Ninguém vai concordar comigo nesta, mas ao ler, hoje, no Público, a crónica do Vasco Pulido Valente sobre os totalitarismos que se vão instalando na democracia ocidental, lembrei-me dum filme em cartaz: "A Invasão", de Oliver Hirschbiegel. Filme que tem levado sova atrás de sova. Não vou dizer que é grande cinema, não, mas custa-me ver tanta sova num filme que, vindo directamente do
mainstream norte-americano, consegue passar, de forma nada discreta convém admitir, uma mensagem anti-normalização, que, nestes tempos, só pode ser entendida (ou não entendida, pelos vistos) como fortemente política. Política num sentido de incorrecção relativamente à norma, isto é, um filme que defende a imperfeição humana em favor da paz ou da estagnação ideológica.
Consta que a montagem do alemão não foi aceite e até chamaram o Team Wachowski para resolver os "problemas". O que parece reforçar as intenções com que Hirschbiegel, não o de "Der Untergang", mas seguramente o de "Das Experiment", se mandou ao projecto. Tão raro que é ver-se um filme com nervo político a sair de Hollywood e, sabendo-se de problemas na produção, logo há quem aproveite para ver o filme às três pancadas e atirar-se aos "problemas narrativos" do filme (os mesmos que, sem ser dos já consagrados experimentadores narrativos, esperam o classicismo até morrer). Repito: não é grande cinema, mas com tanta merda que estreia e em que se consegue achar virutdes impossíveis, chateia-me imenso que este não tenha a mínima hipótese. Mas ninguém vai concordar comigo, creio.
Quem não viu o filme que lhe dê uma oportunidade. Nem que seja pelo miserável cartaz ou, bem melhor, pelos breves segundos de Nicole Kidman em belas calças de pijama e em belo top.