Vernacular anti-elogio
Em primeiro lugar, a utilização do "vernacular anti-elogio" não é forçada, é algo que me sai naturalmente em relação a um filme que me ofende.
(E é curioso que tenha sido o Sérgio a comentar em seguida, ele que ouviu a minha ira no final da exibição do filme no Indie 2006 – estás lembrado?)
Mais do que apontar uma falha em aspectos técnicos, narrativos ou demais gramaticais, ofendem-me os sentimentos com que Blaufuks parte para trabalhar o seu objecto. Como diz o Sérgio, Blaufuks trabalha a confirmação duma ideia pre-existente. Pior: fá-lo com todo o seu poder de sujeito-cineasta. Por outras palavras: não há um plano neutro. Não que a neutralidade seja condição obrigatória (embora bastante apreciável), mas quando o filme se fecha numa visão única, e a meu ver primária, sobre o objecto, andamos perto de algo a que não tenho problemas em chamar fascismo. Lembro-me de planos horríveis sobre pessoas a fazer piqueniques na mata ou as constantes repetições de planos que encontravam as moradias, do ponto de vista da arquitectura, mais bizarras. Todos esses planos emanam escárnio sobre uma cultura, partindo, porém, do concreto, do individual mesmo. Quem é Blaufuks para pensar ter esse direito? Com certeza, o cosmopolitismo de Blaufuks faz com que ele pense isso. É curiosa a forma como uma pessoa bastante culta, como julgo ser Blaufuks, pegue no dispositivo do cinema para, na maior das facilidades, cair na sua faceta mais poderosa e perigosa. Ao recusar o fora de campo ao seu filme, Blaufuks impede que o seu filme saia da impressão pessoal para um pensamento estrutural daquilo que filma. Isto faz-me voltar a essa ideia principal e ofensiva: “Um Pouco Mais Pequeno que o Indiana” como filme fascista.
(E é curioso que tenha sido o Sérgio a comentar em seguida, ele que ouviu a minha ira no final da exibição do filme no Indie 2006 – estás lembrado?)
Mais do que apontar uma falha em aspectos técnicos, narrativos ou demais gramaticais, ofendem-me os sentimentos com que Blaufuks parte para trabalhar o seu objecto. Como diz o Sérgio, Blaufuks trabalha a confirmação duma ideia pre-existente. Pior: fá-lo com todo o seu poder de sujeito-cineasta. Por outras palavras: não há um plano neutro. Não que a neutralidade seja condição obrigatória (embora bastante apreciável), mas quando o filme se fecha numa visão única, e a meu ver primária, sobre o objecto, andamos perto de algo a que não tenho problemas em chamar fascismo. Lembro-me de planos horríveis sobre pessoas a fazer piqueniques na mata ou as constantes repetições de planos que encontravam as moradias, do ponto de vista da arquitectura, mais bizarras. Todos esses planos emanam escárnio sobre uma cultura, partindo, porém, do concreto, do individual mesmo. Quem é Blaufuks para pensar ter esse direito? Com certeza, o cosmopolitismo de Blaufuks faz com que ele pense isso. É curiosa a forma como uma pessoa bastante culta, como julgo ser Blaufuks, pegue no dispositivo do cinema para, na maior das facilidades, cair na sua faceta mais poderosa e perigosa. Ao recusar o fora de campo ao seu filme, Blaufuks impede que o seu filme saia da impressão pessoal para um pensamento estrutural daquilo que filma. Isto faz-me voltar a essa ideia principal e ofensiva: “Um Pouco Mais Pequeno que o Indiana” como filme fascista.
1 Comments:
Em primeiro lugar, agradeço imenso pela resposta tão franca e extensa. Quanto ao uso da expressão, eu serei sempre o primeiro a utilizar (e a defender quem utiliza) o vernáculo para qualificar tudo o que desagrada (i.e, a merda). Não queria que tivesse sido entendido como um pudor de senhora burguesa. Foi um preciosismo talvez demasiado pomposo.
Quanto à análise do filme (que quase certamente nunca verei, a não ser que seja editado em DVD), não tinha interpretado a sinopse assim. Mas dou a mão à palmatória. Se as ideias e visões do filme estão assim fechadas sobre si mesmo, não passa de revista (salvo as devidas diferenças). É o que me lembra esta passagem "Todos esses planos emanam escárnio sobre uma cultura, partindo, porém, do concreto, do individual mesmo".
Cumprimentos
Miguel
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