Saturday, February 24, 2007

ípsilon

Faz capa do ípsilon de hoje o fosso que se cavou entre crítica e público no que a "Babel" (Iñarritu, 2006) diz respeito. Nada contra a ideia - importa perceber o fenómeno -, alguns problemas com a execução.

i) A blogosfera é logo alvo de generalização, como se toda ela tivesse amado o filme. Não é o caso, há vários exemplos que o mostram.

ii) A citação que se faz de Mark Peranson - "Agora que o tribunal internacional em Haia já despachou Milosevic, proponho Iñarritu" - mostra o tom leviano com que o artigo é escrito. Parecem mais importantes as pequenas curiosidades do que ir ao fundo.

iii) Falar em prémios parece-me ser fugir ao essencial. Afinal, o fosso estava criado antes das nomeações aos Oscars. Mesmo a parte em que é colocada a questão da intensidade do fosso, aumentada pelas nomeações, foge ao cerne da questão.

iv) Percebe-se que seria perder tempo ir em busca do verdadeiro público. Porém, darem esse papel a Daniel Oliveira é errado. As suas, a meu ver, infelizes declarações agravam a escolha.

Parece-me que levar o assunto para os prémios, os Oscars em específico, descarrilou a ideia inicial de explicar o fosso entre críticos e público. Mesmo falando nos prémios, é o comentário de Luís Miguel Oliveira que ainda vale a pena ler para compreender um pouco a questão. Parece-me, portanto, um artigo falhado e até algo irresponsável. Não existindo publicações especializadas, custa ver estes casos em que aquilo que ainda nos vale, a nós gente interessada, suplementos de jornal, neste caso o ípsilon, desaproveitarem seis páginas para aparentar uma interessante discussão que afinal quase não discute coisa nenhuma.

Outra vez II

"I Know Where I'm Going!", mais um filme que passou recentemente no ciclo de cinema da Gulbenkian e que aparece na programação de Março da Cinemateca na secção O Que Quero Ver.

Quem quer explicar?


Este, por acaso, até não vi lá e, provavelmente, vejo agora.

Thursday, February 22, 2007

Purificação



Por este filme passam a amargura, a solidão, o mal - só através deles é possível a purificação final. Aparentemente pacífico e simples, é tão complexo como qualquer filme de Ford.

Em cartaz

Der Leben der Anderen (Florian Henckel von Donnersmarck, 2006): É muito simples e extremamente eficaz a forma como se trabalha este filme: tendo em mão material político, neste caso a polícia política da ex-RDA, dá-se evidência ao lado humano, construindo personagens sólidas, nunca caindo em maniqueísmos de qualquer espécie, antes reforçando uma ideia-chave - a ambiguidade dos sentimentos humanos.

Die Grosse Stille (Philip Gröning, 2005): A certa altura no filme, um monge cego diz qualquer coisa como: "Passado e presente é humano. Para Deus há apenas presente." Pode estar aqui a pequena divindade deste filme: ir filmar o mosteiro da Grande Cartuxa e os seus monges como forma de construir um tempo, que devido à abordagem de simples registo, não é - nem pode ser - outra coisa senão presente. Fascina-me essa ideia que, pessoalmente, transporto para a minha própria religiosidade do presente, dentro da sala de cinema.

The Last King of Scotland (Kevin Macdonald, 2006): Tem-se dito que este filme olha para Idi Amin do ponto de vista do jovem médico. Percebo, mas não concordo muito. Isto porque, desde o princípio, o filme instala a sua própria visão sobre ele, a meu ver simplista, não querendo nunca sair do pré-juízo que se tem sobre um ditador sanguinário. Neste sentido, mais penoso ainda que aqueles zooms de bolso ou o mau gosto como se filma a violência (a sequência com o médico negro, personagem surpreendentemente comovente, é o expoente deste mau gosto), é o esforço do magnífico Forrest Whitaker e de James McAvoy a tentarem, infrutiferamente, remarem contra a ideia redutora do filme.

Wednesday, February 21, 2007

Ler cinema II

Através de O Signo do Dragão (obrigado), cheguei a esta excelente entrevista dada pelo John Milius. Sobre ele, mas também sobre Coppola, Spielberg, Lucas e, acima de tudo, sobre resistir no sistema industrial do cinema americano. Aqui.

Monday, February 19, 2007

Como o Cinema era belo

Número de idas: 13

The River, Renoir
Au Hasard Balthazar, Bresson
The Shop Around the Corner, Lubitsch
It's a Wonderful Life, Capra (revisto)
Leave her to Heaven, Stahl
Lilith, Rossen
Letter From an Unknown Woman, Ophuls
Zir-e Derakhtant-e Zeytun, Kiarostami
The Girl in the Red Velvet Swing, Fleischer
Viver Sa Vie, Godard
Senso, Visconti
Ivan Grozny, Eisenstein
The New World, Malick (revisto)

Os filmes que mais gostei de ver pela primeira vez foram o Bresson, o Lubitsch e o Visconti. Muito perto destes o Rossen, o Kiarostami e o Godard. Depois o Renoir e o Eisenstein. Noutro patamar, ainda o Stahl. O Ophuls e o Fleischer deram-me bons filmes, não evitando, porém, uma ligeira decepção. Conto 10 obras-primas vistas: os primeiros 8 que mencionei, juntando o revisionamento do Capra e do Malick, este último visto com outros olhos que não os com que o tinha visto o ano passado e a que voltarei noutro post.

Poderia falar nos que não pude descobrir, nos que já tinha visto e não pude ver numa sala de cinema, mas não estou virado para tristezas.

Sunday, February 18, 2007

Rocky Balboa (Sylvester Stallone, 2006)

Que belo filme é "Rocky Balboa", mesmo com os seus problemas, aos quais não me quero referir. Isto porque interessa muito mais destacar as suas qualidades.

Sylvester Stallone, mais do que talento, tem convicções e coragem. A convicção de que ainda tem muito para dar e a coragem para assumi-lo quando já ninguém acredita nele. É por isso que "Rocky Balboa" não é outra coisa senão um filme sobre Stallone.

"But it ain't about how hard you hit, it is about how hard you can get hit and keep moving forward, how much can you take and keep moving forward. That's how winning is done!"

Cair e levantar. Stallone passou os últimos 20 anos a levar, raras vezes "respirou" ("Cop Land", James Mangold, 1997) e envelheceu sem notoriedade. Como Rocky, quase desapareceu, ninguém se lembra dele.

"The world ain't all sunshine and rainbows. It is a very mean and nasty place and it will beat you to your knees and keep you there permanently if you let it."

Este filme é Stallone a dizer que ainda existe.

"What's crazy in standing saying I am?'"

Não é, porém, apenas um filme contra o resto do mundo. O próprio Stallone sabe reconhecer as más escolhas que fez, inclusivé na própria saga deste personagem. Daí que o regresso ao filme de 1976 - este filme também é uma homenagem a esse filme, em termos iconográficos, mas, mais importante, em termos humanos - faz com que essa elipse de 30 anos seja, também, o seu pedido de desculpas. Isto porque em nenhuma sequela se voltou à humanidade transbordante de Rocky no primeiro filme.

Neste filme, a primeira vez que vemos Rocky, vemo-lo a alimentar os seus animais. Como ele amava o Butkus do seu primeiro filme, ama agora Punchy, que vai buscar ao canil. Spider Rico, pugilista que Rocky combateu no primeiro filme, come de borla no restaurante que Rocky mantém. "Spider Rico could hit", diz ele como se fosse o seu melhor amigo.

E Adrian. Como Rocky amava Adrian, formando um casal lindo de inadaptados. Adrian faleceu, mas Rocky ama-a da mesma maneira. Vê-lo religiosamente no cemitério, sentado na cadeira que deixa lá quando se vai embora, confirma-o como um humano singular. Aliás, essa humanidade, esse amor infinito que parece existir dentro dele, só poderia vir de um personagem assim: tonto, mas extremamente lúcido. Há uma sequência magnífica: o "tour" anual no dia da morte de Adrian. Rocky enfrenta os seus fantasmas e percorre a loja de animais agora fechada, a sua antiga casa, o sítio onde existia a pista de gelo, acabando num fabuloso plano em contra-luz como se fosse ele também um fantasma. É esse fantasma que ele enfrenta, neste filme, libertando o "stuff in the basement".

O regresso de Rocky ao ringue é o regresso de Stallone ao cinema. Mas agora um regresso com um filme seu e a sua convicção de que não deixará os outros deitarem-no abaixo, não se importará com quem se ri dele, importa fazer o que quer e sentir-se bem consigo mesmo. É por isso que, no filme, quando o combate acaba num empate, Rocky não fica à espera do resultado dos juízes. Ele já não se importa, ele já ganhou, já tinha ganho quando chegou ao cimo da escadaria do museu de arte de Filadélfia, vestindo o fato de treino cinzento e all-star pretos de há 30 anos. Para redenção tão bela, insisto, é preciso ter convicções fortes e coragem. É mais, muito mais do que costumamos ter na maior parte do cinema americano.

"Yo Adrian, we did it."


É um orgulho ter um herói de infância assim.

Saturday, February 17, 2007

Ler cinema

Recomendo a leitura do artigo "No Secrets, Just Lessons: A Dialogue Between Pedro Costa and Thom Anderson on Danièle Huillet and Jean-Marie Straub" na última edição da Cinema Scope.

Wednesday, February 14, 2007

In the Mood for Love

Photobucket - Video and Image Hosting

Ainda assim...

Apesar de "The Scarlet Empress" ser um dos mais sensuais e sexuais filmes, a minha Marlene ainda é a de "Touch of Evil" (Orson Welles, 1958).

Aos 57 anos.

Photobucket - Video and Image Hosting

Cinemasexo

Ver um filme como "The Scarlet Empress" (Josef Von Sternberg, 1934) deixará - desculpem-me as senhoras - qualquer homem em êxtase. Marelene Dietrich é, para isso, fundamental, mas tão fundamental é estar Sternberg a dirigi-la.

A construção do filme é a de uma relação sexual, dominada, neste caso, por Marlene. A extravagância do décor cria o ambiente, a chamada do poder a si por Marlene aumenta o desejo, o seu sucesso - e essa extraordinária sequência final da cavalgada - é a consumação impossível entre Marlene e espectador.


Não ter visto o filme na Gulbenkian é que não foi nada boa ideia.

Tuesday, February 13, 2007

Professor

"Há alguns anos, uma das minhas alunas era cega. Aprendi muito, através dela e da sua solidão perceptiva, o que tudo isto quer dizer. Era a única cineasta da turma, a única que realmente vía."

(João Mário Grilo)

in O Homem Imaginado, João Mário Grilo

Regresso

Monday, February 12, 2007

Acreditar em si

O meu fétiche por listas faz-me regressar, constantemente, ao sítio da Sight & Sound e ao seu top 10 de todos os tempos.

Desta vez destaco as escolhas de George Romero, mas especialmente a sua afirmação inicial:

"If I were to attempt selections based on content or craftsmanship, I'd be intellectualising. I'd probably sound phoney, and I would no doubt include one or two of my own films which, intellectually, I believe to be works of genius. I prefer to think of top ten as meaning favourite. (...)"

Carregado meu.

Sunday, February 11, 2007

Dar visibilidade

É preciso que "Rocky Balboa" (Sylvester Stallone, 2006) não passe em claro.

Não concordando com tudo, fica aqui o texto do José Oliveira.

Saturday, February 10, 2007

Mesmo à minha frente

Sou grande admirador de Pedro Costa. Só me falta ver "O Sangue" (1989), seu primeiro filme, falha que vou colmatar em breve. Aquando da estreia de "Juventude em Marcha" (2006), falou-se em Ozu, Ford, expressionismo e...Straub-Huillet.

Infelizmente, nunca vi Ozu, assunto que arrumei logo e que retomarei quando o vir. No filme de Costa via Ford, via expressionismo, mas...não via o casal Straub. Deles também só vi dois filmes: "Nicht Versöhnt" (1965), visionamento já posterior ao filme de Costa, e "Sicilia" (1999), filme de que, simplesmente, não gostei quando o vi (a este assunto voltarei noutro post). Era coisa que me dava cabo da cabeça: "mas onde é que eles os vêm?"

Apenas ontem, ao ver "Onde Jaz o teu Sorriso?" (2001), percebi a influência e a pergunta passou a ser outra: "mas como é que eu não vi logo?" Estava mesmo à minha frente.

"(...) Quando alguém nos diz: 'A forma é tudo, a ideia não conta', é pura cobardia, não é verdade, tem de se ver bem as coisas: a ideia existe! Depois, há uma matéria e depois, uma forma. E aí, não há nada a fazer, ninguém lhe pode dar a volta. A ideia é o que faz Eisenstein quando tem uma primeira continuidade, é a sua montagem de atracções, depois há a matéria, ele tem de determinar a duração dos planos que alinhou, isso é a matéria. E o que nós estamos aqui a fazer é a ideia que estava no papel, a construção do filme, a continuidade dos planos e, a seguir, trabalhamos sobre uma matéria. Temos uma matéria que nos resiste e não se pode cortar ao calhas entre dois planos, já tinha dito isto, antes de vir para este cubículo... Depois desse trabalho, da luta entre a ideia e a matéria e da luta com a matéria, nasce a forma! (...)"

(Jean-Marie Straub)

Carregados meus.

Friday, February 09, 2007

Les Fiancés du Pont Mac Donald

Thursday, February 08, 2007

Pacote

Enquanto a Claire Denis continua na gaveta, chamo a atenção para o número de estreias desta semana: nove, sublinho, nove - 9. Assim, não dá pá.

Ouro

Onde está Claire Denis?



Já lá vão quase 10 meses depois do último IndieLisboa e continua a não haver sinal de "L'Intrus", de Claire Denis, datado de 2004, que no referido festival era apresentado em ante-estreia. Para estar referido assim, é porque está comprado por alguma distribuidora, mas no sítio mais provável - Atalanta Filmes - não encontrei vestígios. Nem em sítio nenhum, verdade seja dita. Nalguma gaveta, com certeza, estará. E já há filme depois deste.

E custa. Se fosse só a reputação que vem criando, pelas suas próprias obras claro está, mas ter sido assistente de Costa-Gavras, Wenders e Jarmush ajuda, não me perturbaria tanto. Perturba-me porque lá para o ano de 2002 ou 2003 a Zero em Comportamento (os meninos do Indie) organizou um ciclo de cinema dedicado à senhora e onde tive a oportunidade de ver o "Trouble Every Day" (2001), melodrama canibal (perdoem-me...) onde conviviam os mais loucos desejos e os mais profundos e melancólicos amores. Perturbador, mas revelador, sem dúvida. De uma autora que não podemos ver.

Bobby (Emilio Estevez, 2006)



Filme desequilibrado, mas interessante, "Bobby", em exibição. Unidade de tempo e unidade de espaço fazem que seja essa a sua maior força, a de conseguir estabelecer uma atmosfera precisa de um tempo passado, que, por sua vez, ecoa no presente. Porém, é também daí que surge um dos seus problemas: ao querer reforçar a atmosfera com um grande número de personagens e uma narrativa-mosaico, nunca há tempo suficiente para qualquer uma delas, caindo-se facilmente na caricatura (mesmo que haja momentos interessantes com alguma delas). A meu ver, bastante subtil nos seus propósitos iniciais, perde em deixar essa subtileza para se resolver de forma bem mais estampada - e quando há uma mensagem à mistura, dificilmente isso não incomoda.




É caso para dizer que ainda falta mão cinematográfica forte a Emilio Estevez, que, porém, mostra saber o que quer filmar. O que já é bom e me faz tê-lo em atenção.

Tuesday, February 06, 2007

Traduções III

Em "Bobby" (Emilio Estevez, 2006), num jogo de ténis, uma das personagens diz "forty-zero". A tradução é 14-0.

Monday, February 05, 2007

Arcade Fire

Aos 20 segundos da faixa 5 do novo álbum acontece algo mágico:

Run from your memory
Je nage mais les sons me suivent


Sobre o novo álbum, espero poder dizer algo mais consistente nos próximos tempos.

Superfreak

Long shot

"The size of the image is used for dramatic purposes, and not merely to establish the background.

Just the other day I was doing a television show and there was a scene in which a man came into a police station to give himself up. I had a close shot of the man coming in, the door closing behind him, and the man walking up to the desk; I didn't show the whole set. They asked me, 'aren't you going to show the whole thing so that people know we're in a police station?'

I said, 'Why bother? The sergeant has three stripes on his arm right next to the camera, and that's enough to get the idea across. Why should we waste a long shot that may be useful at a dramatic moment?'"

(Alfred Hitchcock)

in Hitchcock, François Truffaut

Saturday, February 03, 2007

Malloy/Balboa

Rocky Balboa

Tenho muito carinho pela saga Rocky. Quando era muito novo, o Rocky era o MEU herói. Adorava vê-lo ganhar e por isso, para mim, durante muito tempo, só exixtiam o "Rocky III" e o "Rocky IV", dois dos piores filmes de todos os tempos. Ainda assim, não resisto a vê-los.

Mais maduro, descobri os restantes filmes. "Rocky" e "Rocky II" antes de "Rocky V". O primeiro filme, que revi há poucos dias, continua muito bom: sujo, desencantado, variando sobre o tema do "underdog" ao mesmo tempo que espelhava o seu criador - Sylvester Stallone. O segundo era o começo da rentabilização do sucesso da personagem, mas ainda mantinha algumas das qualidades do primeiro filme. O terceiro e o quarto metem nojo. O quinto tentava regressar ao espírito dos primeiros dois filmes, levando Rocky às suas origens pobres. Por isso mesmo é a mais falhada das sequelas (não a pior, atenção), acabando com um herói vencedor, esquecendo-se completamente daquilo que, afinal, poderia trazer interesse - o regresso às origens.

Por isso, EU saúdo o sexto tomo, "Rocky Balboa". Se houver uma busca pela redenção, poderá estar aqui um grande filme e até vê-lo essa esperança deixa-me feliz e com a ideia de que o MEU herói poderá ter um final digno e honroso. Mas tenho muito medo do filme...

Relativo ao post anterior

Ler Fever Pitch de Nick Hornby. Apresenta-se assim:

"I have measured out my life in Arsenal Fixtures, and any event of any significance has a footballing shadow. When did my first real love affair end? The day after a disappointing 2-2 draw at home to Coventry."

E para abrir o apetite:

"I have learned things from the game. Much of my knowledge of locations in Britain and Europe comes not from school, but from away games or the sports pages, and hooliganism has given me both a taste for sociology and a degree of fieldwork experience. I have learned the value of investing time and emotion in things I cannot control, and of belonging to a community whose aspirations I share completely and uncritically. And on my first visit to Selhurst Park with my friend Frog, I saw a dead body, still my first, and learned a little bit about, well, life itself.

As we walked towards the railway station after the game, we saw the man lying in the road, partially covered by a raincoat, a purple-and-blue Palace scarf around his neck. Another younger man was crouched over him, and the two of us crossed the road and went to have a look. 'Is he all right?' Frog asked. The man shook his head. 'No. Dead. I was just walking behind him and he keeled over.' He looked dead. He was grey and, as far as we were concerned, unimaginably motionless. We were impressed. Frog sensed a story that would interest not only the fourth year but much of the fifth as well. 'Who done him? Scousers?'

At this point the man lost patience. 'No. He's had a heart attack, you little prats. Now fuck off.' And we did, and that was the end of the incident. But it has never been very far away from me since then, my one and only image of death; it is an image which instructs. The Palace scarf, a banal and homely detail; the timing (after the game, but mid-season), the stranger paying distressed but ultimately detached attention. And, of course, the two idiotic teenagers gawping at a tiny tragedy with unembarrassed fascination, even glee.

It worries me, the prospect of dying in mid-season like that, but of course, in all probability I will die sometime between August and May. We have the naive expectation that when we go, we won't be leaving any loose ends lying around: we will have made our peace with our children, left them happy and stable, and we will have achieved more or less everything that we wanted to with our lives. It's all nonsense, of course, and football fans contemplating their own mortality know that it is all nonsense. There will be hundreds of loose ends. Maybe we will die the night before our team appears at Wembley, or the day after a European Cup first-leg match, or in the middle of a promotion campaign or a relegation battle, and there is every prospect, according to many theories about the afterlife, that we will not be able to discover the eventual outcome. The whole point about death, metaphorically speaking, is that it is almost bound to occur before the major trophies have been awarded. The man lying on the pavement would not, as Frog observed on the way home, discover whether Palace stayed up or not that season; nor that they would continue to bob up and down between the divisions over the next twenty years, that they would change their colours half a dozen times, that they would eventually reach their first FA Cup Final, or that they would end up running around with the legend 'VIRGIN' plastered all over their shirts. That's life, though.

I do not wish to die in mid-season but, on the other hand, I am one of those who would, I think, be happy to have my ashes scattered over the Highbury pitch (although I understand that there are restrictions: too many widows contact the club, and there are fears that the turf would not respond kindly to the contents of urn after urn). It would be nice to think that I could hang around inside the stadium in some form, and watch the first team one Saturday, the reserves the next; I would like to feel that my children and grandchildren will be Arsenal fans and that I could watch with them. It doesn't seem a bad way to spend eternity, and certainly I'd rather be sprinkled over the East Stand than dumped into the Atlantic or left up some mountain."

Escusado será dizer que a recomendação é só para quem gosta de futebol.

Fever Pitch

Já não ía à Luz desde esse 2-1 que eliminou o Man Utd da Champions, a época passada, e que vi sozinho (se excluirmos os outros 60.000 que lá estavam). Voltei ontem, estavam 50.000 na bancada.

Ir ao futebol ocasionalmente faz com que a sensação de maravilhoso esteja lá a cada ida. A atenção extrema ao jogo, a necessidade de repetições, os gestos nervosos incontroláveis quando a equipa não está a ganhar, os palavrões a 200 à hora.

O melhor de uma ida ao estádio é o sofrimento.

Friday, February 02, 2007

Novo poeta novo

Tiago Tejo tem poema novo no seu Arrepio Cardíaco.

Método de Micoli au ralenti de Scorsese



Post dedicado ao meu amigo Miguel.

Traduções II

No filme "Little Children", decorridos uns 20 minutos, uma personagem, que ainda mal conhecemos, é tratada como "weirdo". A tradução é "pedófilo".

O ponto de vista do tradutor é completamente dispensável.

Author, Author

Thursday, February 01, 2007

Possível definição de cinema

Fazer-me acreditar no que não acredito.



Post, evidentemente, muito pessoal.

Cinemateca, Janeiro

Número de idas: 15

- The Student Prince in Old Heidelberg, Lubitsch
- Le Mépris, Godard
- My Darling Clementine, Ford
- Nicht Versöhnt, Straub-Huillet
- Orphans of Storm, Griffith
- Bunny Lake is Missing, Preminger
- Nosferatu, Murnau
- Der Brennende Acker, Murnau
- The Left-Handed Gun, Penn
- Schloss Vogelod, Murnau
- Die Finanzen des Grossherzogs, Murnau
- Tell Me That You Love Me Junie Moon, Preminger
- Der Letzte Mann, Murnau
- Faust, Murnau
- City Girl, Murnau

Conclusão: preciso de emprego

10 anos depois

"The past is never dead--it hasn't even passed." (Jean-Luc Godard)



O que é magnífico cinematograficamente e horrível para mim enquanto espectador é o facto das imagens captadas aquando da feitura de "Nuit et Brouillard" me perturbarem mais do que as de arquivo.