Monday, April 30, 2007

Cinema português na Gulbenkian

ANOS GULBENKIAN

Colóquio e Ciclo de Cinema

Integrado nas Comemorações do Cinquentenário da Fundação e na sequência do Ciclo “Como o Cinema Era Belo – 50 Filmes Inesquecíveis”, será exibido um conjunto de 9 filmes portugueses apoiados pela Fundação, no âmbito do protocolo que permitiu a criação do Centro Português de Cinema, em 1970.

Organizado em colaboração com João Bénard da Costa, Presidente da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, o Ciclo será completado com a realização de um Colóquio dedicado ao estudo da intervenção da Fundação no apoio à renovação da produção cinematográfica portuguesa, em que participarão historiadores, críticos e cineastas.

Será ainda editada uma brochura alusiva à história das relações da Fundação com o Centro Português de Cinema, contendo uma lista de todos os filmes subsidiados e de todos os bolseiros na área do Cinema.

5 e 6 de Maio: Ciclo de cinema, Grande Auditório, 15h30h, 18h30 e 21h30
11 de Maio: Colóquio, Auditório 3, a partir das 15h30

Atenção: Tati duplo

Na ressaca pós-Indie, exibe-se o "Jour de Fête" na sala 2 do King. Como se fosse para tapar um buraco. Melhor que isto só se o exibissem apenas até quarta-feira.

Sunday, April 29, 2007

Indie, dia 5

Farewell

Terça-feira apaixonei-me por um filme. Hoje fui dizer-lhe adeus - dificilmente o voltarei a ver em sala. São assim os amores de um cinéfilo.

Old Joy

Em "Old Joy", o personagem de Will Oldham diz, e cito de cor:

"Nunca me meti numa coisa da qual não pudesse sair."



E também diz: "Sorrow is nothing but worn out joy."

Pensando nisso, a alegria deve ser como a saúde, vai-se desgastando. E nalguns casos, desgasta-se cedo.

Friday, April 27, 2007

Nuno Sena

Dou por mim a pensar que não haveria melhor escolha do que o Nuno Sena para a presidência da Cinemateca Portuguesa.

Estreias, duas notas soltas

- O Cinecartaz, do Público, começa na quarta-feira (esta semana, os filmes estrearam um dia mais cedo) por não destacar nenhum filme, dizendo que mais vale ir a uma exposição, ao teatro, vocês já devem ter visto isso alguma vez. Na quinta-feira, aparece destacado o filme "La Vie en Rose", que só o Jorge Mourinha viu e que o considera um mau filme. De maneiras que coiso.

- Esta semana estreia um filme que, infelizmente, ninguém vai ver. Chama-se "O Segredo de Terabitia" e é um filme de família como poucos se fazem por estes dias. Tem-se comparado com a série Harry Potter, mas bate-o aos pontos. Um filme simples (longe de ser sinónimo de fácil) e muito humano. Queria recomendá-lo, mesmo sabendo que ninguém vai ligar, até porque se não calhasse a tê-lo visto e visse esta recomendação noutro sítio não ia ligar. Mas é bom saber que ainda há quem sabe fazer filmes para a família. E é bom saber que ainda há quem os saiba ver.

I CA Merda

Cumpro o ritual de sexta-feira e abro o ípsilon na secção de cinema. "Vai-te embora, João Nicolau" é o violento título que me puxa os olhos. Leio a crónica, de Pedro Borges, e descubro que o projecto de João Nicolau ficou em 33º no concurso do ICAM.

O que se passa neste país? O que se passa no ICAM?

Está tudo lá na crónica e subscrevo tudo o que diz Pedro Borges. Ir embora é uma solução, talvez mais fácil que ficar e dar-lhes trabalho. Resistir-lhes - é este o verbo em que me sinto filiado. Ficamos e resistimos. Ao João Nicolau, que nem sabe que este espaço existe, disponibilizo-me eu para qualquer coisa que seja necessária no seu filme. Em nome de todos os rapaces.

Thursday, April 26, 2007

Indie, dia 4

"A Scanner Darkly", Richard Linklater, 2006

"Analog Days", Mike Ott, 2006

Indie, dia 3

Wednesday, April 25, 2007

OBRA-PRIMA ABSOLUTA

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Tuesday, April 24, 2007

Mike Ott, gajo fixe

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Ele deu-me uma cassete com algumas músicas da banda sonora do seu belíssimo filme, "Analog Days", eu disse-lhe para ir ver o "Half Moon".

Monday, April 23, 2007

Na prática, o gozo

Não concordo nada, Nuno. Não me parece que haja neutralidade em «Ex», mesmo que assim possa parecer através do dispositivo do registo, da não interferência. Voluntaria ou involuntariamente, o Miguel Clara Vasconcelos não se apercebe que, ao se distanciar, deixa o seu objecto à deriva. Neste caso, o objecto é demasiado frágil para aguentar as suas convicções perante uma câmara. O discurso da crença em tais fenómenos é demasiado marginal para ser considerado sério - não é a maior ou menor "veracidade" ou "plausibilidade" de tais fenómenos que está em jogo, é a possibilidade de uma crença. Apresentar apenas o discurso do objecto de estudo é, neste caso, expô-lo ao ridículo. O constante gozo com que o filme foi recebido por boa parte do Fórum Lisboa mostra que, neste caso, a teoria de distanciação no documentário teve, na prática, um efeito inverso.

Sunday, April 22, 2007

Indie, dia 2

Indie, impressões

- O festival traz mesmo pessoas que não estão habituadas a este tipo de cinema. Como sei? Muita gente não sabe onde é a sala 3 do King (que é o mais parecido, ainda assim, vá).

- Tudo bem que, havendo a hipótese de todos os realizadores portugueses estarem presentes para apresentarem as suas curtas, se demore um pouco até toda a gente falar. O que não está bem é ter que se esperar 15 minutos pelos amigos todos que não chegam a horas e que quando chegam não se sentam porque encontram outros amigos, etc. e só depois se começar a falar. Ainda mais com a publicidade, que compreendo, a sessão das 19h começa a exibir os seus filmes às 19h40.

- Por esta altura, muita gente quererá matar o Luís Represas (volta Pierce Brosnan, estás perdoado).

- Há muita gente Mete Nojo no Indie. Podia ser pior, pois podia; podia ser o DocLisboa.

Indie, dia 1

Saturday, April 21, 2007

Voltar a ouvi-los é regressar a casa

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Wednesday, April 18, 2007

Cinema 2000

A convite do Cinema 2000, iniciei com eles uma colaboração. Essencialmente, escreverei sobre dvds a serem lançados no mercado nacional, mas é possível que venha a escrever sobre outras coisas. Estarei no Indie para a cobertura, escreverei sobre todos os filmes que veja. Passem no site.

O endereço normal está em baixo, mas podem aceder ao site por aqui: Cinema 2000.

Um agradecimento e abraço especial ao meu amigo Nuno Antunes.

Amanhã

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Estou em todo o lado

Nos extras da edição dvd de "Tokyo Story", a ser lançada, há uma curta de Ozu que se chama "Graduei-me, mas...". É a estória de um rapaz que acaba de tirar um curso, mas não consegue arranjar trabalho. Oferecem-lhe um lugar como recepcionista, mas ele recusa porque tem um curso. Depois de algumas situações difíceis, ele regressa a esse sítio e aceita o lugar de recepcionista.

Tuesday, April 17, 2007

O meu primeiro Ozu



Isto não é um plano, isto é outra coisa.

Monday, April 16, 2007

Presente e só o presente

"I would later learn the Lacanian definition of foreclosure: hallucinatory return into the real of something upon which it had not been possible to produce a “judgement of reality”. To say it differently: since moviemakers had not filmed the policies of the Vichy government at the time, their duty 50 years later was not to imaginarily redeem themselves with movies like Au revoir les enfants but to draw today's portrait of this good people of France who from 1940 to 1942 (and that includes the Vel' d'Hiv raid) did not move. Cinema being the art of present, remorse is of no interest."

(Serge Daney)

Nunca vi as "Histoire(s) du Cinema" do Godard nem nunca tinha percebido muito bem qual era o problema desta malta com "Schindler's List" do inimigo godardiano número 1. Começo agora a perceber, lendo este texto do Daney. Tenho que ir ver o filme de Spielberg outra vez (ou pela primeira vez a sério, como quiserem), mas não sei se o vá rejeitar.

Saturday, April 14, 2007

Há sempre um rapaz triste

Há sempre um rapaz triste
em frente a um barco

(a água é sempre azul
e sempre fresca)

Em que país encontraria
um emprego e esquecimento

em que país encontraria
amor e compreensão

Em que país
sentiriam
a sua vida e a sua morte

Não respondem as gaivotas
porque voam

Há sempre um rapaz triste
com lágrimas nos olhos
em frente a um barco

in Poemas Quotidianos, António Reis, edição de autor

Alka Seltzer*

O que eu precisava agora era de uma semana de Doc's Kingdom, a paz da vila de Serpa, um parque de campismo com uma tenda só para mim porque vou para lá sozinho, acordar cedo com gosto porque vou ver filmes decentes (não é visionamentos de imprensa manhosos), café de borla, atentar à malta do cinema, descansar.

Claro que se o Little Bill ouvisse isto perguntaria logo: "Descansar? Descansar do quê?"

*Apetecia-me ter aqui um video do You Tube com aquele picado sobre o alka seltzer, no Taxi Driver, mas não me apetece procurar - lembrem-se dele.

Friday, April 13, 2007

Faltam 2 meses e 3 dias*

Tenho saudades vossas

"I wanted to make Ventura and Vanda intelligent, sweet, violent and tragic, even if as 'bedroom heroes'. That it is very clear: Ventura is far more intelligent than many others, he has more rights, more convictions. Even if they are very weak, deprived or fragile, all these people share very strong feelings of solidarity and membership in a community."

(Pedro Costa)


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Como viveu a experiência no Festival de Cannes?

Foi divertido porque levei alguns actores do filme. O objectivo era divertir-nos e mostrar o que é o outro lado. Eles só conhecem o lado do trabalho, às vezes chato, nem sempre entusiasmante, e eu quis mostrar um mundo que está a anos-luz de nós. Fomos jantar a casa dos ricos, é isso que a gente diz. Só deixámos os ossos e viemos embora.

Thursday, April 12, 2007

Uma semana mais tarde

Afinal, o filme que talvez seja o melhor do ano até agora chegou uma semana mais tarde.

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Em tempos de Jorge Silva Melo...

...vale a pena regressar a "Agosto" (1987). Não é um filme muito directo, isto é, sabe esconder muito bem o seu jogo, acabando, porém, por se revelar relativamente simples. Mas é isso que me prende, o saber esconder o jogo, o fechar os rostos às personagens, ocultar os seus motivos, deixá-las pairar sob o calor de Agosto.

E para isso funcionar joga-se um às de trunfo: a fotografia de Acácio de Almeida. Apetece-me dizer, algo arriscadamente, que o filme deve ter sido mesmo filmado no mês de Agosto. Nos exteriores, um aproveitar da luz do sol ao máximo, nos interiores, um jogo de feixes de luz, em qualquer dos casos aproveitando a característica quase-sépia da película. Como se sentíssemos na pele o calor que se abate sobre os corpos (reforçando, claro, o psciológico), fazendo-os arrastar filme fora. Pedro Costa foi assistente de realização.

Coisas do cinema

Estou apaixonado pela Manuela de Freitas, culpa de "Agosto".

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Não arranjei foto melhor.

Wednesday, April 11, 2007

Quase Rapace

Coisas ouvidas em "Rapace":

- "A Luisa sabe bem que isso não é verdade [o facto de não fazer nada]; estou só a descansar a minha cabecinha."

- "Eu também já fiz tradução, no future."

- "Epá... esse pessoal é assim... muito maduro, ficam a beber whisky, a conversar."

Quase Vincent

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Monday, April 09, 2007

Miguel Domingues

Está de volta mais cedo do que o previsto. Ainda bem. Tenho a certeza que o Dias de Ser Selvagem vai ser um grande blogue.

Interpretações

"INLAND EMPIRE" está aí e muita gente não sabe o que fazer com ele. E acontece também que a genialidade de Lynch é considerada como vinda do pouco sentido dos seus filmes. Acompanhei isso em "Mulholland Drive", acompanho isso agora.

Sobre "INLAND EMPIRE" espero escrever qualquer coisa proximamente. Entretanto, a quem lhe apetecer um texto interpretativo, unindo várias pontas, sobre "Mulholland Drive", pode ler este texto de um crítico brasileiro chamado Pablo Villaca. Não digo que é aquilo "tout court", mas o essencial está lá. Para ver que o filme tem sentido, sendo a sua narração, como diz o Luís Miguel Oliveira, o que causa dificuldades ao espectador.

Saturday, April 07, 2007

Não resisto a citá-lo já*

Mundial 1982 – Slow motion

In front of the small image, the TV spectator has a handicap. Or a privilege (depending on his degree of perversity). At certain moments in the game, he subconsciously asks himself a question which until now, only concerned cartoon lovers: is the 'injured' player going to get back up again? Regularly, a body, doubled up with pain, is left on the field. Everything is possible. Real pain (and we expect the game to be stopped, we look for the medics, we are upset with the camera for moving casually to other things). Exaggerated pain (the player gets back up again, drags himself for one meter, limps for two and sprints for three). Put on pain (as soon as he is off screen, certain of having failed to move the referee to pity, he gets up and runs like a gazelle). It is a game between the players and the referee of course. And it is too bad that the camera doesn’t know how to film it well. Nevertheless: for a few seconds, there is what makes cinema happy, its powerful force: indecisive shots, enigmatic pictures, bodies under threat.

This text from Libération, 19 and 20 June 1982, features in Serge Daney, La maison cinéma et le monde (P.O.L., 2002), translation by Laurent Kretzschmar.


Para mim é complicado ler aquela frase (que eu carreguei) do Daney. Adoro ver futebol (aliás, adoro mesmo é ver o Benfica) e dificilmente queria que o cinema se intrometesse a fundo (porque há pequenas ideias que vão aparecendo, mas já lá vou) nas transmissões televisivas dos jogos do Benfica. As transmissões dos jogos de futebol são da ordem do básico: quase sempre em plano geral com ligeiros zooms a encurtar ou aumentar o enquadramento; câmaras junto à relva para uma jogada perigosa; câmara incidindo em algo específico (uma lesão, o árbitro auxiliar a levantar a bandeira, uma cabeçada de um jogador no peito de outro). Não falando nas repetições, é mais ou menos assim que o jogo é filmado - e ainda bem, digo eu, porque no futebol é para ver tudo. Sendo o não mostrar uma das mais belas coisas que o cinema pode fazer, não quero ver misturado cinema nas transmissões do Benfica. Creio que não iria gostar muito de ver o Rui Costa fazer um passe primoroso para o golo e haver um corte para o grande plano do seu rosto, ou para os rostos do público, tendo que ver na expressão deles a maior ou menor eficácia do Nuno Gomes. É irritante, portanto, e regressando às pequenas ideias, quando um guarda-redes dá um frango e há um corte para o guarda-redes que está sentado no banco. Continue-se a filmar o futebol assim, porque não tenho dinheiro para ir ao estádio.

*Espero, agora, não citar o Daney, post sim, post não.

Serge Daney in english

Vocês não imaginam a alegria que é para um gajo que não compreende o francês descobrir isto (mesmo que tardiamente). Já tenho leitura para uns tempos.

Thursday, April 05, 2007

King Triplex

Não há dúvida que o King é um espaço raro e muito agradável (não sou o primeiro a dizê-lo). Cinemas marginais (se bem que já foram mais marginais), livraria simpática, dvds de importação, posters, t-shirts, café... Um espaço muito confortável para se ir ao cinema sem o sentimento do "despacha" dos multiplexes.

Um senão: a música que passa no café. Ontem, cheguei muito antes do filme e decidi-me por um café e uma leitura para matar meia hora. Porém, aos meus ouvidos chegaram seguidamente Celine Dion, Alejandro Sanz e Backstreet Boys. Fui ler para as escadas.

António-Pedro Vasconcelos

Desconhecia este blogue de António-Pedro Vasconcelos. Como simpatizo com ele (ao contrário de muita gente, suponho eu) fica aqui a referência para quem também não conhecia e quiser ler.

Wednesday, April 04, 2007

Pedro Mexia style

Well, you're my friend
And can you see
Many times we've been out drinking
Many times we've shared our thoughts
But did you ever, ever notice, the kind of thoughts I got
Well you know I have a love, for everyone I know
And you know I have a drive, to live I won't let go
But can you see this opposition, comes rising up sometimes
That is dread full imposition, comes blacking in my mind

And then I see a darkness
And then I see a darkness
And then I see a darkness
And then I see a darkness
Did you know how much I love you
There's a hope that somehow you
Can save me from this darkness

Well I hope that someday buddy
We'll have peace in our lives
Together or apart
Alone or with our wives
And we can stop our whoring
And pull the smiles inside
And light it up forever
And never go to sleep
My best unbeaten brother
This isn't all I see

Oh no, I see your darkness
Oh no, I see your darkness
Oh no, I see your darkness
Oh no, I see your darkness
Did you know how much I love you
There's a hope that somehow you
You'll save me from this darkness

I see darkness, Bonnie Prince Billy (ou Johnny Cash)


Permament vacationers don't have money to enjoy gigs.

Brilhante

Tuesday, April 03, 2007

Down By Law

Por alguma razão, ao ver ontem na Cinemateca o "Down By Law", do Jarmusch, lembrei-me da forma tremendamente melancólica de como o Paul Newman, no "Cool Hand Luke", justificava o porquê de andar a rebentar com os parquímetros.

"Small town, not much to do in the evenin'."

Talvez pela frase não me sair da cabeça, talvez pela convicção de o burlesco resvalar sempre para algo triste, talvez por crer que à ironia se deve responder com um sorriso fino, não conseguir juntar-me às gargalhadas que se ouviram na Félix Ribeiro. Não consegui, mas também não queria.

Monday, April 02, 2007

Televisão: "House" e o políticamente incorrecto

Idéia consensual: a televisão como mal maior das imagens em movimento. Concordo, mas, como sempre, nada de fundamentalismos. E pode mesmo sentir-se uma esperança. Esperança essa que sinto em alguns objectos vindo da televisão norte-americana. Tentarei, em breve, falar de um programa que considero fundamental - "The Daily Show" -; hoje, fico-me pelo seriado de ficção, centrando-me em "House".

Não sou um conhecedor profundo desta nova vaga de seriado televisivo norte-americano, sendo mesmo "House", por simples acaso, a única série que, neste momento consigo acompanhar de forma irregular. Acompanhei "The Sopranos, em tempos, e mais recentemente "Six Feet Under", a melhor coisa que já vi em televisão. "Six Feet Under", mesmo obedecendo a uma estrutura televisiva necessária, conseguia momentos de pura arte cinematográfica (dêem-me na cabeça à vontade por esta frase, mas as elipses, os silêncios, os grandes planos que por lá passavam não foram, decerto, aprendidos com as palhaçadas de Fonzie em "Happy Days"). Quem melhor conhece, fala ainda de "Lost", de "Nip/Tuck", de "Carnivale", entre outros, como capazes de ultrapassar limites, que a maioria do cinema americano contemporâneo já não consegue (a propósito, lembro-me de um belo texto do Vasco Câmara, há tempos, sobre "Nip/Tuck", mas já não tenho acesso a ele).

"House", então. E vejamos do que a série é capaz num simples episódio, aquele que visionei ontem, "Needle in a Haystack", da série 3:

i) Uma nova médica, paraplégica, chega ao hospital e, devido à sua condição, ficará a ocupar o parque de estacionamento de House, que para quem não sabe tem um problema gravíssimo na perna, andando, inclusivé, com a ajuda de uma bengala, ocorrendo ainda a drogas para não sentir dores (tema forte da série 2, creio). Daqui reflecte-se as benesses dadas a duas condições diferentes: a sociedade cataloga a pessoa na cadeira de rodas como sofredora de lesão maior (concordo), mas esquece-se que, em tempo de neve por exemplo, a pessoa de bengala tem muito mais dificuldades em se deslocar. House, numa das apostas já habituais com a sua chefe, passa uma semana numa cadeira de rodas para provar que é mais fácil, ou seja, utiliza a cadeira de rodas sem precisar, utilizando-a mesmo de forma gozona para marcar a sua posição. Aquilo que seria imediatamente condenável, sofre em "House" uma reflexão mais profunda para se perceber que nem sempre é óbvio aquilo que o parece ser.

ii) O paciente deste episódio é um adolescente de etnia cigana. A sua família, nomeadamente os seus pais, são contra as instituições (hospitais e escolas, para me manter no que é essencial), seguindo um caminho nómada. Aquilo a que estamos habituados na televisão é que se tenha um olhar que dê espaço às minorias, um olhar que condene a sociedade que não aceite a minoria, um olhar que, no pior dos casos, é de compaixão. Neste episódio segue-se um outro caminho. O olhar nunca é xenófobo (a única xenofobia vem dos pais em relação à namorada do filho) mas sabe questionar os problemas inerentes à condição nómada dos ciganos. O discurso é violento quando se explica que a não autorização dos pais a um tratamento experimental poderá levar à morte do paciente. Por último, a descoberta da origem dos problemas do paciente: um palito engolido que perfurara vários orgãos ao paciente. Um hábito "tradicional" (muitas aspas) pouco higiénico que passará estranhamente de pais para filhos e que é alvo de um olhar que mostra as suas consequências.

iii) "House" sabe ainda questionar os próprios heróis da série. Neste episódio, como já disse, há a hipótese de um tratamento experimental, que não é autorizado pelos pais. O tratamento segue porque um dos médicos arrisca a sua carteira profissional ao convencer o paciente a segui-lo. O tratamento não é levado a cabo porque outras descobertas são feitas - a ser continuado, o paciente morreria. Ainda uma nota para a forma como House, personagem, distrai os pais do paciente para que aquilo contado acima aconteça: perto dos pais do paciente, ele diz a um colega "don't you gip me!", "gip" derivado de "gipsy" (cigano), remetendo para um óbvio insulto racial.

O trunfo de "House" é ser políticamente incorrecto. Nunca o é, porém, como fim em si. O políticamente correcto é utilizado para tentar compreender o mundo em que vivemos. Em tempos em que cada vez mais a democracia, e os seus contínuos apelos e resoluções buscando uma igualdade social impossível, opera um efeito de normalização terrivelmente perigoso, é preciso que a televisão, medium muito eficaz na transmissão de mensagens, boas e más, resista ao que está imposto para parecer bem e tente lutar contra a normalização cada vez mais vigente.

É bom que haja séries como "House". Há coisas em "House" que não vejo em muito cinema americano contemporâneo. Ele que venha beber algo à boa televisão, eu agradeço.

Sunday, April 01, 2007

Mantorras

Se ele marca aquele golo de cabeça, naquilo que foi um movimento que nenhum trapalhão consegue fazer, o mundo acabava.


Outras notas: Fernando Santos a mostrar imensa coragem a tirar o Katso (pior exeibição desde que chegou); Rui Costa a mostrar classe e a virar o rumo do jogo; vêm aí dois meses de sofrimento.