Friday, February 27, 2009

Bairro

Ia-se ao Kirk para se ver e ser visto.

Eu vou ao Estádio para beber Super Bock, de preferência sem ser visto.

Muito sinceramente, não tenho nenhum problema com a decisão de dedicarem uma edição ao Bairro Alto, muito menos com a nostalgia, compreensível, da malta mais velha citada. O que me chateia profundamente - e é sempre a mesma merda - é a aura de cool que se quer dar, quem ia a certos sítios era cool, o sítio da moda agora é este e já não aquele da semana passada. Naturalmente, é o Vítor Belanciano a escrever o artigo e o autor da frase citada. Bem, podia ser o Kalaff, ou lá como o gajo se chama, autor dessa brilhante crónica em que enumerava o que fazia uma pessoa cool, entre outras coisas, ir a uma loja gourmet. [Colocar palavrões.]

Wednesday, February 25, 2009

Relacoes Internacionais #2

#1

Eu: Estou?
Ela: Olá, é a Frieda.
Eu: Olá Frieda, tudo bem?
Ela: Daniel, é preciso eu ir?
Eu: Hoje nao, nao está nada especialmente sujo e os quartos estao preparados.
Ela: Ah! Bom! Entao, adeus.
Eu: Adeus.

#2

Eu: Estou?
Ela: Olá, é a Frieda.
Eu: Olá Frieda, tudo bem?
Ela: Daniel, é preciso eu ir?
Eu: Sim, é melhor. Há muita gente e é preciso que alguns quartos estejam preparados.
Ela: Ok. Mas, Daniel, há muitos check-outs?
Eu: Há alguns. E vao entrar pessoas novas nesses quartos.
Ela: Ok. Mas, Daniel, como estao as casas de banho?
Eu: Estao mais ou menos, mas é melhor que sejam limpas.
Ela: Ok. Entao eu vou. Até logo.
Eu: Até logo.

O melhor momento do meu turno bisemanal de oito horas é o telefonema da empregada de limpeza. Imagino o seu peito a apertar, como aperta o meu na mesma situacao, nos momentos anteriores a saber se é preciso que trabalhe ou nao. A sua voz já nao traz esperanca na primeira pergunta, mas rapidamente se transforma em alegria se a resposta é negativa. Poderá ficar a ver televisao, enquanto come algum bolo que aprendeu a fazer ainda nova numa qualquer aldeia a 70km de Moscovo. Imagino-me na sua situacao a comer torradas e a ver um Lang. Se a resposta é positiva, ela luta contra a mesma, sabendo de antemao que nao terá hipótese. Mas luta ainda assim; como se tivesse que lutar para ter a consciência tranquila de que fez tudo o que estava ao seu alcance para nao trabalhar. Esta luta, bem como a tristeza que invade a sua voz, resignada, comove-me. Apetece-me dizer-lhe "querida, vamos ficar bem", mas nao digo. No rádio toca "Girls, I Just Wanna Have Fun" da grande Cindy Lauper.

Sunday, February 22, 2009

Is one ever in fact innocent or guilty?

Inícios

Saturday, February 21, 2009

Berlinale sem tapete vermelho #5, #6, #7 e #8

Umas notas, para acabar.

"I taket lyser stjärnorna" ("Glowing Stars"), Lisa Siwe (secção Generation)

Estória de uma adolescente, cuja mãe solteira tem cancro, e os dramas de tal situação: a relação forte mãe-filha, a relação complexa da adolescente com os rapazes e raparigas da sua idade, a relação problemática da neta com a avó que tenta ajudar. Isto é material escorregadio, adaptado de um livro que imagino ser intragável, mas do qual Lisa Siwe, através do ponto de vista da adolescente, vai tirando a gordura até o mesmo material deixar de ser sentimental para passar a ser emocional.

"Gunlala de qiang" ("Lala's Gun"), Ning Jingwu (secção Generation)

Tenho que resistir à tentação de abraçar por completo um filme que se preocupa por algo antigo, a tribo Miao, que na China contemporânea continua a viver a sua tradição, os seus costumes de há 2000 anos para cá. É com a própria tribo que Jingwu trabalha, mas o seu olhar ainda me parece demasiado exterior. Ou seja, raramente vemos o filme cair para o documentário, Jingwu constrói uma ficçao embevecida, que não me parece a forma mais justa de trabalhar a sua matéria.

"Zum Vergleich" ("By Comparison"), Harun Farocki (secção Forum)

Farocki continua a fazer pensar, a oferecer-nos material para reflexão. Não que Farocki se exclua de ter um ponto de vista, mas a sua distanciação é tal que o espectador é inevitavelmente implicado (é sempre não é? mas, não conseguindo explicar melhor, aqui "é mais"). Farocki dá-nos a comparação, nós que pensemos sobre ela. Sobre a construção do tijolo quiseram-se ver, na minha sessão, analogias com o uso da película em 16mm ("Ambos os materias sujam as mãos, mas acho que é só isso": Farocki de cor). Muito cinema em muitas cabeças evitará olhar para um filme, como outros de Farocki, extremamente atento ao mundo contemporâneo, às suas crises. Para pôr ao lado de "Nicht Ohne Risiko" (2004), por exemplo.

"Beeswax", Andrew Bujalski (secção Forum)

Bujalski é uma espécie de guilty pleasure. Tendo visto primeiro "Mutual Appreciation" (2005) e só depois "Funny Ha Ha" (2002), diría que este "Beeswax" regressa ao espírito mais solto do filme de estreia. "Mutual Appreciation" surge-me agora como um filme mais preso a uma ideia de cinema marginal. São filmes simples, que evitam grandes acontecimentos, ficando pelas situações de dia a dia. É este o lado que continua a interessar-me em "Beeswax", pois nas relações sentimentais entre os personagens parece haver uma vontade desnecessária de fazer coisas acontecer. Longe da complexidade de "Funny Ha Ha", neste aspecto. Também é possível que apenas veja os seus filmes porque me apaixonei por Kate Dollenmayer, a mulher mais bonita do mundo. Reparei que ela é assistente de câmara em "Beeswax". A mulher mais bonita do mundo é assisstente de câmara.

Tuesday, February 17, 2009

Sobre António Campos

Wednesday, February 11, 2009

Agora, educadamente

Para não ser metido no saco da blogosfera degradante (embora, por outros motivos, talvez lá coubesse bem) dos que atacam e dos que recorrem ao vernáculo, é melhor retornar ao post de ontem.

Seria fácil pegar no mesmo para justificar teses mais do que provadas e com as quais concordo. Mas quero reforçar a ideia de que embora seja uma questão recorrente, está tudo dito sobre a mesma - sim, há anonimato, insulto, falta de pensamento em muito discurso (?) sobre cinema. Mas, e pegando também neste post do Miguel, insistir nisso é fechar os olhos a outros problemas, igualmente muito graves.

À degradação da cinefilía junta-se a degradação da crítica - e não falo do facto de cada vez menos se poder ler crítica. Falo do olhar para o lado a textos como, por exemplo, o de Jorge Mourinha, no Ípsilon online, sobre "Singularidades de uma Rapariga Loura". Talvez, neste caso, seja difícil de o fazer porque o filme ainda não foi visto. Mas quem diz este texto, diz muitos outros do mesmo autor; quem diz Jorge Mourinha, diz outros "críticos" em imporantes jornais portugueses. Porque se chega a um ponto em que não é apenas a opinião do outro. Quando chegamos ao ponto de um filme de 64 minutos "acabar antes de começar", há algo, o equívoco (este é um post educado) de quem escreve isto, que tem que ser combatido. Como combatidas têm que ser expressões como "caderno de encargos", "mais do mesmo", entre outras.

E o que se vê ou lê sobre um colega de profissão? Nada. Não se vê a mínima paixão, commitment, que leve a questionar palavras claramente questionáveis. Perder tempo com a degradação da blogosfera, como o João Lopes faz (e tenho que dizer que é muito raro, ou inexistente, um elogio a um texto da blogosfera, embora, evidentemente, não o tenha que fazer), é possível; questionar o próprio trabalho crítico na imprensa, impossível.

É também um sintoma dos tempos, para além do mundo que a internet promete, essa comichão que o vernáculo provoca (João César Monteiro, foste cedo demais), essa vergonha/olhar para o lado em relação ao que é escrito e impresso. Porque mesmo que haja crítica aqui e ali, ela já está morta assim que um texto crítico é publicado. Há polémicas, mas não há discussões saudáveis, evita-se. Não seria riquíssima a troca de pontos de vista entre visões diferentes sobre uma determinada obra, em vez de um texto numa semana, outro texto noutra, adiante? Durante cerca de meio ano fui regularmente a visionamentos de imprensa, em Lisboa. Chega-se, cumprimenta-se, vê-se o filme, vai-se embora. Compreendo perfeitamente que as pessoas tenham compromissos, mas quando o cinema é só trabalho deixa de haver paixão.

Escrever um post um minuto depois de ler algo que nos irrita poderá não ser muito inteligente, mas não lhe retiro uma vírgula. Porque violento, violência, é um jornal de referência como o Público ser, na sua secção de cinema, a pouco e pouco, composta cada vez mais por textos de Jorge Mourinha, que, sinceramente, não pensa cinema. São textos que se esquecem, ou que ignoram, 114 anos de cinema. São textos com expressões banais não concretizadas. São textos que não aceitam a diferença, logo, são textos que promovem essa igualdadezinha para todo o cidadão. Isto é que é violento, muito mais do que o meu vernáculo ou a minha eventual falta de respeito com o visado, que fica entre mim e ele. Não devia ser eu a fazer isto. Devia ser aquele que está ao lado. Fica a sugestão para quem tiver coragem.

Como isso não vai acontecer, "só a violência ajuda onde a violência reina". É tudo.

#4 Berlinale com tapete vermelho

Secção Berlinale Especial


"Singularidades de uma Rapariga Loura", Manoel de Oliveira

"Singularidades de uma Rapariga Loura", o terceiro filme contemporâneo que vejo na Berlinale, lava-me os olhos. A arte deste filme não reside só na experiência de Oliveira - quero já recusar esse pensamento de que a sua idade seja caução para o seu cinema. Será também, é certo, factor importante na medida em que a experiência de vida tolda uma pessoa, mas penso que a arte deste filme vem da convicção de Oliveira. Convicção no cinema como uma arte clara e precisa. É assim que Oliveira continua a filmar, regressando a uma espécie de amor frustrado com esta adaptação do conto homónimo de Eça de Queirós. E é uma continuação óbvia na obra de Oliveira se pensarmos também no Macário de Ricardo Trêpa como indivíduo com um caminho árduo para completar, neste caso, tudo o que tem que fazer para poder casar com Luísa.

A Lisboa do século XIX não foi reconstituida, mas o texto de Eça não foi modificado. A opção parece-me simples de tomar, tendo em conta a riqueza e concisão do texto, que por sua vez se ajusta à economia narrativa (não há nada a mais, nada a menos) do realizador. Sendo este filme uma grande estória de amor, toda essa forma limpa como se trabalha o texto de Eça, a precisão do quadro ou o riquíssimo trabalho de som, que oculta o privado (o par) do público, torna-a mais trágica (não só no desenlace, mas também no seu decorrer). O que está oculto em "Singularidades de uma Rapariga Loura" torna-se fundamental (e que diferença para um qualquer truque de argumento), porque o facto de algo estar oculto não significa que Oliveira nos tenha escondido alguma coisa. Pelo contrário, a chave do filme foi-nos dada claramente, ou pelo limpo trabalho de som, uma ficha que nao cai no chão e desaparece, ou por um demorado jantar com conversa entre Trêpa e Diogo Dória. É uma forma de trabalhar ética e isso não impede que o drama tenha a força do amor de Macário, herói trágico.

Festivais de cinema? Eventos.

Isso de Berlim ser, com Cannes e Veneza, um dos três maiores festivais do mundo tem muito que se lhe diga. Ou melhor, está bastante correcto: são os maiores. Em Portugal, o IndieLisboa e o DocLisboa também crescem muito e a cada ano têm mais filmes e mais espectadores. Continuem todos a crescer e a contratar pessoas para moderar as conversas com os realizadores, assim como a senhora que moderou a conversa, hoje, com o Manoel de Oliveira e actores, perguntando ao Ricardo Trêpa se tinha sido a primeira vez que tinha trabalhado com o avô.

Abuso de poder

Eu acho, muito sinceramente, que está tudo trocado. Um escreve a palavra merda e cai-lhe tudo em cima; parece que só leram essa palavra em todo o texto porque ideias novas, nenhuma, nada, zero. E a coisa faz escorrer tinta (não faz, inventaram os computadores) e lá acaba muitas verdades e muitas asneiras depois. De entre várias coisas retenho a expressão "abuso de poder", aplicada ao Luís Miguel Oliveira.

Se aquilo foi abuso de poder, o que será o texto do Jorge Mourinha sobre o novo Oliveira?

Um filme "fora de tempo". Porquê, Jorge?

Um filme com "linguagem que parece [parece mesmo, Jorge? não... parece?] saída de um romance do século XIX"? E depois num parêntesis a revelação de que... é mesmo! O Oliveira não modificou a escrita do Eça! Afinal, é por isso que eles falam assim, "o que apenas reforça a estranheza".

"São esses anacronismos, que não são necessariamente saudosistas nem serôdios mas reflectem antes uma educação cívica e cinematográfica verdadeiramente de outro tempo (...)" Qual é a educação cívica e cinematográfica deste tempo, Jorge? O mal é de quem ainda trabalha com uma convicção forte, essa do cinema ser uma coisa clara, precisa, em que o som (as palavras, Jorge, também são sons) é mais imagem?

"Mas quem esperar de "Singularidades de uma Rapariga Loura" um grande filme terá que se contentar com um pequeno divertimento (em todos os sentidos da palavra - dura uma hora, acaba antes de começar) (...)" Acaba antes de começar? Eu vi o filme começar e acabar 64 minutos depois. Ou... espera lá... o cinema agora também é melhor ou pior devido à sua duração? Então, todas as curtas-metragens deste mundo acabam antes de começar? Logo, todas as curtas-metragens deste mundo são pequenas, assim coisa para não ligar muito? Hein, Jorge?

Assim como o Chabrol, '"mais do mesmo"', Jorge? O que é o "mesmo", Jorge?

Foda-se, um gajo farta-se. Milhões de pessoas que veneram o filme do Danny Boyle, vem um pensar sobre o filme de forma negativa, toca a acabar com a raça dele. O Oliveira está na moda, faz cem anos, mas aqui entre nós que ninguém nos ouve, os filmes do homem são uma seca, eu até já vi bocadinhos, coisa para críticos, mas que o homem com cem anos a fazer coisas é de louvar, hein? Vem um assassinar o novo filme dele com o pior de muitos textos péssimos que já escreveu no Público e vai passar incólume. Concordarão comigo, mas deixam passar, não vale a pena falar dele, descer baixo.

Os fãs do Boyle não deixam acender uma faísca e nós deixamos que o fogo continue a alastrar (ateado já ele foi há muito tempo). Da minha parte não posso deixar passar isto. Acho que o Jorge Mourinha se deve demitir. Acho que o Vasco Câmara se deve demitir se o Jorge Mourinha não se demitir. Demitam-se todos, foda-se.

Tuesday, February 10, 2009

Berlinale sem tapete vermelho #3

Secção Fórum


"Aguas Verdes", Mariano de Rosa

No final da sessão, o realizador Mariano de Rosa comentava a propósito do desenvolvimento narrativo do seu filme "Aguas Verdes" qualquer coisa como começar como Eric Rohmer e acabar como thriller psicológico americano. Foi quando me levantei e me vim embora. "Aguas Verdes", cujo enredo se centra nas férias balneares de uma família e, especificamente, na insatisfação do pai em relação às pessoas que a família conhece, tem espelhado esse desejo do realizador em fazer muitas coisas ao mesmo tempo. O filme ressente-se com isso e muda, muito estranhamente, de tom ao longo dos 90 minutos. Aquilo que começa por ser uma comédia, que eu vi durante a projecção como um trabalho desatento ao nível da montagem e banda sonora, mas que era propósito de de Rosa segundo o próprio, vai perdendo essa vertente cómica até chegar ao tal lado de thriller (que não é bem um thriller, mas simplesmente uma fase, a final, em que a acção se torna mais violenta). É precisamente na transição que o filme ganha interesse, pois de Rosa deixa de filmar o pai como um pateta para filmar a sua progressiva loucura, assente na ambiguidade de situações que o rodeiam. Nem ele nem o espectador sabe muito bem o que se está a passar e esse mistério, essa indefinição, essa falta de alguma coisa onde nos possamos agarrar é interessante. É muito pouco tempo. Depois o filme tem que se concluir com a tal fase mais violenta, o final das férias, nenhuma explicação para a estranheza dos eventos (interessante) e uma simbologia oca ("não há simbologia", diz de Rosa; "fode-te", penso eu), um grande plano de um peixe que a certa altura foi pescado e que o filho mais novo guarda (francamente desinteressante).

Berlinale sem tapete vermelho #2

Secção Retrospectiva 70mm - Bigger Than Life


"Chyenne Autumn", John Ford

Nunca tinho visto um filme projectado em 70mm. Fico naturalmente contente pela experiência, ainda mais tendo sido com um Ford, com "Cheyenne Autumn". No entanto, vale a pena pensar sobre o acto de programação que a Berlinale levou aqui a cabo. Cada vez menos se projecta em 70mm, é um formato esquecido - e será novamente um formato esquecido assim que o festival acabe. "Mais vale uma lembrança ocasional", dir-me-ão alguns, mas estranho esta vertente museológica por parte de um grande festival. Parece-me antes algo muito fácil, programar através de formatos. A preguiça da programação vai-se contaminando, digo eu pessimista.

Quanto a "Cheyenne Autumn", o que posso eu ainda acrescentar? Sinto-me entre não estar à altura de um filme de Ford ou ter fortíssima probabilidade de chover no molhado. Ford é para mim, juntamente com Ozu, o maior cineasta da implosão. Nos seus melhores filmes tudo implode, porque Ford trabalha sobre sentimentos que nos dá a ver sem nunca nada nos mostrar. E essa é uma das maiores vertentes do grande cinema. Fala-se num mea culpa de Ford, mas o que acho ainda mais importante do que isso é que isso não leve Ford a qualificar os americanos de mauzinhos - Ford nunca seria tão burro. Isso é, então, fundamental num cinema tão ligado à ideia de América. E isto não é puxar a brasa à sua sardinha, pois o que ele faz com "Cheyenne Autumn" é uma inversão do ponto de vista. Quando o ponto de vista era americano, todos os nativos americanos eram mauzinhos? Não. E quando não se "cai para um lado", ficam os valores, os sentimentos. O cinema de Ford é a justeza com que se os filma.

Fica-me uma sequência: Richard Widmark a entrar no quarto da criança ferida e a ajudá-la a soletrar a palavra comboio, que a criança desenhou. Sabemos que Widmark ama a professora (esse belíssimo movimento da câmara a mostrar-nos "Will you marry me?" no quadro da escola), mas os sentimentos desta em em relação a ele são menos claros. Antes de Widmark sair do quarto a professora imita a forma como ele soletrou, rindo-se, e pondo levemente a mão no ombro de Widmark enquanto regressa para perto da criança. Nada mais diz como nada mais diz Widmark. Não é preciso, já vimos tudo.

Sunday, February 08, 2009

Berlinale sem tapete vermelho #1

Secção Generation 14plus


"Voy a Explotar", Gerardo Naranjo

A adolescência é uma fase extremamente complexa e é verdade que Naranjo consegue muitas vezes filmar o par de adolescentes que fogem das respectivas famílias de uma forma saudavelmente distanciada. Aliás, se problema aqui há, é no contracampo, demasiado simplificado: o pai dele, deputado, rico, corrupto; a mãe dela, sozinha, desesperada na sua incapacidade maternal. Sendo o par em fuga (uma fuga que é ilusoriamente espacial, pois ambos se escondem no telhado de casa dele, e essencialmente espiritual) o centro do filme, numa espécie de "Pierrot Le Fou" adolescente, um rapaz, uma rapariga, o filme não é desinteressante. O encontro deste par permite também a abertura do enquadramento de Naranjo, inicialmente colado aos rostos. E é quando este enquadramento se abre que vemos não só as dúvidas de dois adolescentes no mundo como as dúvidas de dois adolescentes no mundo um do outro. Ainda que nunca oferecendo algo de novo, parece um filme que lida com o seu objecto de forma justa. É pena, portanto, que Naranjo não só ceda a uma estrutura de argumento (construido em torno de uma fuga e um regresso que mais tarde ou mais cedo acontecerá) como ceda também a uma conclusão sacana. É o pior que, gostaria que concordassem, podemos achar de um filme: quando ele faz algo que não deveria ter feito. Ou, é o que acho aqui, algo que não pode fazer. Spoiler. Não se pode filmar dois adolescentes que se comportam de forma anormal, segundo padrões vigentes, aceitá-los assim, e depois em escassos minutos haver uma morte, dela, directamente ligada a essa opção que ambos tomaram, a da fuga, mas essa morte ser... sem querer. Ou seja, não se pode dar a mão, que é o que Naranjo faz ao distanciar-se de um qualquer comentário sobre o comporamento do par, para depois a largar. É isso que Naranjo faz: ele larga-os. E é isso que não posso aceitar.

Monday, February 02, 2009

Like two people whose paths seem to cross, and then they don't

And I tell you with my tongue between your toes

Sunday, February 01, 2009

The State The Sea Let Me In & The Sea Waltz

Na terceira fila da sala 3 do São Jorge eu ouvia a miúda chorar desalmadamente na cadeira à minha frente.