#4 Berlinale com tapete vermelho
Secção Berlinale Especial
"Singularidades de uma Rapariga Loura", Manoel de Oliveira
"Singularidades de uma Rapariga Loura", o terceiro filme contemporâneo que vejo na Berlinale, lava-me os olhos. A arte deste filme não reside só na experiência de Oliveira - quero já recusar esse pensamento de que a sua idade seja caução para o seu cinema. Será também, é certo, factor importante na medida em que a experiência de vida tolda uma pessoa, mas penso que a arte deste filme vem da convicção de Oliveira. Convicção no cinema como uma arte clara e precisa. É assim que Oliveira continua a filmar, regressando a uma espécie de amor frustrado com esta adaptação do conto homónimo de Eça de Queirós. E é uma continuação óbvia na obra de Oliveira se pensarmos também no Macário de Ricardo Trêpa como indivíduo com um caminho árduo para completar, neste caso, tudo o que tem que fazer para poder casar com Luísa.
A Lisboa do século XIX não foi reconstituida, mas o texto de Eça não foi modificado. A opção parece-me simples de tomar, tendo em conta a riqueza e concisão do texto, que por sua vez se ajusta à economia narrativa (não há nada a mais, nada a menos) do realizador. Sendo este filme uma grande estória de amor, toda essa forma limpa como se trabalha o texto de Eça, a precisão do quadro ou o riquíssimo trabalho de som, que oculta o privado (o par) do público, torna-a mais trágica (não só no desenlace, mas também no seu decorrer). O que está oculto em "Singularidades de uma Rapariga Loura" torna-se fundamental (e que diferença para um qualquer truque de argumento), porque o facto de algo estar oculto não significa que Oliveira nos tenha escondido alguma coisa. Pelo contrário, a chave do filme foi-nos dada claramente, ou pelo limpo trabalho de som, uma ficha que nao cai no chão e desaparece, ou por um demorado jantar com conversa entre Trêpa e Diogo Dória. É uma forma de trabalhar ética e isso não impede que o drama tenha a força do amor de Macário, herói trágico.
"Singularidades de uma Rapariga Loura", Manoel de Oliveira
"Singularidades de uma Rapariga Loura", o terceiro filme contemporâneo que vejo na Berlinale, lava-me os olhos. A arte deste filme não reside só na experiência de Oliveira - quero já recusar esse pensamento de que a sua idade seja caução para o seu cinema. Será também, é certo, factor importante na medida em que a experiência de vida tolda uma pessoa, mas penso que a arte deste filme vem da convicção de Oliveira. Convicção no cinema como uma arte clara e precisa. É assim que Oliveira continua a filmar, regressando a uma espécie de amor frustrado com esta adaptação do conto homónimo de Eça de Queirós. E é uma continuação óbvia na obra de Oliveira se pensarmos também no Macário de Ricardo Trêpa como indivíduo com um caminho árduo para completar, neste caso, tudo o que tem que fazer para poder casar com Luísa.
A Lisboa do século XIX não foi reconstituida, mas o texto de Eça não foi modificado. A opção parece-me simples de tomar, tendo em conta a riqueza e concisão do texto, que por sua vez se ajusta à economia narrativa (não há nada a mais, nada a menos) do realizador. Sendo este filme uma grande estória de amor, toda essa forma limpa como se trabalha o texto de Eça, a precisão do quadro ou o riquíssimo trabalho de som, que oculta o privado (o par) do público, torna-a mais trágica (não só no desenlace, mas também no seu decorrer). O que está oculto em "Singularidades de uma Rapariga Loura" torna-se fundamental (e que diferença para um qualquer truque de argumento), porque o facto de algo estar oculto não significa que Oliveira nos tenha escondido alguma coisa. Pelo contrário, a chave do filme foi-nos dada claramente, ou pelo limpo trabalho de som, uma ficha que nao cai no chão e desaparece, ou por um demorado jantar com conversa entre Trêpa e Diogo Dória. É uma forma de trabalhar ética e isso não impede que o drama tenha a força do amor de Macário, herói trágico.
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