Tuesday, February 10, 2009

Berlinale sem tapete vermelho #3

Secção Fórum


"Aguas Verdes", Mariano de Rosa

No final da sessão, o realizador Mariano de Rosa comentava a propósito do desenvolvimento narrativo do seu filme "Aguas Verdes" qualquer coisa como começar como Eric Rohmer e acabar como thriller psicológico americano. Foi quando me levantei e me vim embora. "Aguas Verdes", cujo enredo se centra nas férias balneares de uma família e, especificamente, na insatisfação do pai em relação às pessoas que a família conhece, tem espelhado esse desejo do realizador em fazer muitas coisas ao mesmo tempo. O filme ressente-se com isso e muda, muito estranhamente, de tom ao longo dos 90 minutos. Aquilo que começa por ser uma comédia, que eu vi durante a projecção como um trabalho desatento ao nível da montagem e banda sonora, mas que era propósito de de Rosa segundo o próprio, vai perdendo essa vertente cómica até chegar ao tal lado de thriller (que não é bem um thriller, mas simplesmente uma fase, a final, em que a acção se torna mais violenta). É precisamente na transição que o filme ganha interesse, pois de Rosa deixa de filmar o pai como um pateta para filmar a sua progressiva loucura, assente na ambiguidade de situações que o rodeiam. Nem ele nem o espectador sabe muito bem o que se está a passar e esse mistério, essa indefinição, essa falta de alguma coisa onde nos possamos agarrar é interessante. É muito pouco tempo. Depois o filme tem que se concluir com a tal fase mais violenta, o final das férias, nenhuma explicação para a estranheza dos eventos (interessante) e uma simbologia oca ("não há simbologia", diz de Rosa; "fode-te", penso eu), um grande plano de um peixe que a certa altura foi pescado e que o filho mais novo guarda (francamente desinteressante).

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