"Ana" (1982)
Vê-se "Ana", de António Reis e Margarida Cordeiro, como um prolongamento de "Trás-os-Montes". Tanto continua a dialética entre som e imagem como os confrontos, de onde destaco Passado contra Presente. De facto, a interrogação maior será ainda "o que é possível persistir?"
Figura central, Ana, é em torno dela que se constrói o confronto, entre aquilo que ela representa ainda e a possibilidade de isso persistir após o seu desaparecimento. Fundamental para isso os mais novos, em particular aquele rapaz, o futuro. Apetece destacar a longa sequência da "aula", tão estranha ao princípio, tão fundamental ao reflectir essa mesma possibilidade de desaparecimentos no rasto da história.
Por isso mesmo, é um filme resistente. Lembro-me de palavras do arquitecto Belém Lima no debate que decorreu após o visionamento de "Trás-os-Montes" na última sexta-feira. Dizia qualquer coisa como que Reis e Cordeiro se tinham perdido naquelas terras como um miúdo se perde a olhar para uma minhoca, esquecendo tudo o resto. Uma ideia que me parece falsa. Se os cineastas se concentram naquele espaço específico, nele construindo vários tempos, também o é, suponho, porque sabiam muito bem o que eram os outros espaços (talvez os que se queiram modernos). E nesse sentido é claro que falo em resistência.
"Ana" é, então, mais um filme contra aquilo que, infelizmente, já é um natural apagamento (dói dizer isto) do que é esquecido. Mas, e talvez acima de tudo aos meus olhos, é mais um filme pelos que não se podem defender desse apagamento. (Pedro Costa, herdeiro, diz que não pode fazer filmes contra, só consegue fazer filme por.) E a ética com que se dá o cinema a essas pessoas está acima de tudo. O rigor da palavra e da encenação (Bresson?), o tempo dado, carregam aquilo que já uma força da natureza. "Ana" talvez não tenha tantos momentos esmagadores como "Trás-os-Montes" (que a par do travelling do "Recordações..." tem, por exemplo, o melhor início do cinema português), mas não deixa, pelas razões que tentei dar acima (poucas, insuficientes), de ser um filme maior. É uma das obras-primas do cinema.
Cada vez tenho mais dificuldade em escrever o que penso, e escrever sobre Reis/Cordeiro parece-me muita areia para a minha camioneta. Mas já que conseguir ir ver o filme (o que me diria a entidade patronal se lhes dissesse que a razão para sair mais cedo era ir ver um filme do António Reis e da Margarida Cordeiro?), queria tentar partilhá-lo. Em especial ao Hugo, que eu sei que queria muito ver este filme. Foi o que consegui.
Figura central, Ana, é em torno dela que se constrói o confronto, entre aquilo que ela representa ainda e a possibilidade de isso persistir após o seu desaparecimento. Fundamental para isso os mais novos, em particular aquele rapaz, o futuro. Apetece destacar a longa sequência da "aula", tão estranha ao princípio, tão fundamental ao reflectir essa mesma possibilidade de desaparecimentos no rasto da história.
Por isso mesmo, é um filme resistente. Lembro-me de palavras do arquitecto Belém Lima no debate que decorreu após o visionamento de "Trás-os-Montes" na última sexta-feira. Dizia qualquer coisa como que Reis e Cordeiro se tinham perdido naquelas terras como um miúdo se perde a olhar para uma minhoca, esquecendo tudo o resto. Uma ideia que me parece falsa. Se os cineastas se concentram naquele espaço específico, nele construindo vários tempos, também o é, suponho, porque sabiam muito bem o que eram os outros espaços (talvez os que se queiram modernos). E nesse sentido é claro que falo em resistência.
"Ana" é, então, mais um filme contra aquilo que, infelizmente, já é um natural apagamento (dói dizer isto) do que é esquecido. Mas, e talvez acima de tudo aos meus olhos, é mais um filme pelos que não se podem defender desse apagamento. (Pedro Costa, herdeiro, diz que não pode fazer filmes contra, só consegue fazer filme por.) E a ética com que se dá o cinema a essas pessoas está acima de tudo. O rigor da palavra e da encenação (Bresson?), o tempo dado, carregam aquilo que já uma força da natureza. "Ana" talvez não tenha tantos momentos esmagadores como "Trás-os-Montes" (que a par do travelling do "Recordações..." tem, por exemplo, o melhor início do cinema português), mas não deixa, pelas razões que tentei dar acima (poucas, insuficientes), de ser um filme maior. É uma das obras-primas do cinema.
Cada vez tenho mais dificuldade em escrever o que penso, e escrever sobre Reis/Cordeiro parece-me muita areia para a minha camioneta. Mas já que conseguir ir ver o filme (o que me diria a entidade patronal se lhes dissesse que a razão para sair mais cedo era ir ver um filme do António Reis e da Margarida Cordeiro?), queria tentar partilhá-lo. Em especial ao Hugo, que eu sei que queria muito ver este filme. Foi o que consegui.
1 Comments:
Confesso que não sei se depois do revisionamento do Garrel de ontem, resistiria a mais esta revisitação...
Reis/Cordeiro (e o "Ana", do que me lembro não escapa) são resistentes. Lutam por uma forma "pura" de Cinema, pela afirmação de uma ética (straubiana?) e, mais importante, pela reconstrução de um Mundo centrando a visão/forma de estar na essência, no modo ser original (puro, por assim dizer), quase virginal, onde só há lugar para a inocência e para uma atitude de contemplação do Mundo que nos rodeia.
Felizmente, a cada regresso às origens, uma qualquer árvore ou monte lembram-me Reis/Cordeiro, aqueles que me fizeram descobrir projectado no écran ó meu Trás-os-Montes onde nasci e cresci. Drôle de chemin. Dá mesmo vontade de dizer, caramba.
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