Friday, November 30, 2007

Controlos

Isto devido à minha experiência do visionamento de "A King in New York" (Charles Chaplin, 1957). Por um lado, passo grande parte do filme incomodado com a necessidade de Chaplin contar a sua história, trabalhando em forma de violenta sátira como se disparasse de olhos fechados para todo o lado. Como se sabe, acerta-se às vezes, outras nem por isso. Como disse, esse factor, o de uma certa falta de controlo, à falta de melhor palavra, emocional, incomodou-me. Mas depois, por outro lado, era levado pela fluidez do filme, naquele registo clássico em que parece que não se falha um timing de corte ou de movimento dentro do plano. Fiquei estupefacto com o controlo de Chaplin. A construção do gag da casa de banho, quando Dawn Addams aparece pela primeira vez, vem directamente do mudo (só ouvimos o som de palavras preoferidas porque o filme é sonoro, pois não servem para nada). Num filme bastante "despido" como é este, diria que o timing é fundamental e Chaplin domina-o por completo.

Fico a pensar, então, no valor da sátira e mesmo no da estória que o filme conta. Será que interessam mesmo para alguma coisa? Será que não são uma espécie de macguffin? Não tenho certezas. A rever.

Novembro

Wednesday, November 28, 2007

A minha cabeça

Francis Ford Coppola consegue finalmente transmitir o mesmo filme para todo o mundo ver ao mesmo tempo. Inesperadamente, escolhe um filme de outra pessoa, neste caso "Dans Le Noir Du Temps", de Godard. Depois de visto, todas as pessoas regressam aos seus afazeres com a mais profunda melancolia, mas com uma sensação de que algo está feito. E deixa de haver cinema.

As Aranhas

Não só dos melhores blogues nacionais como o melhor blogue national.

Tuesday, November 20, 2007

Pós-Weekend

Saio do "Weekend" do Godard (logo do "Weekend" do Godard), caminho à chuva, entro no metro e entra também um senhor, cinquentas, saco de plástico, sem abrigo, não tão mal vestido como ele diz - aliás, a sua postura é fortíssima e o facto de as suas roupas estarem visivelmente usadas não lhe enfraquece a postura. O senhor discursa contra o estado, contra o facto de uma manhosice das finanças lhe ter roubado dinheiro no passado e disso ter resultado um dominó descendente que hoje significa viver na rua. Foram-lhe recusadas casas várias vezes, incluindo pré-fabricados. A Santa Casa não ajuda.

O seu discurso oral é vigoroso, num português correctíssimo (correcção que com aquela fluência discursiva eu não alcançaria), sem palavrões a não ser um "cagando" (que não é palavrão nenhum, mas é o mais próximo que lhe sai) e mesmo essa palavra ele não a diz até ao fim, autocensurando-se e saindo apenas "cagand...". Há muita classe naquele senhor.

As pessoas que vão no metro, ora se espantam, ora ignoram. "Olha-me este maluquinho" sai-lhes dos olhos. Não posso saber se o que ele diz é verdade, mas eu acredito nele. No plano geral, porém, sou apenas mais um passageiro calado; naquela carruagem só se distingue o senhor que discursa. Em toda a minha falência, resta-me ouvi-lo com atenção. Sabendo que os maluquinhos somos nós.

Monday, November 19, 2007

unmagnificent lives of adults

Continuar a sorrir. Como Noriko.

Wednesday, November 14, 2007

Pereira, Un Portrait du 21e Siècle

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Se me virem na rua, digam olá.

Eh, what's the difference?

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Atirar pedras, dar concertos.

Atirar pedras é uma forma de dizer que não, e fazer um concerto num checkpoint, como já fizemos, ou no muro, é uma outra forma de dizer que não. Dar às crianças palestinianas a possibilidade de viver uma outra infância, que não quer dizer atirar pedras, também é uma forma de resistir. De dizer que nos querem fazer sentir mortos mas não conseguirão.


Ramzi Aburedwan, músico, citado em Oriente Próximo de Alexandra Lucas Coelho

Prisão formal

O problema principal de "The Brave One" (Neil Jordan, 2007) parece-me residir na sua prisão formal. É que a premissa, muito interessante enquanto potencial ponto de partida para uma reflexão sobre a vingança enquanto resultado do esgotamento processo-burocrático da sociedade contemporânea, é sempre relegada para segundo plano, parecendo haver uma necessidade de seguir os códigos do thriller. Enquanto a personagem de Jodie Foster vai acumulando assassínios no seu percurso vigilante, um detective da polícia está cada vez mais perto de saber a identidade desta vigilante. É na covergência destas duas personagens que se joga o thriller e é claro que o clímax surge para terminar o filme. Nada que saber. E é esta estrutura formal sem sal que abafa tudo o resto (menos Foster, vá).

Monday, November 12, 2007

RIP APV

O Tiago Ribeiro já tinha comentado, mas como não tinha visto, ouvido ou lido o senhor não liguei muito. Li-o agora e é desta que se esgota a pouca simpatia que ainda tinha pelo António Pedro Vasconcelos. É muito triste que um cineasta se limite dessa forma e tenha um discurso irónico-patético sobre terceiros que tenham uma opinião diferente. Muito mais do que a sua opinião sobre o "Zidane" (mas deixem-me referir que a minha resistência ao filme não nada que ver com a do APV), é a expressão "cineasta oficial do bairro das Fontainhas" que revela, por completo, que este já não é o seu tempo.

Saturday, November 10, 2007

Norman Mailer (1923-2007)

Tough Guys Don't Dance foi o penúltimo livro que li e o primeiro que li de Norman Mailer. Tão entusiasmado fiquei com o poder do romance (cujo último terço insere o golpe de asa que os primeiros dois necessitavam) que pus o título ali em cima bem juntinho do título deste blogue. Sobre Mailer sei pouco, uma ou outra informação "wikipédica", nome que figura sempre que se fala nos maiores escritores (americanos) do século XX. E é tudo da minha relação com Norman Mailer. Contudo, e se calhar estranhamente, fiquei muito triste com a notícia. Acho que vou saber porquê quando ler mais algumas das suas obras. Menos um.

Friday, November 09, 2007

Mainstream marginalizado

Ninguém vai concordar comigo nesta, mas ao ler, hoje, no Público, a crónica do Vasco Pulido Valente sobre os totalitarismos que se vão instalando na democracia ocidental, lembrei-me dum filme em cartaz: "A Invasão", de Oliver Hirschbiegel. Filme que tem levado sova atrás de sova. Não vou dizer que é grande cinema, não, mas custa-me ver tanta sova num filme que, vindo directamente do mainstream norte-americano, consegue passar, de forma nada discreta convém admitir, uma mensagem anti-normalização, que, nestes tempos, só pode ser entendida (ou não entendida, pelos vistos) como fortemente política. Política num sentido de incorrecção relativamente à norma, isto é, um filme que defende a imperfeição humana em favor da paz ou da estagnação ideológica.

Consta que a montagem do alemão não foi aceite e até chamaram o Team Wachowski para resolver os "problemas". O que parece reforçar as intenções com que Hirschbiegel, não o de "Der Untergang", mas seguramente o de "Das Experiment", se mandou ao projecto. Tão raro que é ver-se um filme com nervo político a sair de Hollywood e, sabendo-se de problemas na produção, logo há quem aproveite para ver o filme às três pancadas e atirar-se aos "problemas narrativos" do filme (os mesmos que, sem ser dos já consagrados experimentadores narrativos, esperam o classicismo até morrer). Repito: não é grande cinema, mas com tanta merda que estreia e em que se consegue achar virutdes impossíveis, chateia-me imenso que este não tenha a mínima hipótese. Mas ninguém vai concordar comigo, creio.

Quem não viu o filme que lhe dê uma oportunidade. Nem que seja pelo miserável cartaz ou, bem melhor, pelos breves segundos de Nicole Kidman em belas calças de pijama e em belo top.

Thursday, November 08, 2007

Festival do Paulo Branco

O Paulo Branco é "mafioso" (diz-se muito), claramente não anda de transportes públicos, tem uma postura dura e arrogante, mas na entrevista dada, hoje, ao Público diz umas quantas verdades.

Passaram 300 filmes. Também isso [32 mil espectadores] dividido por 300 filmes ou sessões não é muita coisa.

Mais do que isso, a utilização da palavra espectadores parece-me falsa. Não são 32 mil espectadores, mas 32 mil entradas. Faz toda a diferença. Eu não sou 16 especatadores; entrei 16 vezes, isso sim. 32 mil espectadores: era bom, era.

É um mérito, mas o que fica para os filmes? Passam e desaparecem. Quantos ficam? Fica o filme do Michael Moore [Sicko], que não precisa do festival para nada...

Quantos filmes do Doc se vão estrear em Portugal? Quantos a RTP vai comprar? Meia dúzia, nem isso.

Até agora, ficou também o "Zidane", mas passe o pequeno exagero, é o que ele diz.

Os festivais nunca formaram. São eventos, em que o público vem como se viesse para uma festa.

Há de formar alguma coisa que seja, não sou tão radical, mas a parte dos eventos está correcta. Os festivais são eventos, grande parte vai-se lá passear, tenho me fartado de dizer.

Acabando com as citações e pegando nestas últimas palavras, este Festival de Cinema Europeu não vai fugir ao estatuto de evento. Casino Estoril e Cascais Villa? Bilhetes a 4 e 6 euros? Os filmes em competição vão ter futuro diferente dos do Doc ou do Indie? O objectivo principal é ter projecção e estimular a reflexão? Não me fodam. O curioso desta entrevista é que tudo o que é negativamente apontado ao Doc, vai poder ser apontado a este, quase de certeza.

Dito isto, falta dizer que na Competição deverão estar umas pérolas que pouca gente vai ver e outros filmes mauzinhos, a mostra fora de competição é interessante e bem que gostaria de pôr coisas em dia, mas o combustível é um roubo, não tenho passe de comboio e mesmo que tivesse demoraria mais de uma hora a lá chegar. Não meto lá os pés.

Tuesday, November 06, 2007

Filosofia cinematográfica da bola

A primeira parte do jogo do Benfica foi como um filme pessimista do Ray ou do Eastwood. Há um passado duvidoso e por mais que se faça para o relativizar, essa hipótese é negada, ficando para a história apenas esse passado, a que já faz parte este jogo. Esse passado é negativo, mas tem ambiguidades suficientes. Desta primeira parte ninguém se vai lembrar.

PS: Post escrito sob a influência do álcool e da tristeza.

Meiozinho

O meiozinho do cinema, e seus compadrios, começa logo na escola.

Monday, November 05, 2007

De Lang a Cronenberg

João Bénard da Costa diz, na folha da cinemateca, que a sequência mais forte de "Cloak and Dagger" (Fritz Lang, 1946) é a luta silenciosa entre Gary Cooper e Mark Lawrence. É bem capaz. E é curioso que durante a mesma me tenha lembrado das palavras de David Cronenberg lidas no último ípsilon. Parece que em "Eastern Promises" há uma sequência que Cronenberg engendrou depois de ter visto aquele vídeo que circula na net em que um terrorista decapita um prisioneiro (se não viram, não vejam). Cineasta do corpo, Cronenberg sabe que os superbourne são mentira e, em boa verdade, nem é preciso ser grande estudioso do corpo - basta já ter andado à porrada (e não me venham com agentes especiais contemporâneos e aquela arte marcial israelita, cujo nome agora não me vem). Não vi o novo filme do canadiano, mas aposto que será grande sequência. Mas, como tudo, isso já está lá atrás, precisamente nessa sequência do Lang referido - o silêncio, a lentidão, os esgares, a pressão das mãos. E isto vem dentro duma questão maior, isto é, o grau de verdade de um filme, neste caso, da verdade que se dá do corpo humano.

Página 161

Foi crucial.

in Oriente Próximo, Alexandra Lucas Coelho, Relógio D'Água

Tão crucial que não desafio ninguém.

Sunday, November 04, 2007

Cinco

Cinco... Isto faz-se, Tiago? Podia ser pior, na primeira leitura comecei a pensar num Top 5 tout court e, já que nem um top 10 consegui fazer alguma vez, ia comentar a recusar. Mas reli e, não sei se erradamente, levei à letra, isto é, cinco filmes que seriam a primeira coisa a salvar no momento em que a casa começasse a arder*. Ou seja, filmes que para aqui tenho. Ajudou um pouco visto que não tenho certas coisas de que gosto muito. Mas ainda assim muito difícil. Iria certamente salvar cinco, morrendo em seguida a salvar o resto. Por ordem alfabética:

- A Perfect World
- No Quarto da Vanda
- Nuit et Bruillard
- Phantom Limb
- Taxi Driver

Estreio-me (acho) a envolver pessoas nestas cadeias. Convido o Francisco Valente, a Mafalda Azevedo e o José Oliveira. Se estiverem para isso.


*O que é um bocado tolo, isto é, podia-se sempre comprar os filmes outra vez ou, no caso do segundo e quarto filmes por mim mencionados, esperar para os gravar de novo. A brincadeira da ilha deserta continua a ser mais eficaz. À atenção dos inventores de cadeias blogueiras.

Friday, November 02, 2007

The Wheel

Through winter-time we call on spring,
And through the spring on summer call,
And when abounding hedges ring
Declare that winter's best of all;
And after that there s nothing good
Because the spring-time has not come -
Nor know that what disturbs our blood
Is but its longing for the tomb.

W. B. Yeats

Thursday, November 01, 2007

Miss Misery

(...) the misery that comes your way is most likely to be self-generated. It would be another matter if you were living in Nazi-occupied Europe or in Mao Zedong's China. There they manufacture the misery for you; you don't have to take a single wrong step in order never to want to get up in the morning. But here, free of totalitarianism, a man like you has to provide himself his own misery. (...)

in The Dying Animal, Philip Roth, Vintage


Para o Pedro Mexia, grande apreciador de Roth.