Pós-Weekend
Saio do "Weekend" do Godard (logo do "Weekend" do Godard), caminho à chuva, entro no metro e entra também um senhor, cinquentas, saco de plástico, sem abrigo, não tão mal vestido como ele diz - aliás, a sua postura é fortíssima e o facto de as suas roupas estarem visivelmente usadas não lhe enfraquece a postura. O senhor discursa contra o estado, contra o facto de uma manhosice das finanças lhe ter roubado dinheiro no passado e disso ter resultado um dominó descendente que hoje significa viver na rua. Foram-lhe recusadas casas várias vezes, incluindo pré-fabricados. A Santa Casa não ajuda.
O seu discurso oral é vigoroso, num português correctíssimo (correcção que com aquela fluência discursiva eu não alcançaria), sem palavrões a não ser um "cagando" (que não é palavrão nenhum, mas é o mais próximo que lhe sai) e mesmo essa palavra ele não a diz até ao fim, autocensurando-se e saindo apenas "cagand...". Há muita classe naquele senhor.
As pessoas que vão no metro, ora se espantam, ora ignoram. "Olha-me este maluquinho" sai-lhes dos olhos. Não posso saber se o que ele diz é verdade, mas eu acredito nele. No plano geral, porém, sou apenas mais um passageiro calado; naquela carruagem só se distingue o senhor que discursa. Em toda a minha falência, resta-me ouvi-lo com atenção. Sabendo que os maluquinhos somos nós.
O seu discurso oral é vigoroso, num português correctíssimo (correcção que com aquela fluência discursiva eu não alcançaria), sem palavrões a não ser um "cagando" (que não é palavrão nenhum, mas é o mais próximo que lhe sai) e mesmo essa palavra ele não a diz até ao fim, autocensurando-se e saindo apenas "cagand...". Há muita classe naquele senhor.
As pessoas que vão no metro, ora se espantam, ora ignoram. "Olha-me este maluquinho" sai-lhes dos olhos. Não posso saber se o que ele diz é verdade, mas eu acredito nele. No plano geral, porém, sou apenas mais um passageiro calado; naquela carruagem só se distingue o senhor que discursa. Em toda a minha falência, resta-me ouvi-lo com atenção. Sabendo que os maluquinhos somos nós.
5 Comments:
em toda a tua falencia.
Soa a uma das figuras que habitualmente habitam os filmes de Godard. Projecção?
Projecção na Cinemateca.
"O senhor discursa contra o estado"
Qual estado, gasoso, líquido ou sólido? Ou ele referia-se ao Estado?
Abraço,
T
P.s.: Eu sei que este comentário vai passar por ser de algum convencimento, mas que se dane. Sabes que eu não ia perder esta oportunidade de me meter contigo.
é um personagem Gilliano...ha muitos por aí...
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