Saturday, April 07, 2007

Não resisto a citá-lo já*

Mundial 1982 – Slow motion

In front of the small image, the TV spectator has a handicap. Or a privilege (depending on his degree of perversity). At certain moments in the game, he subconsciously asks himself a question which until now, only concerned cartoon lovers: is the 'injured' player going to get back up again? Regularly, a body, doubled up with pain, is left on the field. Everything is possible. Real pain (and we expect the game to be stopped, we look for the medics, we are upset with the camera for moving casually to other things). Exaggerated pain (the player gets back up again, drags himself for one meter, limps for two and sprints for three). Put on pain (as soon as he is off screen, certain of having failed to move the referee to pity, he gets up and runs like a gazelle). It is a game between the players and the referee of course. And it is too bad that the camera doesn’t know how to film it well. Nevertheless: for a few seconds, there is what makes cinema happy, its powerful force: indecisive shots, enigmatic pictures, bodies under threat.

This text from Libération, 19 and 20 June 1982, features in Serge Daney, La maison cinéma et le monde (P.O.L., 2002), translation by Laurent Kretzschmar.


Para mim é complicado ler aquela frase (que eu carreguei) do Daney. Adoro ver futebol (aliás, adoro mesmo é ver o Benfica) e dificilmente queria que o cinema se intrometesse a fundo (porque há pequenas ideias que vão aparecendo, mas já lá vou) nas transmissões televisivas dos jogos do Benfica. As transmissões dos jogos de futebol são da ordem do básico: quase sempre em plano geral com ligeiros zooms a encurtar ou aumentar o enquadramento; câmaras junto à relva para uma jogada perigosa; câmara incidindo em algo específico (uma lesão, o árbitro auxiliar a levantar a bandeira, uma cabeçada de um jogador no peito de outro). Não falando nas repetições, é mais ou menos assim que o jogo é filmado - e ainda bem, digo eu, porque no futebol é para ver tudo. Sendo o não mostrar uma das mais belas coisas que o cinema pode fazer, não quero ver misturado cinema nas transmissões do Benfica. Creio que não iria gostar muito de ver o Rui Costa fazer um passe primoroso para o golo e haver um corte para o grande plano do seu rosto, ou para os rostos do público, tendo que ver na expressão deles a maior ou menor eficácia do Nuno Gomes. É irritante, portanto, e regressando às pequenas ideias, quando um guarda-redes dá um frango e há um corte para o guarda-redes que está sentado no banco. Continue-se a filmar o futebol assim, porque não tenho dinheiro para ir ao estádio.

*Espero, agora, não citar o Daney, post sim, post não.

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