Sunday, January 04, 2009

Claire Denis

Na edição DVD de “L’Intrus” (Claire Denis, 2005) que me cai nas mãos leio um texto de um tal de Miles Fielder, que insiste, também pelo trabalho de Denis com Wenders ou Jarmusch, na ideia de que é o road movie que estrutura o filme. Não discordo totalmente, principalmente porque os filmes de Denis que conheço (este e “Trouble Every Day”, de 2001) serem possuidores de enorme mistério (ainda mais este que o outro) e também porque, e isto interessa-me muito, pelo desejo que os filmes me parecem ter em se inserirem numa tradição. Mas talvez em vez de se falar em road movie, arriscar-me-ia, apesar de todas as dúvidas que o filme me suscita, a falar em western. O afastamento de um personagem, a força de um passado e a necessidade de uma última acção, bem como tudo aquilo que não sabemos como nunca soubemos tudo dos enormes westerns que estão para trás, faz-me ver “L’Intrus” como um western.

Errado seria, no entanto, de entender isto como uma pulsão cinéfila por parte de Claire Denis, pois, pelo menos estes dois filmes que conheço, são profundamente contemporâneos, actuais, atentos, preocupados, com vontade de perceber o mundo de hoje: migrações, tráfico de orgãos, relações sociais, etc., só no caso de “L’Intrus”. Isto para voltar de novo a essa ideia fundamental para um cineasta depois de 114 anos de cinema: como respeitar aquilo que está para trás, prestar uma homenagem a quem nos ensinou quase tudo e estar, ao mesmo tempo, aqui e agora a fazer algo novo? Estes dois filmes de Denis parecem-me, nesse sentido, exemplares. “Trouble Every Day” é mesmo obra-prima, como se Denis teorizasse: este é, em 2001, o remake possível de “Nosferatu” (F.W. Murnau, 1922).

0 Comments:

Post a Comment

<< Home