Saturday, February 23, 2008

Vítor Gonçalves

É um exemplo de ética, sim senhor. Não resisto a entrar nos territórios da psicologia e pergunto-me qual é o estado de alma de Vítor Gonçalves, alguém para quem, cito de cor, "o facto de não filmar não significa que a minha vida não seja o cinema, que não pense em cinema a toda a hora". Isto é, até que ponto essa resistência por uma ética o afecta?

Quanto ao novo filme, depois do entusiasmo de ontem, veio a mim um pensamento mais pessimista: que vida terá um novo filme de Vítor Gonçalves? De quem? Estaremos cá para ver o filme, alguns, e com certeza lutaremos por ele se revelar os sentimentos de "Uma Rapariga no Verão".

O filme. Não sei se deveria arriscar a escrever qualquer coisa, não só porque me surgiu como um filme vindo de lado (cinematográfico) nenhum, mas também devido à má cópia apresentada, causando imensa perturbação no visionamento, sobretudo ao nível do som (perdi alguns diálogos). Porém, a mise-en-scène de Gonçalves é notável na forma como transparece essa ideia chave do filme que é o sentimento de mal estar. Isabel, centro do filme, é o expoente desse mal estar, como se qualquer espaço em que estivesse fosse claustrofóbico. Esse incómodo parece-me maior nos espaços interiores, não sendo de estranhar que seja nos exteriores que se abram brechas para uma eventual "saída" (a muito falada sequência do passeio e subida ao muro é exemplar). Para não falar daquele último plano a que será fácil chamar misterioso. Porém, não serão todos os filmes em que a elipse é dominada misteriosos? Talvez não sejam assim tanto, talvez peçam apenas mais alguma disponibilidade ao espectador. Por isso quero rever o filme e não será esta uma má oportunidade para fazer mais um aceno à Midas.

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