Na prática, o gozo
Não concordo nada, Nuno. Não me parece que haja neutralidade em «Ex», mesmo que assim possa parecer através do dispositivo do registo, da não interferência. Voluntaria ou involuntariamente, o Miguel Clara Vasconcelos não se apercebe que, ao se distanciar, deixa o seu objecto à deriva. Neste caso, o objecto é demasiado frágil para aguentar as suas convicções perante uma câmara. O discurso da crença em tais fenómenos é demasiado marginal para ser considerado sério - não é a maior ou menor "veracidade" ou "plausibilidade" de tais fenómenos que está em jogo, é a possibilidade de uma crença. Apresentar apenas o discurso do objecto de estudo é, neste caso, expô-lo ao ridículo. O constante gozo com que o filme foi recebido por boa parte do Fórum Lisboa mostra que, neste caso, a teoria de distanciação no documentário teve, na prática, um efeito inverso.
4 Comments:
Não, não concordamos. Se o filme não tivesse esta distância, o público deixaria de rir? Não. É o assunto que implica esta reacção normalíssima. Não é pelo Miguel dizer "eu acredito" ou "eu não acredito", que a recepção ia ser diferente. Esta neutralidade é, bem pelo contrário, a abordagem a mais interessante em frente de tal tema.
Não é pelo realizador concordar ou não. O que ele poderia ter feito ao se aproximar era pensar a crença daquelas pessoas como algo muito difícil ou quase impossível. Abordando o assunto por aí, o grau de respeito aumentava consideravelmente.Mas já estou a ver que não te vou "comprar".
Eu também preferi esta abordagem num tema que, seja qual for o ângulo, me suscita o cepticismo. Também não me "compras" ;)
Apenas deixo uma citação: "Não se fala mais dos filmes, porque o importante é sempre o filme que se vai ver a seguir (...) Sobrará tempo-espaço para a reflexão? Interessa fazer essa reflexão? E se interessa, para quê?" E se ele o diz...
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