Para não ser metido no saco da blogosfera degradante (embora, por outros motivos, talvez lá coubesse bem) dos que atacam e dos que recorrem ao vernáculo, é melhor retornar ao
post de ontem.
Seria fácil pegar no mesmo para justificar teses mais do que provadas e com as quais concordo. Mas quero reforçar a ideia de que embora seja uma questão recorrente, está tudo dito sobre a mesma - sim, há anonimato, insulto, falta de pensamento em muito discurso (?) sobre cinema. Mas, e pegando também neste
post do Miguel, insistir nisso é fechar os olhos a outros problemas, igualmente muito graves.
À degradação da cinefilía junta-se a degradação da crítica - e não falo do facto de cada vez menos se poder ler crítica. Falo do olhar para o lado a textos como, por exemplo, o de Jorge Mourinha, no Ípsilon online, sobre "Singularidades de uma Rapariga Loura". Talvez, neste caso, seja difícil de o fazer porque o filme ainda não foi visto. Mas quem diz este texto, diz muitos outros do mesmo autor; quem diz Jorge Mourinha, diz outros "críticos" em imporantes jornais portugueses. Porque se chega a um ponto em que não é apenas a opinião do outro. Quando chegamos ao ponto de um filme de 64 minutos "acabar antes de começar", há algo, o equívoco (este é um post educado) de quem escreve isto, que tem que ser combatido. Como combatidas têm que ser expressões como "caderno de encargos", "mais do mesmo", entre outras.
E o que se vê ou lê sobre um colega de profissão? Nada. Não se vê a mínima paixão,
commitment, que leve a questionar palavras claramente questionáveis. Perder tempo com a degradação da blogosfera, como o João Lopes faz (e tenho que dizer que é muito raro, ou inexistente, um elogio a um texto da blogosfera, embora, evidentemente, não o tenha que fazer), é possível; questionar o próprio trabalho crítico na imprensa, impossível.
É também um sintoma dos tempos, para além do
mundo que a internet promete, essa comichão que o vernáculo provoca (João César Monteiro, foste cedo demais), essa vergonha/olhar para o lado em relação ao que é escrito e impresso. Porque mesmo que haja crítica aqui e ali, ela já está morta assim que um texto crítico é publicado. Há polémicas, mas não há discussões saudáveis, evita-se. Não seria riquíssima a troca de pontos de vista entre visões diferentes sobre uma determinada obra, em vez de um texto numa semana, outro texto noutra, adiante? Durante cerca de meio ano fui regularmente a visionamentos de imprensa, em Lisboa. Chega-se, cumprimenta-se, vê-se o filme, vai-se embora. Compreendo perfeitamente que as pessoas tenham compromissos, mas quando o cinema é só trabalho deixa de haver paixão.
Escrever um post um minuto depois de ler algo que nos irrita poderá não ser muito inteligente, mas não lhe retiro uma vírgula. Porque violento, violência, é um jornal de referência como o Público ser, na sua secção de cinema, a pouco e pouco, composta cada vez mais por textos de Jorge Mourinha, que, sinceramente, não pensa cinema. São textos que se esquecem, ou que ignoram, 114 anos de cinema. São textos com expressões banais não concretizadas. São textos que não aceitam a diferença, logo, são textos que promovem essa igualdadezinha para todo o cidadão. Isto é que é violento, muito mais do que o meu vernáculo ou a minha eventual falta de respeito com o visado, que fica entre mim e ele. Não devia ser eu a fazer isto. Devia ser aquele que está ao lado. Fica a sugestão para quem tiver coragem.
Como isso não vai acontecer, "só a violência ajuda onde a violência reina". É tudo.