Monday, December 01, 2008

O que foi, o que é

Pergunto a uma alema que sítios me aconselha ela a visitar na Alemanha. Mais sítio, menos sítio, a conversa vai ter a campos de concentracao. Digo que nao quero ir, que tenho problemas com essa ideia de ir a um ex-campo de concentracao. Parece-me que há muito voyeurismo associado a isso. Vou a um ex-campo de concentracao, vejo o espaco onde milhoes de judeus foram exterminados e depois? Nao quero que se esqueca o que aconteceu, mas ir lá, como diz a alema, porque só assim se percebe o que realmente aquilo foi, é algo que nao me interessa minimamente. Fico com o "Nuit et Brouillard", que brilhantemente mostra o que pode daquilo que foi (as imagens de arquivo) para essencialmente perceber aquilo que é (o registo presente [1955] dos campos de concentracao; o texto). É no cinema que acredito, é o presente que me preocupa. Penso se será diferente para uma alema, neste caso; será que ainda se tem que ir a um ex-campo de concentracao experienciar uma catarse? Seja como for, eu nao preciso. Nao falo no "Nuit et Brouillard" para nao me olharem com aqueles olhos interrogativos, mas tenho, para mim, bem clara a minha posicao. Se funcao esses ex-campos de concentracao têm no presente, Resnais explicitou-a no seu filme: fazem um trabalho de memória. E a memória existe só no presente.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home