Meio cinematográfico português
O cinema em Portugal faz-se através de cunhas?
É só cunhas, não tenho a mínima dúvida. E os cineastas portugueses, conheço bastantes, trabalham não pelo cinema, mas porque precisam de ganhar algum dinheirito, dado que eles não têm uma profissão regular fora do cinema. Os subsídios são-lhes dados pelo Estado, eles nem pagam impostos, coitados, têm uma sorte doida. São os mesmos de ano para ano, "tu ganhas este ano, daqui a três anos ganhas tu", e fazem estas estratégias. Esta é uma das partes do mistério. Agora, porque é que me seleccionaram sempre para fora, a mim, eu? Não sei. Eles pertencem a gangs pequenos, uns com os outros e eu não pertenço a nenhum gang.
Margarida Cordeiro, em entrevista dividida em três partes (1, 2 e 3), lida no blogue António Reis. (O carregado é meu.)
É angustiante ler a Margarida Cordeiro a falar da impossibilidade de fazer o "Pedro Páramo", mesmo que esteja lá uma dose de teimosia, rejeitando fazer o filme sem o subsídio (porque, eu, acredito que ela o conseguiria fazer). Mas, neste caso, a sua teimosia é mais do que justa, anos e anos a apresentar o projecto com fundos de países europeus e os financiadores sempre a garantirem que ela não fizesse o filme. Está mais do que visto, ela refugiou-se, não conviveu, foi excluida. Acontece a todos os que não querem fazer parte do meio que vai desde os cineastas dados ao convívio, aos jornalistas de cinema, e até aos filhos da puta que têm o dinheiro.
É só cunhas, não tenho a mínima dúvida. E os cineastas portugueses, conheço bastantes, trabalham não pelo cinema, mas porque precisam de ganhar algum dinheirito, dado que eles não têm uma profissão regular fora do cinema. Os subsídios são-lhes dados pelo Estado, eles nem pagam impostos, coitados, têm uma sorte doida. São os mesmos de ano para ano, "tu ganhas este ano, daqui a três anos ganhas tu", e fazem estas estratégias. Esta é uma das partes do mistério. Agora, porque é que me seleccionaram sempre para fora, a mim, eu? Não sei. Eles pertencem a gangs pequenos, uns com os outros e eu não pertenço a nenhum gang.
Margarida Cordeiro, em entrevista dividida em três partes (1, 2 e 3), lida no blogue António Reis. (O carregado é meu.)
É angustiante ler a Margarida Cordeiro a falar da impossibilidade de fazer o "Pedro Páramo", mesmo que esteja lá uma dose de teimosia, rejeitando fazer o filme sem o subsídio (porque, eu, acredito que ela o conseguiria fazer). Mas, neste caso, a sua teimosia é mais do que justa, anos e anos a apresentar o projecto com fundos de países europeus e os financiadores sempre a garantirem que ela não fizesse o filme. Está mais do que visto, ela refugiou-se, não conviveu, foi excluida. Acontece a todos os que não querem fazer parte do meio que vai desde os cineastas dados ao convívio, aos jornalistas de cinema, e até aos filhos da puta que têm o dinheiro.
posted by Daniel Pereira at 10:37 PM
3 Comments:
É isso e o amiguismo literário neste país, com os mesmos a dizerem SEMPRE bem dos livros uns dos outros; já não há paciência.
Ela tem razão (infelizmente).
Não é só em Portugal que se faz cinema através de cunhas, receio. Lá fora, mesmo em Hollywood, para dar um exemplo extremo, se queres fazer parte de uma certa "nata", conviveres com os melhores, fazeres filmes série A, também é através das malfadadas cunhas ou vamos antes chamar "conhecimentos", que é uma palavra mais educada.
Como um ex-membro da equipa de filmagens dos Monty Python me disse uma vez: "Tu não pagas a uma escola de cinema para teres um canudo e enviares currículos e projectos para ver se te aceitam; isto não é um tipo de vida normal, trabalhar no cinema, não é como concorrer a um secretariado, a um banco... Tu andas lá para fazer amigos, conhecidos, contactos, mais e mais... para seres visto... para se lembrarem de ti e fazeres filmes... para tentares chegar o mais longe possível."
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