Se há algo em comum - e que fascina - nos últimos dois filmes da Pixar - "Wall-e" e "Up" - são, à falta de melhor termo, as suas introduções. Em "Up", visto recentemente, são onze minutos - de cinema mudo. Mas em "Up", para além da introdução, há mais uns minutos que completam aquilo que poderia ser uma primeira parte. Não me alongando a explicar que estes dois filmes da Pixar não serão nunca obras-primas porque, inseridas num sistema de produção que obedece ao mercado, após as introduções, os filmes começam a obedecer a uma estrutura de argumento pouco desafiante para o espectador (mas atenção: a sinceridade com que se filmam os sentimentos em ambos os casos está lá e - caio no lugar-comum - superam muitos, mas mesmo muitos, filmes de imagem real contemporâneos), devo dizer que a primeira parte de "Up" está entre as melhores coisas que vi nos últimos anos (a quantidade de realizadores que tem tanto a aprender com a cena, magnífica, em que se sabe que a mulher não poderá ter filhos). Se "Up" fosse somente essa curta-metragem, seria, não obstante a belíssima história de amor entre um homem e uma mulher que estão destinados a viver juntos esse amor e essa felicidade durante toda uma vida, um filme tremendamente pessimista, apesar de nele vermos um milagre. A casa de uma vida agora rodeada por edifícios "modernos", consequência do "progresso", e que o velho só pode manter fugindo, enchendo a casa de balões de hélio e soltando-os, arrancando a casa do solo para uma viagem pelos céus. Há um filme de Vitorio De Sica, "Miracolo a Milano", que conta mais ou menos a mesma história: apesar da bondade de um grupo de personagens, e da esperança que da bondade pode nascer, o milagre que se dá - também no filme de De Sica, um voo pelos céus - é resultado de um profundo pessimismo: no mundo moderno e do progresso, o milagre dá-se, mas é um milagre necessário o de partir para outro lado; no mundo moderno e do progresso não há lugar para esses que têm de partir.