Monday, January 29, 2007

Monty Brogan é Nova Iorque





A 11 de Setembro de 2001, Spike Lee encontrava-se em Los Angeles a negociar com Arnold Schwarzenegger o papel de Max Schelling para um filme que o nova-iorquino queria fazer sobre o boxeur alemão “oficial do III Reich”. Rapidamente, Lee saiu de Los Angeles; apanhou o primeiro comboio que pôde para regressar à sua Nova Iorque – ele queria estar lá. Decidiu, então, entregar-se a outro projecto: a adaptação do romance 25th Hour, de David Benioff, onde se acompanha o último dia em liberdade de Monty Brogan, condenado a 7 anos de prisão por tráfico de droga.


Facilmente se fala na sequência do “Fuck You” – é aquilo que fica, sem dúvida. Mas, por vezes, sem se tentar perceber porque é que ela é, de facto, a chave de “25th Hour” (2002). Monty vê-se ao espelho e tenta transferir a sua culpa para os outros, neste caso quase todas as comunidades da cidade de Nova Iorque. É a América a transferir a sua culpa para o resto do mundo, mantendo uma atitude solitária. Reparem como a música do Terence Blanchard tem uma subida dramática aquando do “Fuck Osama Bin Laden…” – afinal, Bin Laden é o elemento máximo culpabilizado pelos americanos. Lee, consciencioso, não deixa porém de ver os dois lados e termina a sequência com Monty a admitir a própria culpa. Ele vai ter que acarretar com as responsabilidades de ter traficado droga, assim como a América sofreu em Nova Iorque as consequências de certos actos.

Há ainda outra sequência muito importante (não consegui imagens): quando Jake e Slaughtery, os melhores amigos de Monty, falam dele à janela do apartamento de Slaughtery. O scope permite enquadrar os dois personagens nas extremidades do enquadramento enquanto que no meio podemos visualizar o Ground Zero devido ao ligeiro contra-picado. No diálogo entre as personagens Slaughtery diz: “I love him like a brother but he fucking deserves it”. Ou Lee a evidenciar todo o seu amor por um país que também sabe pôr em causa. A sequência termina com Slaughtery a prever um futuro muito negro a Monty – Lee acentua o contra-picado com um ligeiro travelling e agora temos o Ground Zero em destaque no enquadramento – corta para imagens documentais da limpeza que se fez ao sítio durante muito tempo depois dos ataques terroristas.

2 Comments:

Blogger Miguel Domingues said...

E tudo isso pode ser relacionado com o climax do filme, a sequência em que Monty é espancado pela personagem de Barry Pepper. Na auto-punição ecoa uma punição colectiva.

10:28 PM  
Blogger Daniel Pereira said...

Muito bem observado.

1:30 AM  

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