Zidanes, Costa e o cinema
Não vou ser eu a negar um certo esgotamento do cinema enquanto arte. Antes que me comecem a mandar pedras, acredito, porém, que há quem continue a levar o cinema para a frente. Aliás, como não depois de, ainda ontem, rever "Juventude em Marcha" e ouvir no discurso de Costa, presente no final da sessão, uma crença no cinema enquanto voz dos mudos, formalmente rasgando a monotonia. Segui-lo-ei sempre; Pedro Costa é o meu pai cinematográfico. Isto para dizer que acho patético o hype em volta de "Zidane". Digam-me que esse objecto não é cinema, é artes plásticas, é algo no meio, whatever. Eu recebo-o enquanto objecto que anda por dentro das esferas do cinema. E, dessa forma, tenho a dizer que é um filme que me parece falhado. Creio que, eventualmente, os artistas plásticos poderão ser importantes para injectar algum sangue novo na linguagem do cinema. Mas se é para fazer, que façam a sério. É a hesitação que desgosto no "Zidane". Se acho interessante o conceito de seguir apenas um jogador durante um jogo de futebol, utilizando 17 câmaras para isso, acho patético que se utilize a música dos Mogwai, que por sua vez também me parece cheia de truques fáceis (só o Michael Mann soube utilizar), enquanto impulsionador dramático, bem como as legendas citando o jogador com frases românticas sobre a percepção de si próprio durante um jogo. Em vez de assumir a abstracção a fundo, vai buscar ao mais antigo dos cinemas efeitos dramáticos que, de certa forma, o sustentem. Será nestes efeitos que vão buscar o estudo sobre a solidão (apenas li coisas sobre este filme no ípsilon), solidão essa, desculpem-me o totalitarismo, que não está no filme nem por sombras. O jogador em causa ser Zidane ajuda a um hype escusado em torno de um filme que enquanto renovação do cinema me parece falso. Com certeza há melhores exemplos sobre a mescla das artes enquanto impulso para o cinema (irei em breve ver a exposição que está no Museu do Chiado e espero confirmar o que digo). Enquanto isso fico com Pedro Costa, não só um grande cineasta cinéfilo, mas um cineasta que prolonga essa cinefilía para algo novo, algo sério. Os outros que continuem a brincar.
2 Comments:
A porcaria do futebol já mete nojo. Nem na sala de cinema estamos livres.
Só mete nojo porque estamos a seis. Mas agora só dependemos de nós.
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