, lembro-me sempre de uma crónica que ele escreveu no Público (da qual guardo religiosamente o recorte) sobre o nome de ruas...
Sobre uma rua que se chama Al Berto e o que Al Berto pensaria da sua rua e de como ele se sentia estranho quando ia para a rua que tinha o nome do seu pai...
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